Médico oncologista destaca que embora já exista no Brasil, custo do procedimento é alto
Milhares de pessoas pelo mundo estão lutando contra o câncer. Recentemente, um paciente brasileiro celebrou a vitória contra a doença. A conquista se deu por meio de um tratamento com as próprias células de defesa, modificadas em laboratório: a chamada CAR-T Cell. Apesar de trazer esperança para muitos dos pacientes que lutam contra a doença, em Mato Grosso do Sul o cenário ainda é distante, devido ao alto custo necessário para realizar os procedimentos. Ao jornal O Estado, o diretor-geral do Hospital de Câncer de Campo Grande – Alfredo Abrão, Dr. Gustavo Medeiros, explicou detalhes sobre o novo método de tratamento.
De acordo com o oncologista, o método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível, no país. “Esse é um tratamento novo no Brasil. Ele foi desenvolvido pelos americanos desde o ano de 2010, então, ainda é experimental, ou seja, necessita que o paciente dê autorização, pois é necessário retirar as células de defesa do organismo dele e fazer uma modificação genética, em laboratório. Com engenharia genética dessas células, então elas são reimplantadas no organismo do paciente doente, para que elas possam atuar contra o câncer.”
Atuando como uma “super célula”, conforme o especialista em oncologia, elas darão suporte para que o organismo do paciente consiga combater o câncer com as próprias células de defesa. “No caso do paciente que realizou esse procedimento na cidade de São Paulo, recentemente, ele foi submetido a um tratamento considerado revolucionário no combate à doença e, em apenas um mês, teve remissão completa do linfoma”, explicou ele, à reportagem.
Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell. O estudo usa verbas da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Todos os pacientes tratados tiveram remissão de, ao menos, 60% dos tumores. A recuperação foi no SUS (Sistema Único de Saúde).
No ponto de vista do Dr. Gustavo, isso pode trazer esperança para os pacientes que travam batalha contra a doença. “Os resultados são muito animadores. Os estudos, hoje, mostram curas acima de 50%, principalmente em pacientes terminais. Então, os pacientes dos estudos, principalmente os brasileiros, têm a doença em estágios finais, que já foram submetidos a vários tipos de medicamento, a vários tratamentos e não estavam mais respondendo aos métodos.
Então, essa nova terapia vem como uma esperança muito boa para eles. Os próprios estudos no mundo já mostram taxas acima de 50% de cura e, ao longo desses 13 anos, as taxas de mortalidade, que antes eram altas, já estão abaixando. Isso porque é uma terapia que está mostrando eficácia e segurança e que, com certeza, vai trazer muita esperança a eles”, afirmou.
Em MS, infelizmente, ainda não há nenhuma previsão para que o tratamento chegue, no Estado. “Isso ainda é distante para nós, levando em consideração que se trata de uma terapia muito cara. No entanto, atualmente, ela é feita em três centros no Brasil: o Instituto Butantan, o Hemocentro Ribeirão Preto e a USP (Universidade de São Paulo). Foi investido cerca de R$ 200 milhões para que os três centros pudessem iniciar esse tratamento. Logo, ainda não há previsão de que vá para outros Estados no país, porque é uma terapia muito cara e ainda está em estudos. Em contrapartida, é uma terapia que o brasileiro tem acesso, nesses centros. Estamos avançando devagar”, salientou.
DADOS LOCAIS
Conforme o diretor-geral do Hospital de Câncer da Capital, a unidade recebe uma média de 1.800 pacientes em consultas, por mês. Outros dados também foram apresentados. “Temos uma média de 120 pacientes realizando cintilografia óssea; 180 pacientes em ressonância magnética; 180 para cirurgias oncológicas, mensal. Uma média de 50 pacientes atendidos em radioterapia; mais de mil pacientes realizam tomografias por mês, no hospital; e uma média de 10 pacientes internados em UTI, por dia”, informou.
Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), enquanto o mundo registra um crescimento do câncer de 20% na última década, no Brasil a estimativa foi de 600 mil novos casos, em 2018, número este que vem se mantendo, ao longo dos anos. Segundo levantamento, os dois tipos de câncer mais frequentes no país são os de próstata, em homens (68.220) e de câncer de mama, nas mulheres (59.700). Os outros dez tipos mais incidentes são: cólon e reto (intestino – 36.360); estômago (21.290); cavidade oral (14.700); leucemias (10.800); pulmão (31.270); colo do útero (16.370); sistema nervoso central (11.320) e esôfago (10.970).
CASO MAIS RECENTE DE REMISSÃO COMPLETA NO PAÍS
Paulo Peregrino lutava contra o câncer há 13 anos e estava prestes a receber o tratamento por meio dos cuidados paliativos quando, em abril deste ano, foi submetido a um tratamento considerado revolucionário no combate à doença e, em apenas um mês, teve remissão completa do seu linfoma.
O publicitário, 61 anos, é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos do Centro de Terapia Celular. O protocolo foi adotado pela USP, em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Paulo teve alta no último domingo (28), depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas, da cidade de São Paulo. “A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza, para qualquer pessoa, a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim. Tenho certeza de que, pelo menos, terei, modestamente, passado esperança a quem tanto precisa.
Só quero que as informações e o conhecimento adquiridos com meu caso possam servir a outros pacientes no futuro”, declarou, nas redes sociais
CUSTO DE R$ 2 MILHÕES POR PACIENTE
No Brasil, no segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o “CAR-T Cell” com verba pública, após autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para estudo clínico. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada, ao custo de R$ 2 milhões por pessoa. “Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível, em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir este tratamento no SUS, em curto período de tempo”, declarou o coordenador do Centro de Terapia Celular Dimas Covas.
Por Brenda Leitte– Jornal O Estado do MS.
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