Queimaduras por choques elétricos podem ser evitadas com cuidados simples

Celso Ré Neto, 49 anos,
carrega na pele e na
mente as marcas
das queimaduras - Foto: Roberta Martins
Celso Ré Neto, 49 anos, carrega na pele e na mente as marcas das queimaduras - Foto: Roberta Martins

Riscos de acidentes domésticos aumentam diante das festividades juninas deste mês

No Junho Laranja, mês dedicado à prevenção de todos os tipos de queimaduras, o coordenador do Setor de Queimados da Santa Casa, médico Felipe Resende, faz um alerta especial aos acidentes que envolvem choque elétrico e podem ser fatais, dependendo do tamanho da descarga elétrica recebida pela vítima.

De acordo com o especialista, uma das causas mais comuns para acidentes envolvendo eletricidade é a falta de atenção e cuidado ao trabalhar no meio rural ou urbano, quando o contato com fios de alta-tensão podem acontecer.

“Às vezes, quando a pessoa está trabalhando, abrindo uma mata ou fazendo algum serviço em obras, ela pode não perceber e acaba encostando naquele fio de alta-tensão. Aquela descarga de altíssima voltagem corre pelo corpo e causa lesões e, dependendo, pode atingir tecidos, órgãos e até ossos”, explica.

De acordo com os dados da Santa Casa, nos cinco primeiros meses deste ano, nove pessoas deram entrada no setor de queimados vítimas de choques de alta voltagem, sendo a 5ª maior causa de internações nesta ala.

Já, em 2024, de 353 internações no ano, 125 foram vítimas de queimaduras. Naquele ano, a eletricidade foi a 3ª maior causa, atrás apenas dos acidentes com combustíveis e líquidos superaquecidos, sendo esse os motivos mais comuns em ambos os períodos.

“Aqui na Santa Casa, no nosso centro de tratamento de queimaduras, o choque elétrico compõem o perfil de 10% a 15% das causas de queimaduras em adultos”, afirma o médico.

Uma nova chance

Entre as nove vítimas que deram entrada na Santa Casa por causa de choques elétricos, está Celso Ré Neto, de 49 anos, que se acidentou com fios de alta-tensão enquanto trabalhava, em Aparecida do Taboado, onde mora com a esposa e um filho. Como consequência das queimaduras, teve os dois braços amputados e ainda aguarda por uma cirurgia de enxerto no quadril, que está prevista para ser realizada na segunda-feira (9).

Celso conta que, no dia 30 de abril, estava fazendo um trabalho de recorte no telhado da oficina que estava pintando. De acordo com o que lembra, ele estava próximo à rede elétrica e fios de alta-tensão, que passam próximos ao teto do local, quando encostou em um dos cabos e acabou sendo eletrocutado.

Foto: Roberta Martins

“Eu não vi nada na hora. Acho que encostei em algum fio de alta-tensão, porque eles são bem próximos do telhado onde eu estava fazendo o trabalho de pintura. Faltava bem pouco para terminar, mas tomei esse choque e fiquei paralisado, pegando fogo, até me socorrerem”, conta, em entrevista ao jornal O Estado.

Ainda segundo ele, estar vivo é um milagre, porque, além da perda dos braços, a alta voltagem também causou a parada dos rins e três paradas cardíacas no caminho que percorreu até a Santa Casa, em Campo Grande.

“Estou há 35 dias aqui e se Deus quiser, na próxima segunda-feira faço a cirurgia, porque vou precisar colocar um enxerto no quadril. A placa que faz parte do tratamento demorou para chegar, então, tem que esperar a cicatrização melhorar. Depois vou para São Paulo fazer a reabilitação e colocar as próteses nos braços”, disse.

E completa: “Tenho que me acostumar, porque é uma sensação estranha. Graças a Deus estou vivo e não perdi as pernas também, porque isso poderia ter acontecido. Os médicos não souberam explicar como meus rins voltaram, mas o importante é que estou vivo.”

O pintor, que agora se considera aposentado da profissão, faz aniversário no próximo dia 22, e considera que renasceu a partir do acidente, que poderia ter sido fatal dado o grau das queimaduras e as consequências e sequelas.

“Eu tenho alguma missão aqui ainda, eu não sei o que é, mas vou atrás dela. Agora as coisas mudaram, porque o que eu fazia não vou poder fazer mais. Eu gosto de pescar e me falaram que com a prótese eu vou conseguir, mas vamos ver. A sorte é que eu estou vivo. Pensei até em mudar a data do meu aniversário para o dia do acidente, porque ali eu renasci”, declara.

Por estar tanto tempo no setor de queimados, Celso viu muitos tipos de pacientes, que chegam ao hospital por causa dos mais diversos acidentes. Segundo ele, o mais comum são pessoas que chegam queimadas por combustíveis e acesso direto ao fogo, que são foram queimadas, principalmente, em ocasiões que envolvem a feitura de bife na chapa.

“Tinha uma criança aqui que estava toda queimada, porque a família estava fazendo bife na chapa e acabou atingindo ela. Estava com o peito, os braços e as pernas com queimadura. Isso é um perigo e deveria ser proibido ou as pessoas deveriam ter mais cuidado, alerta Celso.

Por fim, o pintor destaca que o local onde se acidentou não havia placas avisando sobre o perigo de choque e a presença de cabos de alta voltagem. “Deviam colocar placas naquele lugar. Eu tomaria mais cuidado se soubesse”, concluiu.

Redução dos casos e cuidados necessários

Dados da Santa Casa de Campo Grande apontam uma redução no número de pacientes atendidos vítimas de acidentes com queimaduras. Contudo, apesar da baixa nas entradas no hospital, a Sociedade Brasileira de Queimaduras afirma que ainda é preciso cuidado e, durante o Junho Laranja, alerta para os cuidados que é preciso tomar para evitar acidentes.

De acordo com o hospital, de janeiro a maio deste ano, 125 pacientes deram entrada no setor de queimados, e, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registradas 191 internações, este índice teve queda de 34,5%.

O médico Felipe Resende ainda orienta que, se acaso um acidente acontecer, a primeira coisa a se fazer é desligar a fonte de energia de onde está vindo a eletricidade, bem como manter distância da vítima para não também não receber a descarga energética. Após esses primeiros procedimentos, acione o Corpo de Bombeiros ou Samu para encaminhar a vítima à unidade de saúde.

Por Ana Clara Santos

 

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