Embate na Câmara Municipal expõe desrespeito à cultura e revela contradições políticas

Foto: Izaias Medeiros
Foto: Izaias Medeiros

Na tarde da última quinta-feira (14), a Câmara Municipal de Campo Grande foi palco de um embate entre o vereador Tiago Vargas, do Partido Social Democrático (PSD), e representantes da cultura local. A sessão ordinária foi interrompida por meia hora devido à tensão gerada durante o confronto.

O motivo da manifestação, que reuniu membros do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro, incluindo a presidente Romilda Neto Pizani, foi a busca por maiores investimentos para o setor cultural, que, segundo Pizani, está defasado há dois anos. O grupo se concentrou inicialmente em frente à Casa de Leis, exibindo cartazes e reivindicando a atenção dos vereadores para a causa.

Ana Maria Schneider, Licenciada em Música e vocalista da banda”Vozmecê”, esteve presente na manifestação e expressou sua indignação com o comportamento do vereador Tiago Vargas. Segundo ela, a intenção da presença na Câmara era discutir o financiamento cultural, que estava estagnado nos últimos anos. Ana Maria relatou que a resposta dos vereadores foi positiva até o momento em que Tiago Vargas assumiu o microfone.

Ela descreveu atitudes sarcásticas do vereador, que exibiu a carteira de trabalho, riu da cara dos manifestantes e fez gestos irônicos. Ana Maria denunciou que o vereador chegou ao ponto de ridicularizar uma das artistas presentes, sugerindo que ela deveria depilar as axilas. Além disso, ele postou uma ofensa contra a mesma artista em suas redes sociais.

“Como artista, eu me senti totalmente desrespeitada, pois ele é uma figura pública e política, influenciando diversas pessoas. E se uma pessoa dessas deslegitima esse tipo de discurso, eu realmente estou vivendo numa sociedade onde não tenho aval nem na Casa de Leis que deveria ser a Câmara, nem fora dela com a população, que muitas vezes vai de encontro com o pensamento desse homem e fomenta essa ignorância. E a partir dessa fomentação na área cultural, isso me afeta totalmente, dificultando muito mais o nosso trabalho ser visualizado e respeitado, porque a gente já não é respeitado pela sociedade, e ele falando isso só piora.”

Ana Maria enfatizou a atitude discriminatória de Tiago Vargas, que deslegitimou o trabalho dos artistas, sugerindo que deveriam procurar emprego. Ela destacou a importância da cultura como uma função vital na sociedade e ressaltou a gravidade de um representante público desvalorizar a classe artística, afirmando que isso afeta não apenas o presente, mas também o futuro da cultura na região.

“Eu me sinto completamente injustiçada; isso explica muito o que sinto, porque a gente passa por muitas dificuldades na carreira cultural. Trabalhamos muito, criamos projetos, fazemos de tudo o que é possível na nossa área, e discursos como esse deslegitimam todo o tempo que a gente passa se dedicando a esse ofício. Esse discurso ignora tantos anos de estudo, anos de atuação, não só meu, mas de toda uma classe, os que começaram agora, os que já tem um tempo na área e os que já estão há anos.”

Contradições e Conflito de Interesses

A situação ganha contornos ainda mais complexos ao ser revelado que Tiago Vargas tem uma irmã nomeada na Secretaria de Cultura de Campo Grande. A servidora comissionada, ocupando o cargo de assessora-executiva II, foi admitida em 4 de março de 2021 conforme apurado pelo portal de notícias Midiamax. Em outubro, a remuneração da irmã do vereador foi de R$ 9.945,13, ultrapassando os R$ 6 mil após descontos segundo o MidiaMax.

Este dado levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse e alegações de nepotismo. A remuneração oficial da servidora é de R$ 9.567,09, e a existência de parentesco direto com um membro da Câmara Municipal levanta preocupações sobre a imparcialidade nas decisões relacionadas à cultura do deputado.

A carteira de trabalho de Tiago, à qual o vereador faz referência como mérito de seus trabalhos, revela uma trajetória profissional marcada por controvérsias. O histórico de empregos do vereador, evidenciado em sua carteira de trabalho, demonstra que, entre os anos de 2010 e 2011, Tiago Vargas teve apenas três trabalhos registrados. Em todos esses casos, sua permanência foi limitada a apenas um mês, e a última ocorrência datou há mais de 13 anos.

Além disso, é relevante ressaltar que o vereador Tiago Vargas foi expulso da Polícia Civil e possui uma condenação inequívoca em seu histórico. Conforme publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), a demissão do investigador de Polícia Judiciária Tiago Henrique Vargas foi oficializada por meio da Resolução “P” Sejusp-MS n° 343/2020. A decisão foi assinada pelo secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira.

O embate na Câmara Municipal não só evidenciou a falta de apoio à cultura como também colocou em cheque a postura ética de Tiago Vargas diante das demandas da sociedade que representa. Resta agora acompanhar como as autoridades competentes lidarão com as denúncias e se medidas serão tomadas em relação às possíveis irregularidades apontadas.

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