Brics cobra países ricos por financiamento climático e defende multilateralismo em cúpula no Rio

Foto: Ricardo Stuckert/PR
Foto: Ricardo Stuckert/PR

No último dia da cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (7), os líderes do grupo abordaram os desafios da mudança climática, reforçando a cobrança por financiamento dos países ricos para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa. A declaração marca o encerramento de um encontro que também evidenciou o desejo do bloco por uma nova ordem mundial mais equilibrada e inclusiva.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anfitrião da cúpula, destacou o papel central do Sul Global no combate ao aquecimento global e lembrou que o país se prepara para sediar, em novembro, a próxima cúpula climática das Nações Unidas (COP30).

Apesar do tom de urgência ambiental, os líderes do Brics afirmaram em comunicado conjunto divulgado no domingo (6) que os combustíveis fósseis ainda terão papel relevante nas matrizes energéticas de países em desenvolvimento. A declaração gerou questionamentos, especialmente diante do plano brasileiro de explorar petróleo na costa amazônica — tema sobre o qual a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comentou: “Vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superá-las”.

Fundo para proteção de florestas

Durante o encontro, os Brics manifestaram apoio ao fundo proposto pelo Brasil, o Tropical Forests Forever Facility, voltado à proteção de florestas tropicais ameaçadas. A ideia é que o mecanismo complemente as obrigações já previstas no Acordo de Paris e ofereça às economias emergentes uma forma de financiar ações climáticas. Segundo fontes da agência Reuters, China e Emirados Árabes Unidos sinalizaram interesse em investir no fundo durante reuniões com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O comunicado final também critica políticas ambientais da União Europeia, como os impostos de fronteira sobre carbono e as novas leis antidesmatamento, classificadas como “medidas protecionistas discriminatórias” travestidas de preocupações ecológicas.

Defesa do multilateralismo

Além da pauta ambiental, a cúpula reafirmou o compromisso do Brics com o multilateralismo, em contraste com a atual estrutura de poder global. Na abertura do evento, Lula comparou o grupo ao Movimento Não-Alinhado da Guerra Fria e alertou para os riscos de uma ordem mundial polarizada. “Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque”, declarou.

Os líderes criticaram, ainda que de forma indireta, a política militar e comercial dos Estados Unidos e pressionaram por reformas nas instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU. No entanto, o bloco não chegou a um consenso sobre os novos membros do conselho. Apenas China e Rússia defenderam a inclusão de Brasil e Índia.

A cúpula também abordou as crises geopolíticas, com menções críticas aos ataques militares no Irã e na Faixa de Gaza, embora sem uma posição unificada.

Brics em expansão

Esta foi a primeira cúpula a contar com a Indonésia como membro, ampliando para 11 o número de países no grupo, que já inclui África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã e Rússia. Juntos, os Brics representam cerca de 40% da produção econômica global.

O Brasil ocupa atualmente a presidência rotativa do bloco, com foco em dois eixos principais: a reforma da governança global e a cooperação entre países do Sul Global.

Apesar da presença de nomes como o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, a cúpula teve peso político reduzido com a ausência do presidente da China, Xi Jinping, que foi representado pelo premiê Li Qiang. Ainda assim, o encontro reafirmou a relevância estratégica do Brics em um mundo cada vez mais multipolar.

 

Com informações do SBT News

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