‘Outubro Rosa é importante para lembrar as mulheres’, diz diretor técnico do Hospital de Câncer Alfredo Abrão

Dr. Gustavo Ianaze
Foto: Nilson Figueiredo

Segundo o diretor técnico, Dr. Gustavo Ianaze, o Outubro Rosa é importante para lembrar as mulheres que ainda não fizeram o exame 

Para o diretor técnico do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, Dr. Gustavo Ianaze, a campanha do Outubro Rosa é fundamental para lembrar as mulheres de colocar em dia a mamografia. Exame que, segundo o médico oncologista, é fundamental na detecção precoce do câncer de mama. Entretanto, para mulheres acima dos 40 anos, o recomendado é que, além da mamografia, ela faça também o ultrassom.

“É importante que sejam feitos os dois exames, pois cada um deles visualiza um tipo de alteração na mama. Essas campanhas são importantes para tocarmos no assunto e relembrar as pacientes. Com a detecção precoce, na grande maioria das vezes, a chance de cura é muito alta”, reforça.

Ainda conforme o Dr. Gustavo, com a pandemia da covid-19 muitas mulheres deixaram de realizar o exame anualmente e muitas têm recebido um diagnóstico tardio, estágio três ou quatro, já metastático.

“Se a detecção é feita no grau um ou dois, na fase inicial, na grande maioria das vezes conseguimos fazer uma cirurgia conservadora, sem a necessidade de tirar a mama toda. Uma cirurgia conservadora só é equivalente a uma mastectomia quando é associada à radioterapia. Sempre depois da cirurgia conservadora é necessário oferecer radioterapia. Na maioria das vezes, a paciente já tá curada”, afirma.

Apesar disso, neste ano, durante todo o mês de concientização, o hospital conseguiu, pela primeira vez, atingir 100% das vagas ofertadas, tendo quase 1,2 mil mamografias feitas.

O Estado: Qual a importância da campanha Outubro Rosa?

Dr. Gustavo: Para nós, é importante voltar a falar desse tema, do câncer de mama, para lembrarmos as mulheres que ainda não fizeram os exames este ano para que venham fazer e colocar em dia. A mamografia é um exame extremamente eficaz na detecção precoce do câncer de mama. A gente precisa lembrar que as mulheres acima de 40 anos têm que fazer a mamografia e o ultrassom juntos. É importante que se façam os dois exames, pois cada um visualiza um tipo de alteração na mama. Essas campanhas são importantes para tocarmos no assunto e relembrar as pacientes. Com a detecção precoce, na grande maioria das vezes, a chance de cura é muito alta.

O Estado: Quais serviços serão realizados neste ano, durante o mês de conscientização?

Dr. Gustavo: O serviço de mamografia é feito o ano todo, para as pacientes do hospital e para as que são reguladas com suspeita de câncer. O Hospital de Câncer tem todas as especialidades, exceto a neurologia, a parte de cabeça, mas a parte de cirurgia oncológica, cabeça e pescoço, plástica, pele, pulmão… Todo o restante nós temos. Todo o serviço do Outubro Rosa ocorre o ano todo, para as pacientes.

O Estado: Não há procura espontânea? Uma pessoa que desconfia de um “caroço” após o autoexame, não consegue o atendimento direto aqui?

Dr. Gustavo: Todas as vagas são da Prefeitura. Então, funciona assim: se a pessoa sentiu que tem um nódulo e quer ser tratada aqui, ela tem que ir até a Unidade Básica de Saúde, pedir o encaminhamento, em que o Sistema Regulador (Sisreg) vai encaminhar, mas a paciente pode pedir que seja encaminhada para cá, em caso de suspeita maligna. Já quando o caso é benigno, a paciente será encaminhada para o mastologista.

O Estado: Quantos casos são detectados anualmente, em Campo Grande e no Estado?

Dr. Gustavo: A estimativa de incidência de 2023, se não me engano, era de 910 casos e no Brasil, quase 50 mil. Ano passado, a gente fez quase 1,4 mil mamografias, 10% vieram com alterações, três pacientes tiveram o diagnóstico positivo para o câncer e estão tratando aqui.

O Estado: Os exames preventivos e o exame das mamas são capazes de detectar quais tipos de câncer?

Dr. Gustavo: Quando uma pessoa paga para fazer um check- -up, principalmente no caso da mulher, o médico sempre pede para verificar colesterol, glicose e ácido úrico. Tudo bem, é ótimo fazer exames de sangue, mas ele não serve para ver todo o organismo. Então, o que eu sempre recomendo: converse com a sua família, veja se tem antecedente de câncer. Tem histórico de mama, estômago, intestino etc? Nesse órgão você tem que ter mais cuidado. Por exemplo, na minha família tem histórico de câncer de intestino, tenho 39 anos, mas já fiz uma colonoscopia, sendo que não precisava, mas, como já teve caso na minha família, é necessário procurar antes. É sempre importante fazer pelo menos uma vez por ano, olhar a tireóide, pulmão, as mulheres a parte de mama e ginecológica, e ultrassom de abdômen para todos. Há pacientes que a gente precisa fazer endoscopia e colonoscopia. É viável para todos realizar esses exames? Talvez não, mas se a pessoa tem acesso e pode fazer, uma vez por ano, que faça. Claro, pessoas com histórico de problemas no coração devem ir ao cardiologista. Não se morre só de câncer, pois o que mata mais hoje em dia são doenças cardiovasculares; câncer está em segundo lugar. Outra coisa, não adianta só fazer exames se fuma, bebe e não faz exercícios [físicos]. É no dia a dia que previnimos doenças, é importante comer direito, não fumar, beber com moderação, fazer atividade física regularmente. Atividade física regular é todo dia! Não é uma vez por semana, mas todos os dias! Dormir direito, não deixar o estresse dominar, reservar um momento para fazer algo que gosta e descansar a mente.

O Estado: Existem casos de câncer por fatores genéticos, hormonais e ambiental. Qual a diferença do tipo de mulheres vítimas dessas doenças?

Dr. Gustavo: O pior fator de risco é a idade, pois quanto mais envelhece, mais a mulher vai tendo chances de ter câncer de mama. A causa genética só é responsável por 5 a 10% dos casos. 90% é ambiental, relacionado ao que se come e estilo de vida.

Causas genéticas: o que seria interessante é a pessoa fazer os exames de Pesquisa de BRCA1 e BRCA2, que é o exame que a Angelina Jolie fez. Nesse exame, o laboratório colhe uma amostra de sangue, que deve custar uns R$ 1 mil. É caro, mas com o histórico na família, se identificado o BRCA1, ela pode ter mais chances de ter câncer de mama. A Angelina Jolie encontrou a mutação, mas não tinha o câncer e mesmo assim optou por fazer uma adenomastectomia, retirou toda a glândula mamária e colocou prótese de silicone. É um exagero? Depende do ponto de vista. Já quem tem mutação do BRCA2 tem mais chances de ter câncer de ovário. A Angelina Jolie também apresentou essa mutação! Aí ela retirou os ovários também. Então, quando encontram-se essas mutações é preciso fazer a retirada das glândulas mamárias e dos ovários, como ela fez? Teoricamente não, mas você precisa de um acompanhamento mais de perto, com exames mais frequentes, como transvaginal duas vezes por ano; ultrassom da mama, também duas vezes por ano. Existe o grau de classificação em bi rads, que mede os níveis de um a cinco. O câncer um, dois e três bi rads são mais para o benigno, enquanto do quatro para a frente é preciso fazer uma biópsia, com aquela agulha grossa (punção). É desconfortável, mas é a única que dá o diagnóstico preciso. Fez a biópsia e o resultado foi de “fibroadenoma”, mais comum em mulheres jovens, é totalmente benigno. Tem alguns casos, como os de fibroadenomas muito grandes, aí é preciso passar pela cirurgia, mas a maioria não evolui para maligno e só é necessário ficar acompanhando.

O Estado: Quais os tipos de câncer mais detectados?

Dr. Gustavo: O câncer de mama é só um dos tipos de cânceres, têm com vários nomes, como ductal, lobula. São tipos de histológicos, ou seja, o tecido é diferente. 80% dos casos de câncer de mama nasce no ducto mamário, mas com subtipos diferentes de perfis moleculares.

Perfil molecular é se ele é responsivo aos homônios ou não, quando é positivo os próprios hormônios da mulher [estrogênio e progesterona] influenciam na presença do câncer. Tem uma coisa “Her2 positivo”, que pesquisamos para ver se o câncer precisa de um tipo específico de tratamento.

Ainda tem o exame de numesto química, realizado junto com a biópsia, em que pesquisamos o receptor de estrogênio, receptor de progesterona, Her2 e o Ki-67. O Ki-67 é o índice de replicação, de multiplicação da doença. Esses quatro fatores determinam o perfil molecular do câncer.

Por isso eu digo que não adianta uma paciente comparar seu tratamento com outro, pois cada caso é um caso. A porcentagem positiva muda tudo, durante o tratamento.

O Estado: Após a pandemia, quando muitas mulheres deixaram de realizar os exames preventivos, já foi possível notar um aumento de casos?

Dr. Gustavo: Temos percebido que as pacientes têm chegado com diagnóstico tardio, em estágio três ou quatro, já metastático. Muitas pacientes deixaram de fazer os exames, agora estão chegando com um diagnóstico atrasado e, muitas vezes, isso pesa na fase da cura.

O Estado: Qual a importância da detecção precoce?

Dr. Gustavo: Se a detecção é feita no grau um ou dois, na fase inicial, na grande maioria das vezes conseguimos fazer uma cirurgia conservadora, sem a necessidade de tirar a mama toda. Uma cirurgia conservadora só é equivalente a uma mastectomia quando é associada à radioterapia. Sempre depois da cirurgia conservadora é necessário oferecer radioterapia. O diagnóstico precoce é importante porque, quando encontramos um nódulo pequenininho, fazemos esse processo e acaba. Na maioria das vezes, a paciente já está curada.

O Estado: Qual a diferença entre a rádio e a quimioterapia?

Dr. Gustavo: A rádio traz o efeito local, na pele e subcutâneo. A quimio traz efeitos no corpo todo, como náuseas e queda de cabelo. São terapias diferentes e “melhor ou pior”, depende de cada paciente.

O Estado: Quanto tempo demora para que os exames sejam coletados e realizados?

Dr. Gustavo: Entre a paciente chegar no consultório com a suspeita do câncer, em no máximo 2 ou 3 dias tem que passar pela biópsia, em no máximo 7 dias o resultado está pronto. A partir do resultado pronto fazemos os exames de estadiamento nas outras áreas do corpo. Feito tudo isso, que não pode passar de 30 dias, indicamos o tratamento.

O Estado: Todos esses exames são feitos aqui?

Dr. Gustavo: O único exame que não é feito aqui é a cintilografia óssea, mas a paciente é encaminhada a um local credenciado.

O Estado: Neste mês de conscientização, já houve um aumento na procura?

Dr. Gustavo: Esse ano, pela primeira vez, conseguimos atingir 100% das vagas ofertadas e, nesse momento, se não me engano, quase 1,2 mil exames já foram feitos, em que 10 ou 15 apresentaram alterações e a necessidade de consulta médica.

O Estado: Qual recomendação deixa para as mulheres, neste mês do Outubro Rosa?

Dr. Gustavo: A paciente precisa dormir bem, descansar o seu organismo para acordar descansado, pois um sono de qualidade é com no mínimo 7 horas, sem despertar durante a noite.

Na alimentação, a dica básica é: evitar açúcar e carboidratos em excesso, como derivados de trigo. Isso realmente não é interessante para o seu organismo, não fará bem. Procure uma proteína de qualidade, como carnes e ovos.

Faça atividades aeróbicas, como caminhada e natação, algo que goste, associada à musculação. Cada vez que vamos envelhecendo, não é só o câncer que é motivo de preocupação, também o são as doenças cardiovasculares. É importante tentar se manter tranquila. Se a cabeça está só no futuro, isso causará estresse e é extremamente prejudicial para o organismo, por isso essa pandemia de diagnósticos oncológicos.

O Estado: As pessoas ainda associam a atividade física ao estilo de vida mais caro?

Dr Gustavo: Se hoje me perguntarem “qual a pior coisa que eu posso fazer para aumentar as chances de ter câncer” é claro que colocamos o cigarro lá em cima, mas o sedentarismo está só um degrau abaixo do tabagismo. A grande maioria das pessoas é sedentária! Jogar futebol uma vez por semana, caminhada dois dias na semana não valem nada. Atividade física tem que ser igual a escovar os dentes! Tem que ter o horário dedicado para isso todos os dias.

O Estado: Qual é a estrutura disponível no Hospital do Câncer para esses atendimentos?

Dr Gustavo: Paciente chega aqui no Hospital, regulado, passará pela primeira consulta, seu prontuário será aberto. Quem acompanha as consultas é um técnico de enfermagem e enfermeiros, até passar pelo médico.Temos as especialidades oncológicas de mastologia, ginecologia, cirurgia de cabeça e pescoço, plástica para reconstrução mamária e de pele, temos equipe de tórax, abdômen e ortopedia. Temos nutrição, psicologia, serviço de odontologia e curativos. Então, o Hospital tem todos os serviços que o paciente precisar durante o tratamento oncológico.

Por –Kamila Alcântara

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *