Depoimento de Delgatti e revelações sobre joias ampliam cenário de incertezas
Em um clima político cada vez mais tenso, os deputados bolsonaristas Marcos Pollon (PL), Rodolfo Nogueira (PL) e Dr. Luiz Ovando (PP), membros da bancada federal, estão um tanto receosos sobre a possibilidade de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em um depoimento na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) de 8 de Janeiro, o hacker Walter Delgatti alegou ter sido recrutado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para se encontrar com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em agosto do ano passado. Delgatti alegou que recebeu dinheiro de Zambelli e que Bolsonaro teria proposto a violação das urnas eletrônicas, prometendo indulto em caso de prisão.
Ainda assim, os parlamentares bolsonaristas descredibilizaram o depoimento de Delgatti e contestaram as acusações. Questionado pelo jornal O Estado, se havia chances de Bolsonaro ser preso, o deputado Marcos Pollon foi sucinto e disse “sim”. Sobre qual seria o peso da prisão politicamente, o parlamentar afirma que se houver, “quem perde é o Brasil”.
Já o deputado Rodolfo Nogueira afirma que o depoimento de Delgatti é falho. “Falar, até papagaio fala. As inconsistências nos depoimentos falam por si só. Um cidadão que a cada momento muda sua versão da história não merece credibilidade alguma”, disse Nogueira, que continuou a afirmar que fora uma armação para incriminar. “O que houve na CPMI foi um teatro armado para tentar incriminar o [ex-] presidente Bolsonaro. Não poderíamos esperar nada menos de alguém que votou e fez campanha para o descondenado Lula.”
O deputado Dr. Luiz Ovando (PP), ligado ao ex-presidente, não deu retorno ao ser questionado.
No entanto, vozes da base governista têm uma visão diferente. Os deputados Camila Jara e Vander Loubet, do PT (Partido dos Trabalhadores), veem as acusações com seriedade. “Um dia histórico para a democracia brasileira”, destacou Jara. “Os golpistas não queriam CPMI, pois tomem CPMI! Bolsonaro vai ser Carlos Petrocilo Folhapress Numa tentativa de reconstrução após o desempenho pífio nas eleições de 2022, o PSDB apresentará suas novas diretrizes em evento na quinta-feira (24), com a presença dos governadores Eduardo Leite (RS), Eduardo Riedel (MS) e Raquel Lyra (PE), em Brasília. No seminário, Leite, presidente do partido, vai expor o processo de renovação feito a partir de coleta de opiniões da população sobre o partido e entrevistas qualitativas com lideranças eleitas. Também será mostrado um exame de registros históricos da legenda. “Nossas bandeiras precisam representar o povo brasileiro. Só quem está equidistante dos polos de direita e esquerda é que consegue enxergar os que os dois lados têm de bom a oferecer”, diz o governador gaúcho. Segundo o partido, a redação final das diretrizes partidárias permanecerá aberta a contribuições adicionais. Partido PSDB fará seminário nacional para apresentar repaginação preso”, disse, no Twitter.
O coordenador da bancada, Vander Loubet, destaca que há a possibilidade de prisão por conta da quantidade de investigações em curso. “Temos uma série de investigações em andamento, por causa das atitudes do ex-presidente durante a pandemia, durante as eleições e durante a tentativa de golpe de 8 de janeiro. E, a cada dia, essas investigações estão se aprofundando e vão surgindo novos indícios e provas de práticas criminosas. Então, é natural que essa possibilidade aumente a cada nova descoberta.”
Para o petista, diante do depoimento do hacker, o país corria risco de um golpe. “Não tenho dúvida de que esse risco existia. E a tentativa de golpe só não deu certo porque nossas instituições – ou, pelo menos, a maior parte delas – estava funcionando e comprometida com a manutenção da democracia e do Estado democrático de Direito. Infelizmente, houve, sim, setores das nossas instituições que demonstraram estar contaminados por essa ideia de golpe, por isso é fundamental que essas pessoas sejam investigadas, julgadas e punidas”.
Ao jornal O Estado, o deputado Dagoberto Nogueira (PSDB) afirmou que acredita na prisão, em breve, do ex-presidente. “Não tenho dúvidas [de que será preso,] diante de tudo isso que está aparecendo. As pessoas estão vendo agora quem é ele. Ele já deveria estar preso. Por muito menos, por conta daquele apartamento que não está no nome do Lula, ele foi preso. Agora imagine [o caso dele,] com provas e depoimentos. É uma coisa insustentável. Não vejo outra saída, a não ser ele ser preso”, disse Dagoberto.
Recuo de Cid
Além das alegações de Delgatti, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid havia dito, por meio da defesa, na quinta-feira, que iria fazer delação premiada, porém, na tarde de ontem (18), o advogado recuou da decisão e isso trouxe à tona uma nova onda de incertezas. Inicialmente, Cid disse que iria revelar informações sobre uma operação de venda e recompra de joias, presenteadas por governos estrangeiros ao Estado brasileiro. Segundo as alegações, Bolsonaro teria se beneficiado financeiramente com a transação.
A senadora Soraya Thronicke (Podemos) disse, no Twitter, que achava “no mínimo estranho o recuo do advogado de Mauro Cid, mesmo após o áudio da revista ‘Veja’” e divulgação da delação em que o cliente iria confessar acerca das joias. Para a parlamentar, os envolvidos podem estar sofrendo ameaças. “Na CPMI, tenho feito e refeito alertas sobre depoentes estarem sendo ameaçados, direta ou indiretamente”.
Os parlamentares da base governista argumentam que se as acusações de Delgatti e as revelações de Cid forem verdadeiras, o cerco em torno de Bolsonaro pode se fechar rapidamente
O ministro Alexandre de Moraes já tomou medidas drásticas, decretando a quebra do sigilo bancário de Jair Bolsonaro e de sua esposa, Michelle. Isso aumentou ainda mais a pressão sobre o ex-presidente e sua equipe legal.
Simone Tebet pede apreensão de passaporte de Bolsonaro
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse, nessa sexta-feira (18), que o cerco está se fechando contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e defendeu a apreensão de seu passaporte.
Para ela, que disputou a eleição presidencial e apoiou o presidente Lula no segundo turno, o avanço das investigações da Polícia Federal e da CPI no Senado mostram que ele era o mandante de tentativas de fraudar as urnas.
A declaração, ou desabafo, como ela chamou, ocorreu no início de seu discurso, na cerimônia de posse do economista Márcio Pochmann, na presidência do IBGE.
“O cerco se fechou contra o ex-presidente da República. Ali está claro, está apontado como autor, como mandante da tentativa de fraude às urnas eletrônicas, como tentativa de fraude à decisão sempre legítima do povo brasileiro em escolher seu sucessor, de violar atentar contra a democracia brasileira”, disse.
“Se me permitir esse desabafo, faço-o citando Ulysses Guimarães: ‘Traidor da Constituição é traidor da pátria. Temos ódio e nojo à ditadura’. Digo eu, que, a eles, o rigor da lei.”
“Não se enganem, que busquem o mais rápido possível apreender o passaporte, porque quem fugiu para não passar a faixa para um presidente legitimamente eleito pelo povo, com certeza vai querer abandonar o Brasil, para poder salvar a própria pele”, completou. A fala da ministra foi aplaudida pela plateia e pelos que estavam na mesa, como o presidente Lula (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.
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