Jornalistas denunciam aumento de ataques à imprensa durante governo Bolsonaro

Foto: Pedro França/Agência Senado
Foto: Pedro França/Agência Senado

As mortes do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira estão gerando revolta no Brasil e em diversas partes do mundo, revelando um período de crescentes ataques a jornalistas e à democracia. Esse cenário foi apontado por participantes da audiência pública promovida ontem (15) pela CDH (Comissão de Direitos Humanos do Senado).

A reunião teve diversos momento de homenagens a Philips e Pereira, com solidariedade a profissionais da imprensa que foram vítimas de ataques. Senadores, jornalistas e outros convidados disseram que o presidente da república Jair Bolsonaro (PL) estimula a desinformação, violência e hostilidade contra a imprensa. Os participantes ainda falaram que não existe democracia sem uma imprensa livre.

“Nós jornalistas estamos sob ataque – isso é evidente -, mas a gente precisa entender por que somos o alvo. A imprensa é atacada porque ela faz parte justamente da infraestrutura da democracia. Portanto, quem está sob ataque não é apenas um jornal ou uma profissional: o que está sob ataque é a democracia”, apontou o jornalista Jamil Chade.

O jornalista Sylvio Costa, fundador do Congresso em Foco, relatou diversas ameaças de estupro e de morte a profissionais do veículo, após divulgação de reportagens com críticas ao atual governo.

“É uma situação grave que abalou profundamente nossos profissionais e suas famílias, mas não é um fato isolado. Além de vários outros que estão acontecendo com tantos colegas do país, aos quais evidentemente nós somos completamente solidários, o Congresso em Foco e sua equipe têm passado por inúmeros constrangimentos desde o início do Governo Bolsonaro”, ressaltou.

Outra vítima de ataque do presidente Bolsonaro, a jornalista Patrícia Campos Melo, do jornal Folha de São Paulo, indicou que o papel da imprensa é de informar. Ela foi alvo de represálias após a publicação de reportagem sobre um esquema irregular de disparo de mensagens via aplicativo durante as eleições de 2018. Jornalistas mulheres como Patrícia são as principais vítimas de ataques segundo os participantes da audiência.

“Liberdade de imprensa é o direito das pessoas se informarem. Jornalistas não estão fazendo oposição. A gente vai trabalhar, apurar direito e ter acesso aos fatos, mas para trabalhar a gente vai precisar de segurança. Hoje, existe um ecossistema paralelo de informações. Eles fazem uma versão distorcida da realidade”, disse.

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Octávio Costa, disse ser necessário avançar nas denúncias contra a articulação de um possível golpe caso Bolsonaro não seja reeleito.

Então, mais do que pensar no que a imprensa vai fazer se houver o golpe, nós estamos preocupados em denunciar já essa orquestração. Não vamos admitir a orquestração. Não é o golpe, não: é a orquestração e esse tipo de articulação. Então, o Brasil não vai admitir uma virada de mesa porque militares e gente que cerca Bolsonaro não vão admitir o resultado”, apontou.

Aumento da violência

Autor do pedido da audiência convocada para discutir “os ataques à liberdade de imprensa e os riscos da atividade jornalística e da livre expressão no Brasil”, o presidente da CDH, senador Humberto Costa (PT-PE) destacou o aumento de casos de violência contra profissionais de imprensa desde as eleições de 2018 e afirmou que a profissão de jornalista é hoje de “altíssimo risco” no Brasil.

“Essa é uma demonstração de que a profissão de jornalista no Brasil está se tornando um ofício de altíssimo risco. O aumento dessas agressões, de ameaças, de violências em si pode ser claramente identificado a partir das eleições de 2018, quando tivemos ânimos muito acirrados entre boa parte dos eleitores. E esse quadro só veio a piorar com a eleição de Bolsonaro, que inclusive se utiliza dos espaços institucionais da Presidência da República para promover ataques diretos contra órgãos de imprensa, contra jornalistas, contra profissionais do jornalismo”, afirmou Humberto.

O aumento dos casos de hostilidade e violência contra jornalistas é confirmado por dados apresentados por Natalia Mazotte, presidente da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo); por Maria José Braga, presidente da FENAJ  (Federação Nacional dos Jornalistas) e por Bia Barbosa, coordenadora da RSF (Incidência da Repórteres sem Fronteiras) para América Latina.

De acordo com o RSF, o Brasil ocupa atualmente a 110 ª posição no ranking mundial de liberdade de imprensa entre 181 países e é o 2º local mais letal para jornalistas no continente, atrás apenas do México. Foram ao menos 30 assassinatos de profissionais na última década. Apenas no primeiro semestre de 2021 foram registrados 330 ataques de acordo com a RSF, um aumento de 74% em relação ao ano anterior. Segundo Bia Barbosa, os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e autoridades próximas corroboram com este aumento.

“Eu queria destacar o mapeamento que o Repórteres sem Fronteiras faz dos ataques do que a gente chama de Sistema Bolsonaro, que envolve o presidente, os seus filhos, ministros e apoiadores mais diretos. Para vocês terem uma ideia, durante três meses do ano passado, em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, nós monitoramos hashtags de hostilidade de ataques a jornalistas e comunicadores numa rede social e, somente em três meses, a gente coletou mais de meio milhão de postagens atacando a imprensa”, denunciou Bia Barbosa.

Para a senadora Zenaide Maia (PROS-RN), a audiência evidenciou a necessidade de ampliar os espaços de denúncia de ataques contra a imprensa e a democracia.

“Então, a gente não pode, não vamos nos intimidar. Acho que precisamos ir para rua para mostrar que a gente tem que defender a democracia. E não existe democracia sem liberdade de imprensa. Sem liberdade de imprensa, não tem democracia, porque as pessoas não são empoderadas com conhecimento e com informações”, avaliou.

Com informações da Agência Senado.

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