Movimentos de mulheres se reúnem neste sábado em Campo Grande
Por Brenda Leitte e Suelen Morales – Jornal O Estado MS
Mais de quatro mil casos de violência doméstica foram registrados entre janeiro e o dia 12 de agosto em Campo Grande. O dado é alarmante principalmente por ser registrado em meados do mês de agosto, período escolhido para a campanha de conscientização do combate à violência contra a mulher, o Agosto Lilás, instituído pela Lei Estadual nº 4.969/2016; ele evidencia o crescimento dos crimes de violência doméstica e feminicídio.
Conforme o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2021, a cada 1 minuto, 8 mulheres são agredidas fisicamente. Na Capital, o número de casos indica o crescimento da violência contra a mulher e casos de feminicídio. Em 2022, 4.106 boletins de ocorrência de violência doméstica e 7 casos de feminicídio foram registrados do mês de janeiro até o dia 12 de agosto.
Em Mato Grosso do Sul, na comparação com o ano passado, a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) informou que foram registrados 32 casos de feminicídios, ao passo que neste ano foram 26 casos, até o dia 12 de agosto. A estimativa é de um possível aumento, levando em consideração que ainda restam quatro meses para encerrar o ano.
“Nós temos de traçar dois cenários: o cenário em Campo Grande desde 2015 a 2022, em que temos uma média de 5 a 8 feminicídios por ano. E hoje estamos com 6 casos de feminicídios na Capital. E o cenário estadual, em que realmente houve esse aumento, não só de feminicídio, mas também de toda a violência doméstica familiar e de gênero como um todo. Exceto o ano de 2021 que foi atípico, que houve um aumento bem acentuado de cerca de 14 feminicídios por ano”, observou a delegada titular da Deam, Elaine Benicasa.
Segundo a delegada de polícia, o machismo ainda é um dos principais causadores dos indicadores de violências e mortes de mulheres. “Infelizmente a sociedade ainda não se encontra amadurecida e preparada pra receber essa mulher que cada vez mais ganha seu espaço, seu pequeno espaço dentro de casa, seu médio ou grande espaço ocupando os lugares de poder. Um homem que ainda precisa ser trabalhado seja com informação, com a reeducação, na tenra idade, na educação aos menores sobre respeito, os princípios a igualdade em relação a outro gênero. Então obviamente nunca poderemos também esquecer de falar sobre as políticas públicas”, ponderou Benicasa.
Cabe destacar que o aumento de registros de ocorrência nem sempre é negativo. “Pode indicar que atualmente as mulheres confiam mais na rede de enfrentamento à violência e já na primeira ameaça buscam ajuda. Antigamente as mulheres e a sociedade tinham dificuldades para reconhecerem algumas condutas como sendo violentas, entendiam que eram problemas particulares daquele casal, mera briga de marido e mulher, que ninguém deveria meter a colher. A Lei Maria da Penha colaborou muito para retirar o manto da invisibilidade da violência doméstica e fazer com que as pessoas aos poucos entendessem que esta é uma luta de toda a sociedade, que estamos falando de violação de direitos humanos, que não diz respeito somente aquela mulher que é violentada dentro de casa e que a Justiça deve intervir”, assegurou a coordenadora do Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher), defensora pública Thaís Dominato.
Para o enfrentamento dessas violências, a defensora afirmou que “temos de continuar lutando para a efetividade da lei: aprimorando cada vez mais a fiscalização das medidas protetivas, fortalecendo políticas públicas de moradia, saúde, trabalho e acompanhamento psicológico das mulheres em situação de violência e inserindo em todos os níveis escolares questões sobre a equidade de gênero, conforme dispõe a legislação. Este é o caminho”, finalizou a defensora.
Divulgando a Lei Maria da Penha, a campanha “Agosto Lilás” foi lançada pelo governo estadual no dia 1º de agosto.
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