‘Lembro que essa candidatura não foi levada a sério’, diz prefeito de Mundo Novo

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Foto: Cayo Cruz

Nunca nem ter sido vereador, Valdomiro Sobrinho já foi reeleito prefeito de Mundo Novo e quer torna-lá uma cidade turística

Prefeito mais irreverente de Mato Grosso do Sul, Valdomiro Sobrinho (PSDB) já foi radialista e trabalhou com grandes nomes da comunicação, como o apresentador Ratinho e o narrador Galvão Bueno. Em segundo mandato, Valdomiro diz que um dos feitos realizados foi tornar o município uma cidade “segura e de paz”, mesmo sendo divisa com o Paraná e fronteira com o Paraguai.

Por ser às margens do rio Paraná, ele almeja que Mundo Novo passe a ser reconhecida como uma cidade turística, pelo turismo da pesca e de compras. “Essa ponte tem 3.600 m² de extensão e é a segunda maior ponte fluvial da América Latina. Fazemos fronteira com a cidade paraguaia de Salto del Guairá, onde existe um grande centro de compras de livre comércio. Então, nós somos um ponto turístico. Do lado de lá, é Guaíra, uma cidade histórica de 500 anos e do outro lado, Salto del Guairá, com comércio em expansão”, afirma.

Mundo Novo é um dos 13 municípios de MS que recebem royalties da Itaipu Binacional. Os recursos são superiores a R$ 5 milhões. Em visita ao jornal O Estado, Valdomiro diz que estes são valores para investimentos em infraestrutura e meio ambiente, voltado à preservação das margens do rio Paraná.

“A gente recebe pouco, talvez o menor valor entre os municípios, mas, por conta da inundação que tivemos e de várias áreas submersas com a construção, esse valor é repassado como se fosse um pedágio. Nós pedimos que cuidem das curvas de nível, reparem as estradas ao entorno do rio e ajudem na manutenção. Afinal de contas, eles utilizam aquela fonte”, garante.

No campo político, o prefeito enfatiza a implementação de emenda parlamentar aos vereadores para poder aplicar recursos em diversas áreas. “A minha relação com a Câmara é excelente. Sempre procuramos o diálogo, em todos os assuntos. Temos a maioria dos vereadores na base, são entre 6 e 7 vereadores conosco para discutir os investimentos. Então, trabalhamos numa paz absoluta e harmonia. A relação é real, é verdadeira e não tem falsidade”, frisa. Valdomiro se prepara lançar sucessor, o nome escolhido é o da vice- -prefeita Rosária de Fátima.

O Estado: Ouve-se falar que o senhor tem uma forma diferente de atuar. Como seria

Valdomiro Sobrinho: Nosso gabinete não tem porta. É acesso livre e atende as pessoas, todos os dias. Nós também implementamos a emenda parlamentar para os vereadores de Mundo Novo. Isso foi criado no nosso governo, para que o parlamentar aplique recursos em setores que é demandado pela população. Assim, seguimos o exemplo de deputados estaduais, federais e senadores.

O Estado: Como foi a trajetória até chegar a ser prefeito?

Valdomiro Sobrinho: Eu fui eleito em 2016, com uma margem de 1.646 votos de diferença do segundo colocado, que era do PT e tinha governado o município por 14 anos. Passaram-se os quatro anos, e fomos para novo embate. Na disputa de 2020, eu concorri com o ex-prefeito do PT (Humberto Amaducci), que tinha sido eleito por três vezes na cidade, e com um ex-prefeito do MDB (Toninho), que havia sido eleito uma vez.

Ficamos em quatro postulantes e, dessa vez, a diferença do primeiro para o segundo, no caso, para mim, foi de 1.643. Então, a diferença de uma eleição para outra foi de apenas três votos. Fizemos uma campanha limpa, sem gastar dinheiro, até porque não tenho posses e moro de aluguel. A minha gestão é feita unicamente pelo trabalho pela cidade.

O Estado: O senhor era comunicador antes de entrar na vida política?

Valdomiro Sobrinho: É bom demais poder contribuir. Eu sou um agente social, faço rádio há 44 anos, sempre focando no campo social. Faço televisão há seis anos. Já fiz televisão em Curitiba-PR, já trabalhei com o Ratinho do SBT, já trabalhei também com o Galvão Bueno, entre os anos de 1992 e 1994, trabalhei na CNT, na Gazeta. Sabe, eu já fui diretor da Rádio Eldorado, do Paraná, que era propriedade do Ratinho. Na terça, quarta e quinta eu fazia um programa. Eu tinha os repórteres e nas segundas e sextas eu fazia reportagem, porque era o dia em que o Ratinho apresentava o programa. Na época, ele era deputado federal.

Depois, eu vim para o Mato Grosso do Sul, fui morar em Mundo Novo e comecei a trabalhar como assessor da prefeitura. Era uma função que eu também já havia feito. Fui assessor de comunicação do Zé Carlos, da Celina, do Toninho, Humberto. Enfim, tenho bagagem na comunicação. Mas alguma coisa me dizia que eu podia contribuir mais.

O Estado: E como foi parar na política?

Valdomiro Sobrinho: Eu disputei o cargo de deputado estadual pelo Paraná em 1990, pelo PSDB, na cidade de Terra Roxa. Em 1992, o cargo de vereador em Guaíra, pelo PMN. Em 1996, já em Mundo Novo, eu disputei o cargo de vereador, pelo MDB. Aí, em 2000, perdi as prévias do PT de Mundo Novo, que indicou Humberto Amaducci para candidato a prefeito. Eu voltei a disputar uma eleição apenas em 2016, pelo PL, quando fui eleito prefeito. Eu lembro que essa candidatura não foi levada a sério pela nata da cidade, mas foi levada a sério pelo povo.

A grande massa falou: ‘nós queremos esse cara’. E eu fazia muitas ações sociais. Se uma casa pegava fogo, a gente refazia essa casa; se faltava gás, a gente comprava; se cortavam a luz, a gente pagava a conta. Claro, que sempre contei com a ajuda de parceiros, para nos auxiliar. A gente sempre pedia ajuda para a população e assim fomos criando esse aspecto social, na cidade. No fim, acabou dando certo. Em 2020, já no PSDB, fui reeleito. Foram duas eleições, duas vitórias consecutivas e sigo trabalhando tranquilo.

O Estado: Como é a sua relação com a Câmara e partidos de oposição?

Valdomiro Sobrinho: Olha, a minha relação com a Câmara é excelente. Sempre procuramos o diálogo em todos os assuntos. Temos a maioria dos vereadores na base, são entre 6 e 7 vereadores conosco, para discutir os investimentos. Então, a gente trabalha numa paz absoluta e em harmonia. A relação é real, é verdadeira e não tem falsidade. Não tenho rixa com nenhum partido político. Eu sou quase que apartidário. Eu estou no PSDB, mas não sou aprofundado nessa questão de partido.

O meu partido é o PSDB, mas eu respeito o MDB, respeito o PT, que governou 14 anos a cidade e a gente tem um círculo de amizade muito grande. Só para ter uma noção, no período em que o MDB administrava a cidade, existia o lado azul, que era o MDB, e o lado vermelho, que era o PT.

As pessoas não sentavam na mesma mesa de forma alguma, não andavam no mesmo carro. Existia uma rixa, uma guerra política na cidade. Hoje, acabamos com isso. Nós estamos focados no administrativo. A questão político-partidária, ela tem o seu espaço, que é de julho a outubro, e só no ano que tem eleição.

O Estado: Como está a articulação para as eleições de 2024? Quem o senhor vai apoiar para ser candidato?

Valdomiro Sobrinho: Estamos fazendo um governo composto por um conjunto administrativo. Não é o prefeito que dá sorte, o prefeito que manda, que tem autoritarismo, muito pelo contrário. Nossa vice-prefeita, Rosária de Fátima Ivantes Lucca Andrade, é quem está sendo preparada para me substituir. Ela tem autonomia tanto quanto eu.

Ela trabalha numa sala ao lado do meu gabinete. Ali, ela despacha as reuniões do campo social, educacional e no campo da saúde. Ela capitaneia tudo, para facilitar o meu trabalho social. Sou mais de visitar as obras, visitar o campo. Então, o grosso eu faço. Agora, da burocracia, propriamente, quem cuida é ela.

O Estado: Como é a sua equipe de gestão?

Valdomiro Sobrinho: Temos 12 secretários que compõem o conjunto administrativo. Então, temos o prefeito, a vice, e os 12 secretários com autonomia absoluta. Cada um na sua pasta, para comandar, definir investimentos e tomar decisões. Nós temos esse conjunto administrativo, mais a base do parlamento, que nos ajuda a governar.

O Estado: Mundo Novo é um município de fronteira. Como é o enfrentamento à violência

Valdomiro Sobrinho: Não é uma cidade violenta. Já houve episódios de violência e situações de alto teor de desconforto, crimes como tráfico de drogas e de armas, até por ser uma cidade de fronteira seca com o Paraguai. Mas a nossa segurança pública é atuante. Somos uma cidade pequena, com pouco menos de 20 mil habitantes. Todos se conhecem, então existe um respeito absoluto.

Claro que existem ocorrências de roubos, furtos pequenos e, por ser uma área de fronteira, vemos muita gente que vem de fora, às vezes algum morador de rua, alguns delitos, mas realmente são coisas simples, coisas pequenas. Não quero fazer comparações, mas temos o exemplo de Ponta Porã, onde existem altos números de homicídio. A cidade de Mundo Novo é segura e de paz.

O Estado: Como está a infraestrutura da cidade?

Valdomiro Sobrinho: Somos ligados ao Paraná. Do lado de lá, fica a cidade de Guaíra. Somos interligados por rodovia federal, a Ponte Ayrton Senna, que fica sobre o rio Paraná. Essa ponte tem 3.600 m² de extensão e é a segunda maior ponte fluvial da América Latina. Fazemos fronteira com a cidade paraguaia de Salto del Guairá, onde existe um grande centro de compras de livre comércio. Então, nós somos um ponto turístico. Do lado de lá, é Guaíra, uma cidade histórica de 500 anos e. do outro lado, Salto del Guairá, com comércio em expansão.

Então, nós vivemos comumente no campo político, desses dois lugares. Temos uma participação dentro da Itaipu Binacional e recebemos royalties. A gente recebe pouco, talvez o menor valor entre os municípios, mas. por conta da inundação que tivemos e várias áreas submersas com a construção, esse valor é repassado como se fosse um pedágio. A Itaipu tem cuidado de 14 municípios do sul do Estado, os chamados Vale do Ivinhema. E nós, de Mundo Novo, contribuímos com várias ideias em relação ao meio ambiente. Uma delas diz respeito ao rio Paraná e seus afluentes, rio Amambaí, rio Iguatemi, enfim da nossa região sul, que tudo deságua no Paraná.

Nós pedimos que cuidem das curvas de nível, reparem as estradas ao entorno do rio e ajudem na manutenção. Afinal de contas, eles utilizam aquela fonte. Também podemos citar as trocas que fizemos na iluminação pública, com lâmpadas de LED, a construção de poços artesianos e estamos terminando o sexto, a fim de melhorar o abastecimento de água da cidade e a pavimentação de cerca de 35 km de estrada estadual, em parceria com o Governo do Estado.

O Estado: Sobre a Rota Bioceânica, qual a influência dela para Mundo Novo?

Valdomiro Sobrinho: É algo magnífico, esplendoroso e que vem para carimbar o Mato Grosso do Sul. É uma rota interessantíssima, que vai ligar oceanos. Vai desde a região de Porto Murtinho, Jardim, aquela região toda lá e cresce de forma absurda. Vemos que há quase 400 caminhões por dia descarregando em Porto Murtinho. O Paraguai já está bem adiantado, a ponte de lá para cá já está num patamar elevadíssimo. A obra vai transformar nossa produtividade em velocidade, em economia, porque vsi sair de Maracaju, estendendo até Paranaguá, por via férrea. Estou muito feliz com as coisas que têm acontecido nessa obra, que é um benefício para as futuras gerações.

O Estado: O senhor comentou que os agricultores têm incentivo. Poderia explicar melhor?

Valdomiro Sobrinho: Nós incentivamos a agricultura, o pequeno e o médio. Todos eles passam pelo crivo da prefeitura, que faz as curvas de nível, prepara o solo. A gente constrói tanques de peixes, já que a cidade é a segunda maior lâmina água do Estado e temos um frigorífico de peixe.

Nós cuidamos muito da agricultura familiar. Temos um assentamento, ao lado da BR-163, e isso favorece essa assistência. Não queremos promover ‘assistencialismo’, mas, em uma cidade pequena e que, muitas vezes, falta emprego, o poder Executivo tem que ter criatividade, para gerar emprego e renda.

Por Rayani Santa Cruz e Rafaela Alves

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