“A opinião vai ficando de lado e sendo reprimida com o passar das gerações”, diz sociólogo
Após as invasões nas sedes dos três Poderes em Brasília, protagonizadas por milhares de manifestantes extremistas, no último domingo (8), a Meta, empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, afirmou que removerá conteúdos que apoiam ou exaltam os atos antidemocráticos que tomaram as ruas da capital federal.
Disseminando a violência, mas abrindo margens para outros questionamentos, o sociólogo e historiador Paulo Cabral viu esta decisão como um grande impasse para a liberdade de expressão.
“É certo que essas pessoas precisam de limites. A violência e o crime nunca são uma opção. Mas isso nos leva a refletir sobre a liberdade de expressão que, com isso, começa a ser ferida e limitada. Neste contexto é de suma importância aniquilar o ódio e o incentivo para atos de violência, em contrapartida, essa abertura dá espaço para frear outros assuntos que fogem das diretrizes das plataformas. A opinião vai ficando de lado e sendo reprimida com o passar das gerações”, destacou ao jornal O Estado.
Tendo em vista o cenário atual, nada convencional, o sociólogo chama atenção para as medidas que fogem do padrão. “Se fosse em tempos normais, claramente essa decisão feriria com o direito de expressão das pessoas. Mas, quando se tenta justificar um crime, golpe de Estado, usando o direito de expressão, temos uma divergência. Não se trata dos direitos, e sim dos golpes. E golpes precisam ser combatidos.”
Observando pela ótica do mundo virtual, para o especialista em tráfego pago e redes sociais Cássio Paniago, o controle das postagens de cada perfil seria benéfico para quem consome informações por meio das redes sociais.
“Esse controle é totalmente possível de ser feito, por meio dos algoritmos da plataforma. Os pontos positivos, se isso vier acontecer, é que as redes sociais estariam mais limpas de conteúdo de ódio e incitação ao vandalismo e desordem [em se tratando dos vândalos]. Já a parte negativa é que muita gente que se manifesta de forma pacífica, pode ser prejudicada e ser taxada como parte desse grupo, limitando a liberdade dessas pessoas que não praticam esses atos”, pontuou.
Apesar de ser incerto como isso será aplicado nas redes sociais, as plataformas já possuem suas políticas de privacidade e termos de uso, assim como mecanismos de controle de conteúdo por meio do algoritmo. Diante disso, caso os conteúdos não estejam de acordo com as tais políticas e termos de uso da plataforma, esses perfis estão sujeitos a serem banidos.
“Recentemente Elon Musk, proprietário do Twitter, demitiu funcionários responsáveis pela moderação de conteúdo da rede social no Brasil.Isso prova que as redes sociais têm, sim, o poder de aumentar, ou reduzir, determinados conteúdos”, ressaltou. Afetando inclusive a entrega de conteúdos compartilhados e o alcance dos usuários, o especialista em redes sociais ainda destacou alguns impactos que podem ser gerados com a nova medida.
“ Quanto mais controle da plataforma é imposto, mais o alcance de usuários é reduzido, além de que o valor para investir em patrocínios de anúncios acaba ficando mais caro, sem contar que a inteligência artificial da plataforma em si, pode acabar confundindo conteúdos que não são de viés político com conteúdos políticos. O que consequentemente pode prejudicar usuários que não estão postando esse tipo de conteúdo”, finalizou.
Repercussão
Os atos extremistas que ocorreram no último domingo (8), na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ganharam repercussão nacional e internacional. O jornal O Estado foi para as ruas e ouviu os campo-grandenses e, mesmo para os favoráveis às manifestações, as ações na capital federal passaram dos limites. Mas há esperanças de que a situação no Brasil melhore.
Fala, Povo: “O que esperar do Brasil após o ato de destruição em Brasília?”
Enogildo Mendes, 70 anos
“Nesses meus anos de vida, nunca presenciei algo como agora. A política nunca teve um confronto desse nível, envolvendo a direita e a esquerda”.
Marlene Lopes, 56 anos
“Eu espero que os políticos escutem o povo. Estamos esgotados, mas nada justifica a violência e destruição que aconteceram.”
Lucas Estigarribia, 23 anos
“Espero que o Brasil tenha sua reputação recuperada daqui a uns anos. Somos assunto até fora do país, e o que me faz pensar é sobre o futuro.”
Ariana Santos, 33 anos
“Eu acredito em um Brasil melhor. Na verdade, ele tem de melhorar, porque, se nosso país não ficar bem, a gente também não fica”.
Késsia Nascimento, 27 anos
“É triste saber que parte da nossa história, que estava naqueles prédios, foi destruída. Atualmente não tenho uma boa perspectiva para o Brasil.”
Erick Nunes, 31 anos
“Não tenho boas perspectivas para o Brasil, olhando para esse cenário atual. Ainda falta muito posicionamento por parte dos brasileiros.”
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.
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