Paralisação de motoristas de ônibus afeta rotina e o bolso de trabalhadores da capital

Ônibus
Foto: João Gabriel Vilalba

A paralisação dos motoristas de transporte coletivo, ocorrida na última quarta-feira (18), afetou a rotina de boa parte dos moradores de Campo Grande. Sem o serviço de transporte público, os trabalhadores precisaram mobilizar outras opções de deslocamento, como caronas e aplicativos de transporte particular.

O manobrista, Flávio de Oliveira, de 48 anos, foi um dos usuários do transporte público que precisou pensar em alternativas para chegar ao trabalho. “Ontem foi caótico. Eu gastei R$16 na ida e R$34 na volta. Eu fui de moto, pelo aplicativo, mas na volta estava chovendo, então gastei esse valor na volta, porque fui de carro. Esse dinheiro, infelizmente, não tem retorno”.

Segundo ele, para chegar ao trabalho, ele precisa pegar três ônibus diferentes. Entretanto, apesar de depender do transporte público, Flávio reforça que a paralisação dos motoristas é legítima. “Eu penso assim: acho que os motoristas precisam ser mais valorizados pela empresa, o Consórcio Guaicurus. Eu não sei se a Prefeitura tem tanto a ver com isso. Os caras têm uma responsabilidade grande. Eles pegam estudantes, idosos, cadeirantes, gestantes e deficientes visuais. É preciso ter uma consideração maior com os motoristas, então eu concordo com o aumento do salário deles”.

O estagiário da Cassems, Guilherme Leite, de 19 anos, não conseguiu ir ao trabalho, já que precisa utilizar três ônibus. “Ontem eu precisava ir ao estágio, mas não consegui ir. Depois de conversar com o meu gestor, eu pude repor as horas de trabalho perdidas. Mas é complicado isso, porque se eu fosse obrigado a ir, provavelmente eu gastaria uns 100 reais, só para ir ao trabalho e depois voltar para casa”, comenta.

Apesar de utilizar com frequência o transporte coletivo, a aposentada Neide de Oliveira França, de 70 anos, não foi afetada pela paralisação na última quarta-feira (18), já que não tinha nenhum compromisso marcado. “Eu uso bastante ônibus, para ir ao banco, ao laboratório e às clínicas. Ontem eu não saí, então não fui afetada”.

Aumento de passagem

Na quarta-feira (18), em audiência de conciliação no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), foram discutidas propostas de aumento no valor da passagem.

Na reunião, que teve a presença de motoristas do transporte público, representantes do Consórcio Guaicurus e a prefeita Adriane Lopes (Patriotas), foi apresentada a proposta de reajuste da tarifa técnica em R$ 5,80, a partir dos estudos da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) emitiu.

Com isso, o valor final do “passe” pode ser redefinido entre R$ 4,65 e R$ 4,80. Com os subsídios do governo federal, estadual e dos municípios que chegaram a R$ 11 milhões no ano passado, é possível reduzir o valor final da passagem de ônibus à população.

Apesar de entenderem que o reajuste é necessário, alguns usuários ainda se preocupam com o aumento da passagem. “Eu acho que esse aumento precisa ser bem estudado e analisado, para não afetar tanto os usuários de transporte coletivo, como é meu caso”, comenta o manobrista, Flávio de Oliveira.

No caso do estagiário Guilherme, a empresa paga seu passe, mas ele aponta que não conseguiria pagar um valor muito alto. “Vai ser complicado isso aí. Eu não tenho como pagar um valor tão alto. A empresa paga para eu ir, mas se tiver que sair do meu bolso, não vai dar”.

Devido a idade, Neide comentou que utiliza o serviço gratuito de passe para idosos, mas aponta que se não tivesse o serviço, seria muito afetada. “Para pegar o meus exames, pego uns três ônibus. Mas como eu não estou pagando, já que tenho o passe do idoso, não pesa tanto. Só que se eu estivesse pagando, ia ser muito difícil”.

Os usuários também reclamaram da falta de qualidade no serviço de transporte em Campo Grande. Para eles, falta uma melhor condição nos ônibus, além de aumentar o número de veículos em horários de pico. “Sem contar que alguns ônibus estão em péssima qualidade. Também falta colocar mais ônibus em circulação nos horários de pico. A gente sempre vai tudo espremido”, comenta Flávio.

Entenda a paralisação

A paralisação do serviço, ocorrida na terça-feira (17), se deu pela falta de acordo por parte do Consórcio Guaicurus, em relação ao reajuste salarial dos trabalhadores da categoria.

Desde novembro de 2022, os motoristas pedem pelo reajuste de 16% mais a manutenção dos benefícios, sendo eles plano de saúde, ticket alimentação e participação nos lucros, enquanto foi oferecido apenas 6,4% de aumento.

De acordo com o presidente do STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande), Demétrio Ferreira de Freitas, caso o pedido de reajuste não seja acatado pelo Consórcio, os motoristas entrarão em greve por tempo indeterminado.“Estamos aguardando uma devolutiva, mas até agora nada, temos uma assembleia marcada para sábado onde será votada uma greve por tempo indeterminado. Amanhã os ônibus irão voltar porque se estendermos sem uma assembleia terá consequências”, destacou.

Com informações do repórter João Gabriel Vilalba e Suelen Morales

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