Entre as reclamações está o cancelamento de viagens pelos motoristas
Por Suelen Morales – Jornal O Estado do MS
O número de reclamações dos usuários de aplicativos de corrida urbana não para de crescer em 2022. Entre as principais queixas dos campo-grandenses estão o cancelamento recorrente de corridas, espera de mais de 1 hora e dificuldade no transporte de idosos, pessoas com mobilidade reduzida e deficientes, sobretudo em supermercados ou condomínios.
A situação fica ainda mais delicada com o relato de passageiros PcDs (pessoas com deficiência) que apontam que sofreram discriminação ao tentar uma corrida pelos aplicativos. Um guia de acessibilidade disponibilizado pela própria Uber destaca aos motoristas que um cliente PcD “poderá se movimentar de forma mais lenta”, “tenha paciência” e que “possivelmente precisará da sua ajuda”. Entretanto, na prática isso não vem ocorrendo. Para evitar situações constrangedores, a modelo e assistente administrativa Lis Valiente, 31, informou que prefere avisar antes o motorista sobre sua deficiência.
“Venho passando por isso há alguns meses. A última vez solicitei um Uber comfort por ser maior o porta-malas, mesmo a minha cadeira sendo compacta e cabendo até em um Uno. O motorista aceitou a corrida e quando me viu disse que ‘não leva cadeirante’. E ainda não quis cancelar a viagem, pra ele não perder a corrida. Da outra vez o motorista fechou a porta na minha cara e falou que não era obrigado a levar cadeirante. Eu estava na Afonso Pena, em direção a minha casa no Guanandi. Eu sempre aviso antes que sou cadeirante pra não sofrer com isso”, relatou.
De acordo com o presidente do Aplic-MS (Sindicato dos Motoristas de Aplicativo), Paulo Pinheiro, as pessoas com deficiência devem comunicar com antecedência ao motorista.
“Às vezes o veículo não tem condições de transportar essa cadeira, não cabe. Porque ele não tem carro apropriado para isso, infelizmente. Então orientamos que é bom as pessoas avisarem o motorista. Aqueles que têm condições de transportar vão até o passageiro”, disse, explicando que o mesmo ocorre em supermercados.
Já a enfermeira Danyelle Duim, 37, que mora no residencial Damha IV, contou que é recorrente a dificuldade em conseguir uma corrida. “É muito difícil. Os motoristas não gostam de entrar dentro do condomínio, acham burocrático demais e sempre cancelam. Já passei horas tentando conseguir uma corrida, sem sucesso”, disse.
O mesmo ocorreu com a aposentada Neuza Pereira de Freitas, 65, que reside no Condomínio Village Parati. Dessa vez com o aplicativo de corridas 99 Pop. “Aconteceu de três de cancelarem a corrida. Em duas delas eu estava com caixas bem pesadas. Apesar de morar perto da portaria, agora eu desisti de esperar na minha casa e vou andando até lá fora do condomínio”, desabafou.
A respeito dos cancelamentos recorrentes, o presidente do sindicato afirmou que diminuiu a frota de veículos e que os motoristas estão preferindo migrar para as corridas de motocicleta.
“Muitas vezes não compensa o motorista se deslocar até a origem do passageiro e levar até o seu destino. O que ele vai gastar de gasolina o que ele vai ganhar com a corrida, não paga nem a metade da gasolina que consumiu”, apontou o presidente da Aplic-MS.
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa Uber esclareceu que motoristas que cancelam corridas serão punidos e que os usuários devem reportar o caso à empresa, bem como as queixas de atitudes discriminatórias. “A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas.”
Operação Viagem Cancelada
Cabe relembrar que, em junho deste ano, foi deflagrada a Operação denominada “Viagem Cancelada”, pelas Procon-MS, Procon Municipal de Campo Grande e Decon-MS (Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor). Conforme uma pesquisa quantitativa da Procon CG, das 354 pessoas entrevistadas, apenas 25,4% disseram estar satisfeitas com os serviços prestados pela Uber.
Além das denúncias constantes dos consumidores, o escritório não possuía Alvará de Localização e Funcionamento, bem como ausência de informações claras aos consumidores. A suspensão segue por tempo indeterminado.
A Justiça dos Estados Unidos multou a Uber, em julho, em US$ 2 milhões (R$ 10,8 milhões) por cobrar taxas extras de PcDs (pessoas com deficiência).
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