Evolução tecnológica, veracidade de contagem e segurança da informação estão entre as preocupações
Colocada em pauta nos últimos meses, a credibilidade das urnas eletrônicas é um dos assuntos que foram discutidos durante este ano, e que, no entanto, mesmo o plenário da Câmara dos Deputados recebendo a PEC do Voto Impresso, que poderia alterar o sistema para o impresso, esta foi derrubada em primeira instância.
Em contrapartida, a Justiça Eleitoral confirma que utiliza nas urnas o que há de mais moderno em segurança da informação para garantir a integridade dos votos.
Pensando em conhecer as diferentes opiniões quanto à urna eletrônica, O Estado foi às ruas nesta eleição para saber se os eleitores acreditam na credibilidade das urnas eletrônicas, que já são utilizadas desde 1982, quando o então juiz de direito Carlos Prudêncio realizou a primeira contagem eletrônica de votos e, em 1985, houve a implantação de um cadastro eleitoral informatizado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral.
O eleitor Florisvaldo Maria de Oliveira, 58 anos, pontua que o voto impresso seria um retrocesso, principalmente com os avanços da tecnologia, e confia na veracidade das urnas eletrônicas. “Eu acho que o voto impresso não vale a pena, porque o que tem de acontecer é evoluir e melhorar o que já temos ao invés de voltar a ser como antigamente, confiar na urna e não trocar a segurança que tem pelo voto no papel”, destacou.
As amigas Jocielei Abreu, 47, administradora e a dona de casa Cristina Meireles, 50, foram juntas para a zona eleitoral e depositam sua confiança na urna eletrônica. Na opinião delas o voto impresso pode ser facilmente manipulado, pois pode-se colocar ou tirar alguma cédula da urna sem que haja registro, facilitando a corrupção.
“Eu confio mais na eletrônica do que no papel, no papel você pode tirar se quiser ali de dentro. A eletrônica tem toda aquele sistema que garante que nosso voto seja contado de forma mais rápida e de forma correta. O voto é mais rápido, a apuração é rápida, fora que esse eletrônico ainda possibilita que você mantenha seu voto em sigilo”, comentou Jociele.
Contudo, a autônoma Luciane Terron, 50, nega que as urnas sejam confiáveis. “Não acredito na credibilidade da urna, acho que o impresso é mais confiável. Para mim essas urnas eletrônicas podem ser manipuladas e nossos votos alterados no sistema por algum computador”, questionou.
De forma diferente foi o que opinou a autônoma Edith Ferreira, 43; para ela, a urna é mais segura. “A urna é mais rápida e garante que ninguém saberá em quem eu votei, sinto maior segurança nesse sistema, o impresso qualquer pessoa pode ir lá e alterar para mais ou para menos”, finalizou.
Raio X
Após um ano com diferentes propostas e candidatos, a eleição 2022 levantou alguns questionamentos. O jornal O Estado conversou com especialistas em política que retrataram os principais desafios do pleito deste ano. Um dos pontos destacados por todos eles foi a dúvida levantada quanto à veracidade das urnas eletrônicas, o anseio da população em registrar os seus votos e problemas como a demora em acessar o sistema biométrico.
Conforme o comentarista político Tércio Albuquerque: “Bem, quando analisamos os pontos negativos dessas eleições podemos ver os reflexos de como se desenvolveram as campanhas. O ataque ferrenho, a votação nas urnas eletrônicas, o que gerou uma dificuldade em muitas sessões eleitorais, pois qualquer problema que se identificava em uma urna, já se questionava, se era ou não seguro o sistema de votação, justamente, induzidos pela campanha contra a segurança da urna eletrônica. Até queda de energia acabou se tornando em denúncia, entendendo que poderia ser uma fraude”, pontuou.
O especialista ainda citou outros pontos, como, por exemplo, os confrontos entre os eleitores, as agressões inclusive entre brasileiros em outros países, como Portugal, e as filas de espera provocadas em grande parte pelo sistema biométrico. “Fora isso tivemos reclamações comuns quanto a muita fila de espera, até por que houve um grande movimento de eleitores, em busca de conceder os votos para os seus candidato e com isso, muitas sessões tiveram eleitores com necessidades especiais, o que gerou filas incomuns e foi motivo de reclamação”, pontuou.
Quem também confirma o impasse nas urnas eletrônicas e as consequentes discussões foi o sociólogo político Paulo Cabral. Para ele, as urnas eletrônicas são um extraordinário avanço que o Brasil conseguiu realizar. São mencionadas em todo o mundo como uma proposta efetiva para a modernização, principalmente da apuração das eleições.
“No passado com a foto no papel e com aquelas urnas indevassáveis, como eram chamadas, houve muita falcatrua, eu mesmo quando fiscal de apuração, constatei a anulação de uma urna das Moreninhas, onde havia 11 votos para um determinado candidato, o chamado voto correntinha, que era quando algum sujeito entrava com alguma cédula já preenchida e pagava pessoas na fila de votação para que depositassem na urna, eram votos impugnados”, comentou Paulo.
Mesmo assim, o sociólogo político Tito Machado conta que o debate de desconfiança sobre as urnas eletrônicas é colocado como normal, já que passamos quase um século votando no papel e de repente se inicia uma votação em um sistema eletrônico, mas que, em sua opinião, a urna é um dos aparelhos mais confiáveis e que é procurada por outros países para ser implantada em outros países.
“Nunca conseguiu se provar que a urna não seja confiável ou violável. Então a urna ela vai se adaptando, algumas pessoas têm dúvidas que vão se dissipando, ela tem se provado algo efetivamente confiável, tanto que está sendo estudada para ser implantada em outros países. Acredito que a urna é um instrumento importante, o Brasil dá um salto de qualidade na frente do restante do mundo no sistema eleitoral. É normal ter um conjunto de pessoas que ainda desconfiam, mas existem pessoas mal-intencionadas, que se manifestam ou lançam criticar a fim de prejudicar o processo eleitoral.”
Por Claudemir Candido – Jornal O Estado do MS.
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