O Ministério da Saúde teve destaque na mídia em função de uma série de situações envolvendo os dados da COVID-19. Inicialmente, nos dias 3 e 4, o balanço com os dados diários saíram por volta das 22h sem um anúncio prévio. O horário acabou sendo oficializado na sexta-feira (5) pelo presidente Jair Bolsonaro, que justificou a mudança como forma de evitar subnotificações, mas ainda assim, foi alvo de críticas por membros de outras esferas públicas.
No domingo (7), houve mudanças no site que apresentava os dados do novo coronavírus e números contraditórios foram apresentados. Em função disso, o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) lançou uma plataforma para que os dados fossem disponibilizados para o público. Os secretários do município e Estado, José Mauro, e Geraldo Resende, respectivamente, criticaram a condução da pasta federal. O ministério está sob gestão do general Eduardo Pazuello.
No domingo, o Ministério da Saúde chegou a divulgar um balanço em que o número de mortes era de 1.382 em 24 horas. Porém, horas depois, foi anunciado o número de 525 mortes, elevando o número do país para 36.455 no domingo. Somente ontem (8) a pasta informou que precisou corrigir duplicações de dados e que o número correto seria, realmente, 525 mortes. Somente os registros de Distrito Federal e Mato Grosso do Sul não precisaram passar por correção, informou a pasta.
Como resposta às ações do ministério, o Conass criou um site para a divulgação dos dados, que serão colhidos direto das secretarias estaduais. Diariamente, um balanço da situação do Brasil será divulgado às 16h (horário de MS) na plataforma, conforme Geraldo Resende. “A medida que o Ministério da Saúde tinha tomado a decisão de esconder os números do COVID no país, nós, secretários de Saúde das 27 unidades da Federação, construímos nosso painel de COVID-19”, disse ontem.
Antes, no domingo, Resende falou que a atitude de esconder dados só é adotada por governos ditatoriais. “Só em regimes totalitários, tanto de esquerda quanto de direita, é que se escondem os números de determinada epidemia. Já houve aqui um período da ditadura militar em que houve uma epidemia de meningite e o governo da época escondeu.” Para a reportagem, o secretário de Saúde da Capital avalia que a fala do empresário Carlos Wizard, até então, conselheiro no Ministério da Saúde, sobre recontagem de óbitos por suspeita de que os estados estavam inflando os dados para conseguir mais dinheiro, é uma tentativa de tirar a credibilidade dos gestores.
“Parece que a intenção não está sendo essa [de corrigir os números de mortes], parece que a intenção é colocar em xeque todo o trabalho feito pelos gestores públicos em geral, secretários, prefeitos e governadores, isso aí, para gente, só atrapalha, pois quanto mais transparência você tiver, mais a população ficará tranquila”, disse.
José Mauro Filho destacou que em uma recontagem só seria possível para rever casos em que o paciente morreu, mas não foi testado. Na prática, o número de mortos subiria ao invés de se reduzir. Ele destacou ainda que todas as mortes na Capital estão passando por testes para saber se são vítimas de COVID-19. A falta de precisão nos dados do governo federal compromete as ações contra o novo coronavírus, na avaliação de Mauro. “Os nossos dados sempre foram muito precisos e essa questão de não informar adequadamente é prejudicial para todos nós e para todas as políticas públicas que nós estamos realizando”, lamentou.
Carlos Wizard anunciou no domingo que não ia colaborar mais com o Ministério da Saúde.
(Confira mais na página A5 da versão digital do jornal impresso O Estado)