Uma mulher, identificada como Joelma da Silva André, de 33 anos, foi morta com uma faca cravada no peito, na frente dos cinco filhos, na manhã desta quarta-feira (21), no Núcleo Industrial do Indubrasil, em Campo Grande. O autor é ex-companheiro da vítima, identificado como Leonardo da Silva Lima.
O crime ocorreu entre 6h e 6h30 da manhã, segundo informações policiais. Uma vizinha de Joelma relatou que ouviu um dos filhos da vítima gritando, com pedidos de socorro. Ela foi a casa de Joelma e a encontrou com uma faca no peito.
“Hoje de manhã eu levantei cedo, porque iria fazer uma diária. Estava tomando café, minha menina estava saindo do banheiro, do lado de fora, aí veio as crianças, gritando e pedindo socorro. O menino veio e entrou do portão da casa da minha filha, e abraçou ela, pedindo socorro. Eu já saí correndo, cheguei aqui e me deparei com esse assassino que matou ela. Vi a faca enfiada no peito, o nariz cortado. Sai correndo pra casa, porque não queria que a minha menina visse”, disse Sueli Ferreira de Freitas, de 49 anos.
Ainda segundo a moradora, Joelma era mãe de cinco crianças, com idades entre 1 e 16 anos, além de cuidar do neto. “As crianças começaram a gritar ‘socorro, socorro, chama a polícia’, e a gente ficou desorientada, a única coisa que conseguimos pensar foi nas crianças”.
Eliane de Lima, de 40 anos, também vizinha de Joelma, ainda tentou a socorrer vítima, mas alega que o resgate demorou a chegar. “Eu escutei o menininho dela gritando, e sai pra ver. Fui ver e ela tava lá no sofá, tava viva ainda, a gente ligou pro Samu, que demorou uma hora pra vir”.
Joelma e Leonardo estavam separados, após um relacionamento de aproximadamente 4 anos. O casal brigava e retomava o relacionamento, mas o autor do feminicídio acreditava que estava sendo traído. “Tinha muito tempo que eles estavam juntos, mas brigava e voltava. Só que chegou em um ponto que ela falou pra mim que não queria mais viver com ele, que não amava mais ele, que não dava mais. Ai ele vinha, e ela mandava ele embora”, conta Sueli.
Conforme a delegada da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Rafaela Lobato, o autor já foi encontrado e preso.
“Fomos acionados, nos deslocamos para cá, imediatamente outras equipes da polícia civil estavam em diligência para encontrar o autor e logramos exito, ele foi preso em flagrante, já está na Deam. Vamos estar realizando a lavratura da prisão em flagrante neste momento”. A delegada ainda informou que mais informações sobre o crime serão repassadas à tarde.
Primeiro caso
O assassinato de Joelma é o primeiro feminicídio registrado em Campo Grande em 2024, conforme dados da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Em Mato Grosso do Sul, o primeiro do ano foi registrado em Sidrolândia, no dia 3 de janeiro, com a morte de Luciene Braga Morale, de 50 anos. A vítima chegou o hospital do município morta, com sinais de espancamento. O principal suspeito é o marido, Airton Barbosa, de 45 anos, que foi preso, mas nega a autoria do crime.
O segundo caso foi registrado em São Gabriel do Oeste, nove dias depois, que vitimou Maria Rodrigues da Silva, de 66 anos, morta pelo ex, que teria cometido o crime após uma briga com o neto de Maria, e devido à posse de um veículo.
Marta Leila Silva Neto, de 36 anos, foi o terceiro caso de feminicídio em Mato Grosso do Sul em 2024, e a causa da morte seria ‘ciúmes’. O crime aconteceu em 22 de janeiro, em Coxim, e o autor foi identificado como Sipriano Nascimento de Oliveira, de 52 anos, companheiro de Marta.
A vítima e o autor mantinham um relacionamento conturbado, com idas e vindas marcadas pelo ciúme de Sipriano. Logo após uma discussão, Marta teria mandado o homem embora da residência.
Enquanto Sipriano saia do local, os dois começaram uma nova briga, momento em que a vítima pegou uma faca de cozinha e tentou desferir golpes contra o homem. Ele também se apoderou de uma faca e desferiu diversos golpes contra a vítima, que morreu no local.
Segundo a Sejusp, foram registrados quatro feminicídios em MS no ano de 2024; com a morte de Joelma o número sobre para cinco. No ano passado, 31 mulheres foram mortas no Estado e mais de 22,4 mil ocorrências registradas por violência doméstica.
Feminicídio
Feminicídio é o assassinato de mulheres por questões de gênero; ou seja, quando a vítima é mulher e quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Serviço:
Em caso de denúncia, ligue 180 para a Central de Atendimento à Mulher – a qual presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento.
O serviço também fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso: Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.
A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.
O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.
Com informações da repórter Juliana Aguiar.