Teatro do Paço Municipal de Campo Grande continua sem reforma e artistas lamentam descaso

Nilson Figueiredo
Nilson Figueiredo

Quem tem menos de 30 anos não teve nem a possibilidade de conhecer o Teatro José Octávio Guizzo do Paço Municipal de Campo Grande, conhecido como Teatro do Paço. O espaço cultural virou depósito há cerca de dez anos, e sua reforma entrou em relicitação, quando era para ser entregue ainda no ano passado.

Na época em que a reforma foi viabilizada, depois de uma liberação de emenda parlamentar de R$ 700 mil, com contrapartida do município, o secretário municipal de Cultura e Turismo, Max Freitas, afirmou que após a inauguração, prevista até então para 2020, o teatro deveria movimentar a cena artística de Campo grande. “Campo Grande hoje não tem nenhum teatro público em funcionamento e esse processo de reforma vem desde o ano de 2018 com o repasse da emenda do então deputado federal Mandetta. O prefeito Marquinhos Trad é um grande apoiador e entende a importância da reforma deste teatro para a Cultura de Campo Grande e Mato Grosso do Sul”, pontuou na época.

Contudo, mais de um ano se passou e a reforma segue em licitação. “No momento em que os mais importantes equipamentos culturais de Campo Grande estão fechados por tempo indeterminado, o Teatro do Paço representa, somado à inconstância no desenvolvimento da política cultural de Campo Grande, a ineficiência histórica no desenvolvimento da política cultural da nossa cidade”, coloca a presidente da diretoria-executiva do Fórum Municipal de Cultura, Franciella Cavalheri.

Ainda de acordo com Franciella Cavalheri, a situação é de descaso. “Na minha opinião, o Teatro do Paço ainda fechado e sucateado pelo desuso é o marco que demonstra para toda a população a maneira como a cultura foi e é tratada”, completa.

Segmento lamenta

O projeto de reforma, lançado em abril do ano passado, prevê a revisão e substituição de instalações elétricas, hidráulicas, adequações das escadas e rampas, novo sistema de refrigeração e instalação de forro, substituição de poltronas e de carpete. Além disso, o anexo também deve ser reformado, com adequações para se tornar um espaço multiúso, podendo receber exposições de fotografias, artes plásticas e lançamentos literários.

“Quando cheguei a Campo Grande usei esse teatro para fazer cursos. É no teatro que o artista em formação aprende a usar um palco, o ator que está começando agora precisa ter esse contato, essa visão”, relembra Beth Terras, um dos nomes mais importantes do teatro sul-mato-grossense.

A diretora, atriz e produtora de teatro afirma que, mesmo em um espaço pequeno como o do Teatro do Paço, o ambiente é importante para o desenvolvimento não apenas do ator, mas também de uma sociedade.

“O teatro é formador de opinião, fomenta a cultura, transforma uma sociedade. Nós temos público, as pessoas querem ir ao teatro, mas não temos incentivo. Não é só para o artista que é importante um espaço público,  mas também para a sociedade. Acho interessante que no interior temos teatros, até mesmo mais de um por cidade, tratados com um carinho que não temos aqui em Campo Grande”, argumenta Beth Terras.

Os profissionais dar artes cênicas da Capital enfatizam a importância dos espaços culturais para a promoção de uma sociedade. De acordo com o diretor e produtor cultural Vitor Samudio, a reforma e inauguração do Teatro do Paço tem uma importância significativa para a manutenção da arte, enfatizando o discurso do setor.

“A categoria tem passado por um problema sistemático há muitos anos, que é a falta de um espaço físico para apresentações. Vemos que na cidade quase não tem teatro. Muitos estão fechados com vários tipos de problemas, o que afeta a cena como um todo. Isso acaba fazendo com que tenhamos de pensar em trabalhos para espaços alternativos ou para a rua – espaços importantes, mas poderíamos contar com um teatro para o desenvolvimento de atividades das artes cênicas em geral, abrangendo desde a dança, música e circo e teatro, por exemplo.”

A reportagem do jornal O Estado entrou em contato com a Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) para um posicionamento, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

(Texto: Beatriz Magalhães)

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