PF e Ibama apontam que em 30 locais analisados, fogo teve origem em ação humana
Investigação da PF (Polícia Federal) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), indica que, pelo menos, 30 focos de incêndios no Pantanal foram provocados por ação humana. Com isso, o resultado das investigações deve ser encaminhado ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), que deve abrir inquéritos civis de investigação.
Para o fazendeiro Pedro Lacerda, que possui propriedades no Pantanal, e após a divulgação dos resultados por parte da Polícia Federal, ele comenta que os incêndios sempre foram provocados por mãos humanas, mas existe a falta de fiscalização para descobrir os verdadeiros culpados. “Sempre será humana, como disse, tem que achar os incendiários. O restante do pantanal continua sem fogo, se a PF procurar bem, vai achar os verdadeiros culpados. Tem que encontrar e punir, se não houver punição não adianta investigação”, destaca.
Dos 30 locais apurados pela PF, 12 estão em propriedades de fazendeiros no Pantanal, que são investigados pelo Ministério Público por serem donos de imóveis rurais de onde começaram focos de incêndios que afetaram o bioma. Com fazendas na região, Evander Vendramini comenta que parte dos focos de incêndios foram provocados por interesses. ” Sabemos desde do começo que o fogo é colocado por humanos, mas precisa saber quem são eles os culpados, punir é a solução, se não houver leis mais severas sempre terão mais incêndios como esse”, pontuou.
Enquanto isso, condições climáticas adversas, caracterizadas por altas temperaturas e ventos fortes, estão dificultando os trabalhos na região do Rabicho, no Pantanal. Mesmo com os maquinários da Marinha do Brasil, militares do Corpo de Bombeiros, Força Nacional e brigadistas de diversas instituições, as áreas de difícil acesso e a vegetação densa dificultam os esforços de contenção e extinção do fogo, que perduram por mais de 116 horas de enfrentamento.
Já são 113 dias da Operação Pantanal 2024, e, atualmente são 102 bombeiros, com o apoio efetivo de 75 militares da Força Nacional de Segurança Pública, além de militares das Forças Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea Brasileira), da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e 233 agentes do IBAMA, ICMBio e brigadistas do PrevFogo.
A região enfrentou dias de condições climáticas extremas, que elevaram significativamente o risco de incêndios florestais na região. A temperatura atingiu picos de 33 °C, enquanto as rajadas de vento chegaram a 24 km/h, provenientes do norte e nordeste. A ausência de chuva, combinada com a umidade relativa do ar chegando a apenas 19%, criou um ambiente propício para a propagação rápida de incêndios.
Há equipes de bombeiros localizadas na região das proximidades do Porto da Manga realizando o combate direto, linha de controle e rescaldo. No período noturno foi realizada vigilância nas áreas afetadas. Outra linha de fogo que segue paralela aos focos já combatidos e desloca-se em direção ao Porto da Manga, margeando em flancos o Rio Paraguai e a rodovia MS-228.
Na área rural no município de Bodoquena, a equipe deslocou para verificar e combater um foco de incêndio em vegetação. No local se deparou com leiras de madeira e montes de capim com madeiras, alguns estando somente em brasas e outras partes que ainda não entraram em combustão. Não há mais focos ativos, mas muita brasa e fumaça. A área queimada foi de aproximadamente 66 hectares.
593 mil hectares queimados no bioma
Já próximo ao município de Bonito, a equipe deslocou-se até as propriedades onde ocorreram incêndios em vegetação nos dias 18 e 20, a fim de realizar o monitoramento. Foram encontrados apenas alguns troncos com fumaça em local isolado, e também havia fumaça próximo ao topo do morro, local de difícil acesso. Na estrada Parque de Piraputanga, são combatidos vários princípios de incêndios, principalmente à beira da estrada, tendo como destaque entre as ações o combate em mata próximo ao canavial.
Desde o começo do ano até 16 de julho, quase 593 mil hectares foram queimados no Pantanal sul-mato-grossense, o que corresponde a 6% do total de 9 milhões de hectares da região pantaneira no Estado. O aumento chega a 147% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram queimados 239,4 mil hectares – considerada até então, a pior temporada de incêndios. Os números são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Os focos de calor detectados via satélite chegam a 3.099 de janeiro até 16 de julho, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Aumento de 38,7% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram 2.235 registros. O Pantanal de Mato Grosso do Sul tem 9 milhões de hectares, correspondendo a 65% do total da região pantaneira que ainda se estende ao Mato Grosso, Paraguai e à Bolívia. O bioma passa pela pior estiagem dos últimos 70 anos.
Por Kamila Alcântara e Thays Schneider