Conheça a história da via que também era conhecida como a “Rua Alegre”
Por Claudemir Candido – Jornal O Estado do MS
Em homenagem ao Dia da Independência do Brasil, celebrado no dia 7 de setembro, a equipe de O Estado percorreu a rua da Capital de mesmo nome que já abrigou e ainda abriga os tradicionais comércios familiares de gerações. Segundo a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), a via possui uma extensão de 2,5 km e já foi conhecida como Rua Alegre, nome dado no projeto de arruamento de 1909, que fazia alusão aos diversos estilos de comércios que existiram no local e que durante o dia atendiam as famílias e à noite se transformavam em casas noturnas.
Cheia de histórias, a Rua 7 de Setembro foi, e ainda é, o palco do sucesso e da vivência de diversas famílias, muitas dessas vindas de outros países, a grande maioria de descendência árabe e libanesa, como é o caso da família Tomaz, fundadora do famoso Tomaz Lanches, que se instalou na rua há 44 anos. Henrique Chaves Tomaz, de 28 anos, neto do fundador libanês, que já ajuda a administrar o comércio há dez anos, conta a O Estado que a loja e a família acompanharam o crescimento da região central e o desenvolvimento da via durante toda a trajetória da lanchonete, que é conhecida por toda a Capital.
“Meu avô teve vários negócios antes da lanchonete dar certo, foi sapataria, bar, e por fim construiu a loja aqui, que já foi administrada pelo meu pai e hoje fica por minha conta e do meu irmão. Nesses 40 anos aqui, meu pai conta que passou por diversos momentos com a rua, desde o asfaltamento até o crescimento aqui do centro. Quando começaram, Campo Grande ainda fazia parte de Mato Grosso, aqui era apenas um corredor e uma cozinha, com o tempo eles foram investindo, aumentando o espaço e hoje chegamos ao tamanho atual”, disse o neto do fundador da tradicional lanchonete.
Rua familiar
Quem também compartilha da história e da fundação do legado da Rua 7 de Setembro é Ronaldo Pangoni, de 49 anos, que atualmente administra a loja de tecidos aberta pelo pai há 40 anos. Ele relembra com carinho a história da rua que deu tantos frutos para a família. Inicialmente a loja começou na 14 de Julho, fabricando roupa de linho e jeans, e exportando para Santa Catariana, Paraná e Rio Grande do Sul na década de 1980.
“Meu pai e meu tio tinham essa visão, produzir aqui e exportar nossos produtos, mas Mato Grosso do Sul não estava preparado para isso, era algo além do tempo aqui no Estado. A 7 de Setembro é muito conhecida por ser uma rua familiar, os comerciantes aqui trabalham em família. Nossos pais e nossos avós criaram e hoje nós continuamos cuidando dos negócios. Hoje nosso único problema é o e-commerce, as pessoas estão deixando de vir aqui, investir e gerar renda na nossa cidade por comprar pela internet, e isso é terrível pra nós que ainda sobrevivemos de nosso comércio”, conta Ronaldo
Carregando conquistas e a história de quem encontrou na Rua 7 de Setembro a oportunidade de alavancar seus negócios e criar a sua própria marca de sucesso, sócio da Dunil, Jailson Netto, 58 anos, conta que o fundador, Nilson Franzine, abriu a loja em 1973, com a experiência de trabalho em redes de empresas de confecções de São Paulo, e iniciou os trabalhos em Campo Grande apenas com uma portinha.
“Na época que abriu a loja, aqui estava em pleno desenvolvimento, Campo Grande era uma cidade de transição. Quem vinha de Cuiabá e precisava ir para outros estados, ou até mesmo para Corumbá, que na época era a segunda maior cidade do Estado, precisava passar por aqui. Isso fez com que a cidade fosse crescendo, a economia crescendo, até que virou Capital. Nosso foco sempre foi o atendimento exclusivo de nossos clientes, tanto que a loja é uma tradição. Antes os jovens vinham comprar aqui com os pais, que viam nossa loja como referência e hoje esses jovens se casaram e trazem seus filhos pra comprar com a gente”, destacou Jailson, sócio e gerente da loja.
Histórias da Rua Alegre
O escritor Paulo Machado escreveu sobre a Rua Alegre. Segundo ele, por volta de 1909 sampo Grandeurgiram na Rua 7 de Setembro os primeiros cabarés, bares, bilhares, entre as raras residências, e também algumas pensões de mulheres, onde se reuniam os peões de boiadeiro e mascates que aqui aportavam.
Ele ainda relembra o princípio das ações comerciais na esquina da 7 de Setembro com a 13 de Maio, onde ficava a loja de Lucas Borges, o conhecido boiadeiro de Uberaba, que fazia intenso comércio de bois magros na Vacaria. Ainda, o escritor relembrou que as primeiras exibições cinematográficas datam do início do século 20. Depois o italiano Rafael Orrico trouxe o cinematógrafo, projetando vários filmes debaixo das mangueiras que circundavam o hotel Democrata, na Rua do Padre, e ainda no cabaré Fecha Nunca. Contudo, o primeiro cinema em recinto fechado e caráter permanente foi inaugurado em 1913, na Rua 7 de Setembro.
Além disso, Paulo Machaco destacou a chamada zona do meretrício, ou simplesmente “zona”, localizada na Rua 7 de Setembro, no trecho entre a Calógeras e a Rui Barbosa. A partir desta última, as residências eram familiares. Mesmo no segmento mencionado, havia alguns comerciantes com residência nos fundos da loja.
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