Reflexos do desastre no RS pode chegar no bolso dos sul-mato-grossenses

O presidente Lula afirmou
que o país pode ter
que importar arroz para
segurar a alta dos preços (Foto: Marcos Maluf )
O presidente Lula afirmou que o país pode ter que importar arroz para segurar a alta dos preços (Foto: Marcos Maluf )

O arroz está entre os itens que poderão aumentar; o estado gaúcho é o maior produtor do alimento no país

Com lavouras tomadas pelas águas no estado do Rio Grande do Sul, a economia dos estados brasileiros, inclusive Mato Grosso do Sul, podem sentir os impactos no bolso. Os agricultores gaúchos são responsáveis por 70% da produção do arroz, razão pela qual o alimento deve apresentar aumento no preço nos próximos meses. Em entrevista ao O Estado, o economista do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande), Stanley Barbosa explicou como deve se comportar o agronegócio em MS.

“Contudo, na questão econômica, podemos sim esperar impactos negativos como o aumento do preço de alimentos como arroz, trigo, milho, soja, frango, suínos, dentre outras culturas, cuja produção do Rio Grande do Sul representa parcela significativa da produção nacional. Nesse sentido, as leis de oferta e demanda exercem sua lógica, afetando os preços finais dos alimentos nas gôndolas dos supermercados, para ficarmos apenas nos aspectos relacionados ao agro”, avalia o economista.

O especialista financeiro, reforça ainda que diante de um evento catastrófico sem precedentes em nosso país, ainda é difícil estimar o real impacto que este terá em nossa economia e em nosso agronegócio, mesmo porque seus efeitos ainda estão acontecendo. “As águas que inundaram o Rio Grande do Sul seguem causando estragos mesmo agora. Entretanto, o pensamento econômico e os fatos apresentados até o momento nos permitem, ainda que de forma superficial e preliminar, tentar entender um pouco do que podemos esperar a partir deste episódio”, destacou.

Com toda essa tragédia vivida pela população do Rio Grande do Sul, cabe destacar que a maior e incalculável perda é em relação às vidas ceifadas. Entretanto, na questão econômica, o economista lembra que, o governo federal e demais autoridades da república já se posicionaram pela liberação de todo e qualquer recurso necessário para a reconstrução do RS.

“Estamos falando de dezenas, talvez centenas de bilhões de reais em recursos que serão necessários adiante. Alguns economistas e instituições financeiras citados pelo portal Infomoney, como a JPMORGAN, estimam que esses gastos poderão afetar, a médio e longo prazo, as contas fiscais do governo, impactando sua capacidade de fazer investimentos em outras frentes”, comentou Barbosa, ao avaliar que o governo ficará registro para investir em novos projetos que demandam recursos financeiros.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nessa terça-feira (7), que o governo federal pode ter que importar arroz e feijão para segurar a alta dos preços desses produtos, cuja produção foi afetada pelas inundações no Rio Grande do Sul.

“Agora, com a chuva, eu acho que nós atrasamos de vez a colheita do Rio Grande do Sul. Se for o caso, para equilibrar a produção, a gente vai ter que importar arroz, a gente vai ter que importar feijão para que a gente coloque na mesa do povo brasileiro um preço compatível com aquilo que ele ganha”, afirmou o presidente.

Aumento da cesta básica em Campo Grande

O que já é caro pode ficar ainda mais pesado com o efeito das enchentes no sul do país, o preço da cesta básica em Campo Grande obteve aumento de 2,37% em abril, custando R$ 732,75 no orçamento do consumidor, e compromete 56,10% da renda de uma pessoa que recebe um salário mínimo de R$ 1.412. Os dados são do levantamento realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

No mês anterior, o gasto com a compra da cesta básica ocupava 55,89% da renda de um trabalhador com um salário mínimo. Em Abril de 2023, quando o salário mínimo líquido era de R$ 1.121,10, o comprometimento da cesta alcançou 61,26%. No quarto mês do ano, a jornada de trabalho necessária para comprar uma cesta básica na capital foi de 114 horas e 10 minutos, aumento de 26 minutos na comparação com o mês de Março.

Alimentos vilões na cesta

Em abril, dois alimentos tiveram grande impacto no preço da cesta básica em Campo Grande – o quilo do tomate teve aumento de 10,04% e o café atingiu a marca de 5,27%. O fim da safra de verão fez com que os preços do tomate registrassem a maior alta pelo segundo mês consecutivo entre os treze itens da cesta básica. Com uma variação de 8,90% no acumulado de 12 meses, um quilo do fruto passou de R$ 7,75 (2023) para R$ 8,44 em média nesse ano.

Também pelo segundo mês consecutivo, o leite de caixinha (1,50%) registrou alta de preços, movimento que tende a permanecer considerando o período de entressafra da cadeira láctea, que vai até meados do segundo semestre. Outra bebida típica das manhãs, o café (5,27%) registrou alta após um trimestre de baixa de preços. O preço de um quilo do pãozinho francês(1,75%) voltou a subir, a despeito da segunda queda consecutiva no preço da farinha de trigo (-0,16%). Ao longo de um ano, o preço médio do insumo se mantém na casa dos R$ 4,00, e do derivado se mantém na casa dos R$ 16,00.

Reverteram as baixas registradas em março o óleo de soja (1,78%) – que em doze meses, registrou retração de (-20,81%), e o açúcar cristal, que teve variação de 1,30% tanto no quarto mês desse ano, quanto em 12 meses. Outras reduções foram observadas nos preços de feijão carioquinha (-3,21%), carne bovina (-0,63%) e arroz agulhinha (-0,51%).

O arroz é o produto que tem o maior peso no subitem do grupo “alimentação no domicílio” do índice de inflação ao consumidor IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Também é um importante produtor de carnes e laticínios.

Acompanhamento feito pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, mostra um ligeiro aumento do preço do arroz no estado, segundo dados de ontem. No dia em questão, o valor da saca, incluindo frete, estava em R$ 106,7, ante R$ 105,98, na última segunda (29).Entre as commodities, o Rio Grande do Sul também se destaca na produção de soja e milho, produtos que têm influência mais indireta na inflação do varejo, como componentes de ração animal. Nesse caso, a avaliação inicial é que a demanda pode ser suprida pela produção de outras regiões do país.

Ainda assim, André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirmou que esses produtos podem ter impacto na inflação ao produtor. “No nosso caso, que medimos preços no atacado, o impacto será maior porque as safras de milho, soja e arroz não foram todas colhidas, então algum efeito para inflação vai ter”, disse.

Colheita em RS

Esta é a terceira safra seguida de perdas no Rio Grande do Sul. A Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul divulgou uma nota relatando as dificuldades de diversas cooperativas no recebimento da produção de leite, frango e suínos do estado, diante do comprometimento das vias de acesso às propriedades e bloqueios em rodovias, fazendo menção também a prejuízos nas lavouras de arroz e soja do estado e alertando para a necessidade de abertura de linhas de crédito de médio e longo prazo, além de auxílios emergenciais para apoiar e dar fôlego aos produtores rurais.

A entidade estima que pelo menos 120 cooperativas e seus associados foram afetados pelas chuvas. Segundo o presidente da Aprosoja-RS, Ireneu Orth, o estado plantou 6,7 milhões de hectares de soja, restando colher cerca de 1,5 milhão de hectares. De causas a efeitos, a estimativa é que o estado tenha, em áreas alagadas, algo entre 4 e 5 milhões de toneladas de soja em situação vulnerável, com perdas efetivas que podem variar entre 1,5 e 2,5 milhões de toneladas.

O presidente fala ainda em prejuízos com hortifrutigranjeiros, culturas cuja produção se perdeu completamente em algumas regiões.

 

Por Suzi Jarde

 

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