Estudo usa plasma contra COVID-19 e cria esperança de tratamento

Se os EUA anunciaram no final de agosto que autorizaram a transfusão da parte líquida do sangue de pacientes recuperados da COVID-19 para pessoas infectadas na tentativa não apenas de curar, mas também de minimizar os efeitos do coronavírus – chamado de plasma convalescente -, Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros estados brasileiros a iniciar o estudo do procedimento no país durante a pandemia, em junho. Mas, desde então os resultados da eficácia ainda são inconclusivos, apesar dos pacientes terem tido melhoras nos sintomas da doença.

O uso do plasma para combater surtos não é uma novidade. Foi um dos principais tratamentos utilizados a pacientes com a temida gripe espanhola na crise sanitária dos anos 1910. A justificativa é a de que o plasma sanguíneo é repleto de anticorpos capazes de identificar e destruir germes invasores como o coronavírus. A terapia tem sido utilizada há muito tempo como uma maneira simples de conferir imunidade.

Com a pandemia do COVID-19 avançando de forma desenfreada, sem uma vacina ainda disponível, o uso do plasma foi sondado por especialistas como uma alternativa de cura. Desde o início da crise até agora, são 70 estudos clínicos em andamento em todo o mundo, sendo 26 deles só no Brasil. Uma delas é a de Mato Grosso do Sul.

“Os estudos continuam, mas é precipitado traçarmos uma conclusão com os trabalhos em andamento”, disse o infectologista Júlio Croda, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e do Instituto Fiocruz, que coordenou a fase local dos estudos. Ao todo, foram 80 pacientes internados em estado grave do Estado no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) e Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian) que passaram pelo tratamento, ainda em junho. Os resultados foram variáveis e na maioria dos pacientes, se não houve cura, houve melhora dos sintomas.

A reportagem pediu um parecer da Secretaria de Estado da Saúde sobre o tratamento com plasma e os estudos com os pacientes, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

Tratamento para casos graves

Segundo O Estado apurou, uma conclusão detalhada dos estudos de caso e da viabilidade do plasma dependem, ainda, de médicos e cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, Hospital das Clínicas paulista e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que atuaram em conjunto com os especialistas sul-mato-grossenses na fase inicial, mas que agora encabeçam os estudos clínicos e ainda realizam seus testes. Uma junta formada com os paulistas apontará a conclusão e o parecer, ainda sem previsão.

“O pessoal falou em cura. Nunca foi esse o objetivo direto do estudo, mas sim de utilizar o plasma para amenizar sintomas de pessoas em estado grave”, disse Fernando de Queiroz Cunha, coordenador de um centro de pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Segundo ele, o uso de plasma foi capaz de avanços, como impedir as lesões da COVID-19 em órgãos vitais do corpo, reduzindo as mortes. O resultado deve ser divulgado na próxima semana e a pesquisa foi financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

“Os resultados são claros quanto à segurança. É uma terapia segura. E há uma indicação de efetividade, principalmente se o plasma é dado nos primeiros dias da infecção. Mas não tivemos um grupo sob controle. Esses resultados podem não se confirmar em estudo randomizado”, apontou Cunha. Ele refere a estudos em que são incluídos, além dos pacientes que fazem uso da medicação em teste, doentes que recebem placebo – o chamado grupo controle. Só assim é possível comparar diretamente os resultados de quem tomou e de quem não recebeu a terapia e, então, minimizar o risco de os resultados encontrados terem ocorrido por acaso. É importante ainda que os participantes de cada grupo sejam escolhidos aleatoriamente (de forma randomizada).

Na esperança da corrida por uma cura do coronavírus, na ocasião do anúncio do uso de plasma no tratamento, houve corrida ao Hemosul para doação do material. O primeiro no país a fazer a doação foi o cantor Mariano, da dupla com Munhoz, e depois a lista foi completada com o senador Nelsinho Trad. Ambos foram contaminados com o coronavírus. Ao todo, 120 pessoas do Estado que tiveram a doença fizeram a doação. Apesar de centenário, o tratamento com plasma pode chegar a R$ 1,7 milhão para cada grupo de 30 pacientes.

Acesse a reportagem completa e outras notícias na Edição Digital do jornal O Estado MS

(Texto: Rafael Ribeiro)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *