“Não tenho como chegar no trabalho!”: greve de ônibus paralisa terminais e deixa usuários sem transporte em Campo Grande

Fachada do Terminal Júlio de Castilho - Foto: Nilson Figueiredo
Fachada do Terminal Júlio de Castilho - Foto: Nilson Figueiredo

A segunda-feira (15) começou de forma atípica em Campo Grande com a paralisação total do transporte coletivo urbano. Conforme anunciado pelo STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande), motoristas do Consórcio Guaicurus cruzaram os braços em protesto contra atrasos no pagamento de salários, mesmo após o repasse de 50% dos valores devidos.

A reportagem de O Estado Online esteve no Terminal Júlio de Castilho, na região oeste da Capital, onde os portões permaneceram fechados e não havia circulação de passageiros. A situação se repetia nos demais terminais da cidade, deixando milhares de usuários sem alternativa de deslocamento logo no início da semana.

Moradora do Jardim Panamá, Aparecida Nunes de Melo depende do ônibus para chegar ao trabalho, no bairro Pioneiros, utilizando as linhas Terminal Júlio de Castilho–Terminal Morenão e Roselândia. Apesar dos transtornos, ela afirmou apoiar o movimento grevista.

Terminal Júlio de Castilho com portões fechados, devido a paralisação dos motoristas – Foto: Nilson Figueiredo

“A paralisação atrapalha, mas os motoristas estão no direito deles, ninguém é obrigado a trabalhar de graça. Eu apoio eles, estão certos. Estou aguardando para ver se alguém do meu trabalho pode vir me buscar. Não tenho como chegar no trabalho. Na outra paralisação, o preço do carro por aplicativo chegou a R$ 60, não tenho condições de pagar”, relatou.

A greve foi aprovada em assembleia realizada na quinta-feira (11) e, segundo o sindicato, será mantida até que sejam quitados integralmente os salários de novembro, a segunda parcela do 13º salário e demais benefícios. A paralisação deve afetar diretamente mais de 100 mil usuários do transporte coletivo na Capital.

Garagem do Consórcio Guaicurus, no bairro Ana Maria do Couto – Foto: Juliana Aguiar

O movimento ocorre em meio a um impasse entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura de Campo Grande. A concessionária atribui a crise financeira à falta de recursos e à dificuldade de acesso a crédito, enquanto o município afirma que os repasses estão em dia e contesta a legalidade da greve, inclusive sinalizando a possibilidade de medidas administrativas.

No domingo (14), o desembargador Cesar Palumbo, do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, concedeu liminar determinando que ao menos 70% da frota opere durante a paralisação, por se tratar de serviço essencial, sob pena de multa diária de R$ 20 mil. Também foi marcada audiência de conciliação para esta terça-feira e determinada a notificação imediata do sindicato.

Apesar da decisão judicial, os ônibus permaneceram parados nesta segunda-feira. O presidente do STTCU-CG, Demétrio Freitas, afirmou que o sindicato ainda não foi oficialmente notificado e que, mesmo em caso de notificação, não há condições operacionais de colocar 70% da frota em circulação. “Hoje não tem ônibus, não tem chance nenhuma de rodar”, afirmou.

Por meio de nota o Consórcio Guaicurus informou que pagou 50% dos salários de novembro de 2025 e atribuiu o atraso e o pagamento parcial à inadimplência da Prefeitura de Campo Grande no repasse de subsídios previstos em contrato, que somariam mais de R$ 39 milhões desde 2022. Segundo a empresa, a situação compromete o equilíbrio econômico-financeiro da concessão.

O consórcio afirmou que a quitação do restante dos salários, do adiantamento de dezembro e da segunda parcela do 13º salário depende da regularização desses repasses. Destacou ainda que o transporte coletivo é serviço essencial, explicou a composição da remuneração do sistema e disse estar adotando medidas legais para garantir a continuidade mínima do serviço, apelando à compreensão da população.

A reportagem também entrou em contato com a prefeitura de Campo Grande, mas até o fechamento da matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.

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