“Não vamos deixar que casos assim virem moda dentro das escolas”, alega presidente da ACP

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Pai não gostou de ver filho ser abraçado por uma colega de sala de pele negra e família alega racismo

Um caso ocorrido dentro de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande chamou a atenção no final da tarde de segunda-feira (11),indignado ao ver o filho de quatro anos sendo abraçado por uma coleguinha de sala de pele negra, um homem de 32 anos, empurra a criança e a diretora da escola que tentou impedir a entrada do pai na unidade.

O caso se tornou mais grave quando a Polícia Civil começou a investigar postagens racistas do pai nas redes socais. Uma das falas diz “Morte da Negrada”. Contudo, a investigação apontou que a situação ocorrida no interior da unidade escolar não teria sido configurada como crime de racismo.

Ao jornal O Estado o Professor Gilvano Kunzler Bronzoni, presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), afirma que esse tipo de atitude racista não pode virar “moda”.

“Esse caso é preocupante um pai alimentando o racismo, nesta quarta-feira (13), uma reunião com o secretário de educação deve acontecer para abordar esse assunto. Precisamos abordar esse assunto de forma educativa com os alunos para que isso não se repita”, enfatizou.

Sem entender os motivos das agressões contra a filha de quatro anos os pais resolveram tirar a menina da escola. Os pais da menina prestaram depoimento a polícia. Tudo aconteceu no final da manhã da última segunda-feira (11), Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça. Nesta terça-feira (12), equipe de reportagem do jornal O Estado foi até a unidade de ensino ouvir os pais que acreditam na possibilidade do caso ter sido racismo.

Sônia Couto Moreira leva e busca as netas todo os dias na escola onde aconteceu a agressão e disse indignada. “Foi bem errado o que ele fez, empurrar a criança daquele jeito e arrancar o filho pequeno também, não faz o menor sentido a criança não poder abraçar a outra porque é de cor. A minha neta estuda ai, tem várias amigas negras e nunca que faria isso, tem que respeitar, somos todos humanos”, comentou.

Já Margarete Aparecida também buscas as netas na escola e não sabia do ocorrido. “Tenho duas netas que estudam nessa escola, uma de 5 e a outra de 9 anos, se fosse om uma delas eu me metia na frente desse pai, eu não tolero nenhum tipo de agressão contra as minhas meninas, contra ninguém na verdade, eu não vi essa situação, mas não deixaria passar se tivesse presenciado. As crianças são inocentes, não merecem isso, independente de qualquer coisa, devemos respeitar uns aos outros”, finalizou.

Violência nítida
A reportagem entrou em contato com a defesa da família da vítima, as advogadas, Lione Balta Martins Cardozo e Flávia Heloisa Anselmo, informou que o pai do menino invadiu a escola, no qual é proibida a entrada de pessoas que não trabalhem ou estudem no local, após, visualizar a criança dando um abraço em seu filho.

“No momento do ocorrido, a diretora estava na grade, pois recepcionava as crianças para o início do dia letivo, quando também foi agredida ao ser empurrada, momento em que ele forçou sua entrada. O pai adentra ao local, empurra a criança, desfere palavras e sai com o filho escola à fora. Em depoimento, a diretora confirma os fatos narrados, e alega ainda que dentro de sua sala, enquanto fazia a ata do ocorrido, o acusado permanecia ordenando ao filho que batesse na coleguinha em situações semelhantes. As imagens são claras e chocam, ao mostrar que a menina havia apenas dado um rápido abraço no coleguinha ao chegar, como um cumprimento infantil e afetuoso entre crianças. Nada mais que isso”.

Além disso, no depoimento do pai da criança, ele admite o que fez e alega apenas ter ficado com raiva e nervoso ao ver a criança abraçando seu filho, sem maiores ou outras justificativas. E, admite ainda que já ordenou que o filho desse “uma porrada” na criança, caso ele fosse “importunado”. “A violência é nítida e estarrecedora”, finaliza a nota à imprensa.

Prejuízos psicológicos
Para a psicóloga Carla Comin Dalpasquale, a formação da personalidade se firma, junto a outros fatores, no olhar que recebemos daqueles que nos cercam. A princípio, o olhar direcionado pelos nossos cuidadores afirma e conta quem somos e qual o nosso lugar naquela família. “A medida que crescemos, outras figuras se juntam a esse propósito: professores, figuras públicas, colegas e a sociedade em geral. Uma criança vítima de qualquer tipo de discriminação, pode ter sua auto estima e segurança abaladas, vindo inclusive a acreditar que a sua aparência, forma física, cor ou gênero são motivos justificáveis para a agressão vivida”, esclareceu.

 

Por Thays Schneider e Inez Nazira

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