Para se livrar de dívidas, alternativa é o uso de cartão de débito e caderneta para anotar gastos.

Foto: Marcos Maluf
Foto: Marcos Maluf

Especialistas reforçam que queda é baixíssima comparada ao número de endividados no país.

 

Quitar as dividias pode ser um desafio para muitas pessoas, e atualmente no Brasil cerca de 72,50 milhões de brasileiros estão em situação de inadimplência. Com sinais da recuperação da economia do país, dados apontam que houve uma queda no endividamento nos últimos meses. Essa queda pode estar associada a uma série de fatores econômicos e políticas governamentais.

Dados divulgados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) por meio da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) apontam que houve uma redução no nível de endividamento dos consumidores de junho para julho.

Os dados indicam que cerca de 78,5% das famílias brasileiras foram beneficiadas com a queda, uma redução de 0,3 ponto percentual, se destacando como o primeiro recuo no indicador desde o mês de fevereiro.

Para este levantamento de dados, a CNC entrevistou cerca de 18 mil famílias de diversos estados do país. As dívidas analisadas envolvem cartões de créditos, cheques especiais, carnês de lojas, créditos consignados, empréstimos pessoais, cheques pré-datados e prestações de carros e casas.

Os dados da Peic apontam que quanto menor o poder aquisitivo, maior o endividamento das famílias.

Em 2022 o estudante universitário, Gabriel Coelho, de 23 anos, acumulou uma dívida no cartão de crédito no valor de R$ 370 reais após comprar uma caixa de som parcelada em 12x.

Por não conseguir pagar as parcelas, a conta ficou acumulada em R$ 6 mil, ao longo de dois anos, devido aos juros do banco. “Meu cartão tanto de débito quanto de crédito ficaram bloqueados, então para comprar itens pessoais ou ajudar em minha casa era só com dinheiro físico ou pix. Além de me afetar financeiramente, a dívida afetou também o meu psicológico, ficava muitas vezes muito ansioso e depressivo pensando em como organizar minhas dívidas e como ajudar os meus pais dentro de casa”.

Para Gabriel, o primeiro passo para pagar o cartão de crédito era arrumar um emprego estável ainda no começo deste ano, e a oportunidade surgiu em fevereiro de 2024 em um bar localizado na 14 de julho.

“Trabalho como atendente e recebo por hora e semanalmente. Então ali eu já vi uma esperança de quitar as parcelas do meu cartão”. Com o emprego estabilizado, o estudante conseguiu pagar as dívidas após o banco oferecer um desconto de 86% e deixar a dívida no valor para R$ 824.

Depois da crise financeira, Gabriel utiliza estratégias e métodos para conter os gastos e evitar de ter as contas bloqueadas novamente. “O cartão de crédito só estou usando para urgências e necessidades dentro de casa, agora só uso o cartão de débito tenho uma noção do quanto posso gastar. Outro método que tenho realizado é anotar os gastos que tenho feito e anotar o que pode ser destinado para meus gastos pessoais e para ajudar em casa”.

 

Visão de uma economista

Mesmo aparentando sinais positivos para uma diminuição de endividados, ainda existem desafios para manter essa queda no mapa da inadimplência e negociação de dívidas do país. A economista Andreia Saragoça afirma que por mais que os dados apontem uma diminuição, ela é pequena perto da quantidade de pessoas entram em dívidas.

“Quando os dados apontam uma diminuição dos endividados percebe-se que este número é baixíssimo, sendo quase imperceptível quando se compara com a quantidade de pessoas que se endividaram nos últimos anos”.

Andreia explica que a redução do endividamento se dá justamente por programas voltados a população de classe média baixa que reduzem o uso de cartões de créditos. “Não acredito que houve esta redução efetiva para as dívidas, vejo que teve uma mudança de comportamento devido aos recursos públicos. Projetos como o Bolsa família contribuem para que a população mais carente possa comprar alimentos e produtos para a família sem que utilizem de cartões de crédito”.

Segundo a economista, a falta de um planejamento financeiro é outro fator que acarreta em dívidas e afastam a população de compras que exigem um dinheiro guardado. “Por falta do ensino da educação financeira muitas famílias deixam de fazer orçamento anual de gastos. Deixando de saber oque vão ter de despesa e que possam se planejar para a compras de itens domésticas, reformas e investimentos familiares”.

Andreia afirma que a educação financeira nas famílias brasileiras é essencial para a formação da mudança de atitudes que levam ao consumismo e dívidas.

“As pessoas quem tem comportamentos que levam ao endividamento devem identificar qual é a realidade financeira dessa população. Devemos entender que nossos ganhos são limitados e nossos gastos são finitos. Como nosso dinheiro é limitado devemos decidir corretamente como vamos gastar”.

 

Por João Pedro Buchara

 

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