“A experiência vivida nos trouxe momentos de reflexão”, ressaltou farmacêutica, que trabalhou na linha de frente
Em meados do mês de março de 2020, como já estava ocorrendo, em todo o mundo, desde o início do ano, o Brasil se viu em meio ao caos de uma pandemia mundial, causada por um vírus mortal, que nos obrigou a permanecer presos dentro de nossas próprias casas. Muitos trabalhadores migraram para o modelo home office e precisaram se adaptar à nova realidade, para sobreviver à Covid-19.
Entretanto, trabalhos como o da rede de saúde, alimentação e outros serviços essenciais precisaram continuar acontecendo, para que toda a população conseguisse permanecer firme, durante os dias de isolamento social, que duraram, aproximadamente, dois anos. Profissionais como enfermeiros, farmacêuticos, médicos, motoentregadores, empresários do ramo alimentício, coletores de lixo precisaram deixar os familiares e arriscar a vida, para exercer a sua profissão.
Na linha de frente no combate à doença, no ramo da saúde, o trabalho passou a ser cada vez mais intenso e perigoso. A farmacêutica Daniely Proença, 49 anos, afirmou que a pandemia foi uma surpresa e deixou a todos em situação de alerta e insegurança, incluindo o farmacêutico, médico e todos os profissionais que atuam na saúde. Ela ressaltou que tudo era novo e, até aquele momento, não se sabia, ao certo, como combater e evitar a disseminação e nem tampouco sobre um tratamento medicamentoso para combater a doença.
“A experiência vivida nos trouxe momentos de reflexão, o ser humano deve buscar extrair pontos positivos e, com a pandemia da covid-19, não foi diferente. A maior experiência que pude vivenciar foi o trabalho em conjunto de várias entidades que, em uma força-tarefa, envolvendo várias entidades, conseguimos que os profissionais da saúde da rede pública e privada de Campo Grande e do interior do Estado, pudessem trabalhar com mais segurança, nesse período de pandemia do coronavírus, pois todos receberam doação de álcool em gel. O trabalho do farmacêutico, frente à necessidade no atendimento de pacientes acometidos pela covid-19, ficou em evidência no período pandêmico. Isso mostra a importância do profissional com a atenção e cuidado voltado ao paciente e sociedade. A participação do farmacêutico clínico, durante todas as etapas que envolvem os medicamentos, foi de suma importância para a redução de erros”, disse.
Danielly ainda ressaltou que, os farmacêuticos, em geral, tiveram um papel imprescindível no momento de crise, pois a importância desse profissional vai desde o gerenciamento da farmácia hospitalar, em hospitais voltados para o combate da covid-19, como nas farmácias comunitárias, prestando atenção farmacêutica.
“Nós conseguimos ter um olhar diferenciado e maior destaque, pois nosso serviço tem o objetivo de aprimorar os serviços de assistência farmacêutica, que foi prestado não só aos pacientes com covid-19, mas a outros pacientes, com outras patologias”, contou Proença.
Outro profissional que esteve presente em todos os períodos da pandemia, desde o início do descobrimento da doença, até a realização dos testes, e depois com aplicação das vacinas, foram os enfermeiros.
O jornal O Estado conversou com a enfermeira do hospital Unimed Campo Grande, Jaciane dos Anjos Maidana. Ela descreveu que acredita ter feito a diferença na pandemia e se emocionou, ao lembrar do tempo em que ela e sua equipe trabalharam duramente, para contribuir no salvamento de vidas.
“O maior susto, para nós, foi quando começaram a aparecer casos graves de jovens e foi nesse momento que começamos a sentir medo, pois começou a atingir a todos, foi o pior para mim. Os casos iam se agravando em questão de dias ou até mesmo de horas” contou.
Após o fim do isolamento e a chegada das vacinas, Jaciane respirava aliviada e afirma que, mesmo que a rotina de trabalho ainda seja intensa, hoje tudo pode ser levado com mais leveza.
“Hoje, tudo está diferente, já temos vacina, só não se imuniza quem não quer, perdemos tantas pessoas, mesmo trabalhando tanto e hoje conseguimos respirar aliviados, em relação a isso”, finalizou.
Setores essenciais
O motoentregador Porfírio Rodrigues Faria “Branca”, 57 anos, que tem 15 anos de profissão, destacou esse período como o mais difícil de sua carreira como entregador. Ele trabalha em uma conveniência, no centro da Capital, e contou, à reportagem do jornal O Estado, que, em meio à pandemia, entendeu o quanto o seu trabalho era importante.
“Eu falo por todos os colegas, nós nunca trabalhamos tanto, como durante a pandemia, era uma tensão diária, a preocupação e o cuidado para não contrair a doença, passando sempre álcool em gel e utilizando todos os outros métodos de segurança. Ficávamos preocupados com a nossa casa, nossa família, para que não levássemos o vírus para eles. Foram tempos difíceis, mas não paramos”, disse Branca.
Porfírio contou, ainda, que trabalhava, aproximadamente, 8 horas por dia e, nesse período, o fluxo de entregas era intenso, já que as pessoas não poderiam estar dentro dos mercados e conveniências e a entrega era a melhor alternativa. “Agora, a gente vê como o nosso trabalho é importante, desde os entregadores de alimentos, farmácias, todos os estabelecimentos começaram a fazer entrega durante a pandemia, a gente se arriscava para levar, para as pessoas, os produtos e mantê-las seguras, em casa”, finalizou.
Já a empresária Elizabeth Bárbara trabalhou com delivery de alimentos durante todo o período pandêmico e retrata, com precisão, tudo o que a equipe passou, nesses meses complicados, de restrições tão severas.
“Foi cansativo, porém, compensador, tínhamos uma preocupação maior, pois as pessoas estavam restritas de ir até ao supermercado, o alimento pronto foi uma ótima alternativa, mas a nossa preocupação era o cliente e o bem-estar da equipe, para levar até o local, desde a produção, até a entrega, desde a compra dos insumos, limpeza, produção dos produtos, o atendimento no telefone, tudo”, explicou.
Além do cansaço físico, Elizabeth relembrou como foi complicado, para a equipe de atendimento e acrescentou que, as pessoas que trabalharam com atendimento ao público, via telefone, com certeza precisaram fazer terapia.
“Era de enlouquecer. As atendentes falavam com, aproximadamente, 30 pessoas ao mesmo tempo, era uma demanda muito grande, para atender também aos entregadores, toda a responsabilidade do serviço começava e terminava na atendente. Foi complicado e mesmo assim fidelizamos clientes, nesse período.”
Também extremamente atuante no período da pandemia, a categoria dos garis não parou de trabalhar em nenhum momento, como é o caso de Jean Vanderlei Oliveira da Silva, de 33 anos, que exerce a profissão há quatro anos e afirmou ter sido pego de surpresa, quando a pandemia chegou e mudou a maneira de trabalho.
“A adaptação foi bem complicada porque tudo mudou, de um dia para o outro, e o nosso serviço não podia parar, pelo contrário, a gente teve que se adaptar e permanecer trabalhando”.
Durante conversa com a reportagem, Jean lembrou como eram os cuidados durante a pandemia, na empresa e, mesmo assim, chegou a contrair a doença.
“A Solurb colocou um túnel de esterilização bem na entrada, então, a gente passava por lá, na entrada e na saída, tirávamos a roupa de trabalho de dia e já deixávamos lá para ser desinfectada, só pegávamos no outro dia e os cuidados continuavam em casa”, disse.
Orgulhoso da profissão que exerce, Jean fez questão de ressaltar que seu trabalho e o dos seus colegas foi essencial, no período pandêmico e segue sendo fundamental para a população.
“Nosso trabalho é importante, mas é necessário lembrar as pessoas de terem conscientização, na hora de descartar o lixo. Na pandemia, por exemplo, algumas pessoas avisavam que o lixo tava infectado e outras não, e hoje ainda temos problemas com a separação do lixo, que muitas vezes, quando não é separado do vidro, por exemplo, pode machucar o coletor, como já aconteceu comigo”, finalizou.
Por Camila Farias e Tamires Santana – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul
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