Cerca de 2 mil pessoas protestaram nas ruas de Campo Grande pelo cumprimento da decisão
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS
Enfermeiros e familiares se reuniram nesta sexta-feira (9), na Praça do Rádio Clube, para se manifestar contra a suspensão da liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o pagamento do piso nacional da enfermagem. A manifestação, que aconteceu de forma simultânea em outras regiões do país, contou na Capital com um público de 2 mil pessoas. A decisão começou a ser julgada no plenário virtual do STF a partir da meia-noite de hoje (10).
Conforme já noticiado por O Estado, desde que foi regulamentada há 36 anos, no dia 25 de junho de 1986 (ou pela Lei nº 7.498 de 1986), a classe da enfermagem, que inclui técnicos e parteiras, segue sem um piso salarial nacional. O projeto sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro estabelece o valor de R$ 4.750,00 para enfermeiros, R$ 3.325,00 para técnicos em enfermagem e R$ 2.375,00 para auxiliares de enfermagem e parteiras.
Pressão ao STF
Segundo o presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), Lázaro Santana, o protesto aconteceu com o intuito de pressionar a decisão adotada pelo STF.
“Não estamos aqui hoje para um protesto agressivo, estamos juntos para pressionar essa decisão do STF. Nosso piso é Constitucional, temos esse direito e vamos lutar por ele. A lei passou por todo o processo necessário, teve aprovação, foi assinada pelo presidente da República. Nossa história não se resume apenas na aprovação de um piso salarial”, reforçou.
Após o encontro na Praça do Rádio Clube, os profissionais se dirigiram até o MPF (Ministério Público Federal) na Capital.
Enfermeiro há 20 anos, Leandro Dias contou a O Estado que, após o mundo reconhecer a importância dos profissionais da saúde, durante os dois anos de enfrentamento ao novo coronavírus, esperava que os enfermeiros fossem contemplados com uma melhor remuneração.
“Nossa maior indignação é a forma como tudo aconteceu. A condição que foi tomada a decisão nos causa revolta. Estivemos na linha de frente na pandemia e, com isso, fomos uma das profissões mais importantes desse cenário. Reconhecimento, com base no que é lei, é o mínimo que esperamos”, destacou Leandro.
Contudo, Elidayana Caene, 33, que atua como enfermeira há dez anos, frisou durante a manifestação que o movimento também mira ampliar o debate sobre outras necessidades e reivindicações que a categoria vem apresentando nos últimos anos.
“Nossa luta não vem de agora, perdura há anos. Lutamos pela insalubridade em 20%, pela nossa carga horária de 30h. São muitos os motivos pelos quais estamos reunidos nessa manifestação, entre eles o maior dos nossos problemas, a suspensão do piso nacional”, pontuou.
Para quem escolheu a profissão para exercer durante toda a vida, a notícia da suspensão do pagamento chegou como um balde de água fria. A jovem Paula Lopes, 22, formada há um ano, destaca que a realidade lida nos livros e os desafios diários são bem diferentes e que no seu caso, pela pouca valorização, não teve alternativa a não ser a de procurar por mais um emprego, para fazer dupla jornada, uma vez que um salário não chega a R$ 2 mil.
“Sou recém-formada e a realidade é bem diferente. Na faculdade vemos uma coisa e, por mais que nos preparemos, o dia a dia é incompatível. Vejo a luta da classe, que não é de hoje, e tenho dois sentimentos: o de desânimo, pela falta de reconhecimento; e a garra de lutar contra essa profissão pouco valorizada. Estou só começando e vim às ruas para lutar com os que já lutam, e pelos que ainda vão chegar, assim como eu, e lutar pela nossa enfermagem”, lamentou Paula Lopes.
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