No Dia da Síndrome de Down, vitória é saber que inclusão dá de dez a zero no preconceito

Foto: Diana Pereira
Foto: Diana Pereira

No mundo em que a discriminação e a intransigência dividem, afastam e destroem laços e tantos sonhos, a palavra da vez só poderia ser inclusão. Mas não no seu sentido literal. Para quem tem síndrome de Down (condição genética caracterizada pela trissomia do cromossomo 21), ser incluso é mais que o respeito da compreensão, da tolerância pelo diferente. E também só funciona quando é posto em prática.

Uma dessas tentativas veio por meio da lei 14.306, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro no ano passado, quando então foi instituído o Dia Nacional da Síndrome de Down. Celebrado neste 21 de março, a data tem o peso da reflexão e traz a perfeita oportunidade de relembrar que – no fim das contas – o que carregamos de diferente é justamente o que nos torna iguais.

Inclusão constrói, une, respeita, promove – e dá de dez a zero no preconceito. Foto: Reprodução/Instagram

“Muito mais que essa legislação – que de fato já é um avanço e tanto – precisamos exercitar os direitos, pô-los em prática, e em todos os âmbitos sociais. Só por meio de ferramentas adequadas podemos sair vitoriosos enquanto sociedade”, pontua a neuropsicopedagoga Cristiane Alcântara.

Cris é a proprietária de um espaço voltado à educação especial. Foto: Reprodução/Instagram

Mãe de dois filhos com TEA (transtorno do espectro autista), ela é fundadora e proprietária do Espaço Neuro Aprendiz, empresa multidisciplinar em prol da educação especial. E justo neste Dia Nacional da Síndrome de Down, a reflexão não somente bate forte no peito pelo amor no que faz, mas porque também entende de perto o que significa a inclusão de crianças especiais desde o berço.

“Incluir é estimular. É o respeito prático para com o indivíduo, e desde seu nascimento. Afinal, a educação – num espectro maior do conceito – começa desde o ventre. Quanto mais a pessoa tiver experiências, mais vivências positivas, maior a possibilidade de crescimento, de evolução, de sociabilidade… em todos os aspectos”, comenta Cris.

Uma de suas alunas é pequena Nicolly “Nicky” Moreli. Com apenas 5 aninhos, ela dá um show contra o preconceito só por ter o “olhinho mais puxado”. Nada disso: puxado é ter que aturar preconceitos que não cabem mais do presente. E o seu presente é ter quase 50 mil seguidores em seu perfil nas redes sociais, seguindo como a Miss Beleza Fashion Baby & Kids – e Down.

“A importância da data é saber que o país vai se voltar a todos nós, quem tem a síndrome, mas também pais, educadores e outras pessoas do meio. Isso traz um tremento reconhecimento das pessoas especiais na sociedade brasileira. Isso muda a cabeça das pessoas. É uma longa caminhada, mas já é de vitória”, comemora Marina Martins, mãe de Nicky.

“É uma luta. Sobre inclusão, conscientização, capacistimo. Mas também é sobre amor”.

Para Cris, o suor dessa batalha participa de muitas instâncias, mas talvez a principal seja a da alfabetização. Por mais de 5 anos, ela foi servidora do Estado e também da Prefeitura de Campo Grande – ambos os cargos no segmento da educação especial. A O Estado Online, ela trouxe um triste, mas real testemunho.

“Nem todas as escolas que se dizem inclusivas o são de fato. Pior, até hoje não presenciei uma criança especial ser 100% alfabetizada só com o aprendizado na escola. Ainda, nem toda pessoa com síndrome de Down, com TEA, paralisia cerebral, etc., tem a oportunidade do estímulo que realmente precisa. Estamos mesmo ensinando ou só reproduzindo? Qual o valor, a qualidade desse investimento? Até quando vamos precisar de profissionais como eu?”, finaliza a psicopedagoga.

No registro, menino brinca de quebra-cabeça. Estímulo, aprendizado e inclusão em prática. Foto: Reprodução/Instagram

Evento

Em alusão ao Dia Nacional da Síndrome de Down, a mãe da Nicky organizou um evento para amanhã (22), a partir das 18h, no Território Livre. Com entrada gratuita, a confraternização terá àreas kids (R$ 10), além comida e bebida à venda no bar. Na ocasião, 35 famílias já confirmaram presença.

Ainda, apresentação de dança com Ana Carolina Queiroz Rodrigues, mulher Down de 32 anos. Às 19h30, haverá desfile com looks doados por parceiros, com a participação de crianças especiais na passarela. Inclusão em ação.

O Território Livre fica na avenida Bom Pastor, 1680 – Jardim Auxiliadora.

2 thoughts on “No Dia da Síndrome de Down, vitória é saber que inclusão dá de dez a zero no preconceito”

  1. São matérias como essas, que fazem com que cada dia possamos ter a oportunidade de mostrar a luta pela Inclusão Social… E fazer com que todos possam conhecer um pouco mais a respeito da Síndrome de Down … Gratidão Raul pela linda matéria.

  2. Marilia Eliana Martins

    Parabéns Cris pelas batalhas, dedicação e todos os sucessos obtidos. Parabéns para a Marina, mamãe da Nicolly, e minha filha, que se dedica de corpo e alma na luta pela inclusão e pelo desenvolvimento da Nicolly, e pelo estímulo à outras mamães.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *