‘MS pode ser o Estado mais beneficiado, desde que se esforce’, diz ex-presidente da República, Michel Temer

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Foto: Reprodução

‘Se for convidado, farei força para lá estar’, Michel Temer sobre participar do início da Rota Bioceânica: é importante encurtar distância ao mercado asiático 

O ex-presidente da República, Michel Temer (MDB), cumpre, nesta quinta-feira (21), agenda em Mato Grosso do Sul. Idealizador da Rota Bioceânica, Temer diz com entusiasmo sobre a importância deste corredor rodoviário de 2,3 mil km, que pretende ligar o oceano Atlântico aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Mato Grosso do Sul e países como Paraguai e Argentina. Para a obra resta 70% a ser concluída e deve ser entregue no fim de 2024. Temer revelou, em entrevista ao jornal O Estado, que pretende comparecer, no dia da inauguração. “Em nível de Brasil, penso que o MS, por sua posição estratégica, pode ser o Estado mais beneficiado pela nova rota, desde que se esforce para isto”, afirmou. “Se for convidado, farei força para lá estar, na inauguração”, complementa.

Temer participa de dois eventos no dia de hoje, ao lado do ex-presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez. O primeiro deles será na Assembleia Legislativa, em Campo Grande, em que será criada a Frente Parlamentar da Rota Bioceânica. Temer e Benitez recebem homenagem na ocasião, uma vez que a rota teve início em seus governos. Outro evento será receber um prêmio pela contribuição ao turismo na cidade de Bonito-MS.

Quanto à questão sobre o andamento da obra estar mais adiantada pelo lado paraguaio, Temer culpou os últimos governos, que não tiveram o mesmo comprometimento como o do Paraguai, para cumprir o cronograma, porém, classificou como “complexa” a ponte sobre o rio Paraguai, que ligará a cidade de Porto Murtinho- -MS com a cidade paraguaia de Carmelo Peralta.

“Quando encerramos o nosso governo, deixamos reservados, em Itaipu, em comum acordo com o governo paraguaio, do presidente Mário Abdo Benítez, recursos suficientes para a execução das duas pontes, cabendo aos governos dos dois países aportarem os recursos necessários à execução dos acessos às mesmas. Temos notícias que, na nova ponte, executada em Foz do Iguaçu-PR, este processo não aconteceu em tempo hábil, tanto que a obra está pronta e não está sendo utilizada, por falta de acessos. Na ponte de Porto Murtinho, a obra de acesso pelo lado brasileiro é ainda mais complexa”, diz.

Outra questão levantada sobre as exportações é a China. O jornal O Estado levantou a preocupação da questão diplomática entre os chineses e paraguaios. A China promete “boicotar” a rota. “Realmente, o Paraguai mantém relações diplomáticas com Taiwan, o que desagrada a China. Porém, os EUA também mantém e a China não se recusa a comercializar produtos com os norte-americanos por isto. Então, penso que esta situação poderá ser resolvida”, acredita.

Amigo Ramez Tebet 

Em relação à ministra Simone Tebet (MDB), ex-senadora de Mato Grosso do Sul, Temer elogia sua atuação como uma das melhores do quadro político do governo Lula. O ex-presidente lembrou da amizade que teve com seu pai, o ex-senador e ex-ministro Ramez Tebet, a quem chama de amigo. “A Simone, filha do meu grande e saudoso amigo Ramez Tebet, tem demonstrado capacidade surpreendente nas funções que desempenha e não está sendo diferente, no governo Lula”, avalia.

Impeachment é golpe para petistas 

Temer diz que o presidente Lula (PT) toda vez, ao falar que houve “golpe” no processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), não contribui para cumprir a promessa que fez, de pacificar o país, após a politização, na eleição de 2022. “O presidente Lula se equivoca ao tentar reescrever a história. O impeachment foi um processo político/jurídico perfeitamente adequado às normas constitucionais, tanto que foi respaldado pelo próprio STF, além do Congresso e da sociedade”, afirmou.

O Estado: Qual será o significado da Rota Bioceânica para as economias brasileira e de Mato Grosso do Sul, principalmente no aspecto econômico?

Michel Temer: É sabido que é no Leste Asiático que se situam, hoje, os grandes mercados consumidores do mundo. Não só a China, mas a Coreia, o Japão, a Indonésia, Singapura etc. Ora, com a rota estamos encurtando as distâncias do Brasil e do Mato Grosso do Sul a estes mercados, então trata- -se de algo importantíssimo.

O Estado: Mato Grosso do Sul, com a rota, deve se tornar um Estado protagonista, pelo fato de ser o centro do trajeto rumo ao Chile?

Michel Temer: Em nível de Brasil, penso que o Mato Grosso do Sul, por sua posição estratégica, pode ser o Estado mais beneficiado pela nova rota, desde que se esforce para isto.

O Estado: A reportagem do jornal O Estado, ouvindo empresários chineses, trouxe um alerta sobre a China não ter relações diplomáticas com Paraguai e já ameaça não usar a rota. Como lidar com esta situação, já que a China é um dos maiores compradores?

Michel Temer: Realmente, o Paraguai mantém relações diplomáticas com Taiwan, o que desagrada a China. Porém, os EUA também mantém e a China não se recusa a comercializar produtos com os americanos, por isto. Então, penso que esta situação poderá ser resolvida, devendo sempre ser respeitada a soberania dos países e o caráter internacional da rota.

O Estado: O Brasil executou a nova ponte entre Foz do Iguaçu e Cidade de Leste. O Paraguai está executando a ponte entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta. Ambas têm recursos garantidos por Itaipu, para sua execução. Mas, o acesso à Ponte Bioceânica pelo lado brasileiro é obra complexa e cara e tem que ser executada com recursos do governo brasileiro. Existem riscos de atraso?

Michel Temer: Quando encerramos o nosso governo, deixamos reservados, em Itaipu, em comum acordo com o governo paraguaio, do presidente Mário Abdo Benítez, recursos suficientes para a execução das duas pontes, cabendo aos governos dos dois países aportarem os recursos necessários à execução dos acessos às mesmas. Temos notícias que, na nova ponte, executada em Foz do Iguaçu, este processo não aconteceu em tempo hábil, tanto que a obra está pronta e não está sendo utilizada, por falta de acessos. Na ponte de Porto Murtinho, a obra de acesso pelo lado brasileiro é ainda mais complexa. Isto não deixa de nos preocupar, mas temos motivos para estar confiantes de que atrasos não vão acontecer. O edital da licitação para a construção já foi até publicado.

O Estado: O senhor pretende estar, na data da inauguração da rota, em dezembro de 2024? Já imaginou como será esse dia?

Michel Temer: Se for convidado, farei força para lá estar.

O Estado: Que análise o senhor faz dos primeiros meses do governo Lula? E as diversas narrativas do presidente, em dizer que houve golpe e não impeachment?

Michel Temer: O presidente Lula se equivoca, ao tentar reescrever a história. O impeachment foi um processo político/jurídico, perfeitamente adequado às normas constitucionais, tanto que foi respaldado pelo próprio STF, além do Congresso e da sociedade. O Brasil precisa ser pacificado e cabe ao presidente da República liderar este processo. Estas falas de Lula não contribuem para que ele consiga cumprir com êxito esta, que é a principal de suas missões. Mas, fora isso, vejo o governo indo bem.

O Estado: Como vê a tentativa do governo federal, de mudar a reforma trabalhista, inclusive voltando a cobrar a taxa sindical?

Michel Temer: A reforma trabalhista trouxe novos direitos aos trabalhadores, sem retirar nenhum deles. Tanto que hoje ninguém mais fala em revogá-la. Algumas inovações são naturais, mas nada além disto vai acontecer, porque a reforma está sendo boa para patrões e empregados.

O Estado: O senhor vê como positiva a aliança MDB e PT?

Michel Temer: Os quadros políticos emedebistas mais ligados a mim decidiram não participar diretamente do governo. Porém, entendo que quem busca uma pacificação não pode se negar a colaborar. Então, vejo com bons olhos a participação de companheiros emedebistas no governo, desde que o MDB não perca sua essência. O partido tem história e quadros que lhe permitem ser um bom aliado ao PT, porém, sempre conscientes de que somos outro partido.

O Estado: Qual avaliação o senhor faz de Simone Tebet, como ministra do Planejamento?

Michel Temer: Simone, filha do meu grande e saudoso amigo Ramez Tebet, tem demonstrado capacidade surpreendente nas funções que desempenha e não está sendo diferente, no governo Lula.

O Estado: O MDB acertou ao lançar Simone como candidata à Presidência da República, em 2022?

Michel Temer: Sim. O partido não se sentia confortável em apoiar nenhum dos lados da bipolarização reinante até hoje na política nacional. Então, com a concordância do André (Puccinelli), do (Waldemir) Moka, do (Carlos) Marun, do (Junior) Mochi e de outras lideranças do MDB no MS, decidiu-se chamar Simone. Ela aceitou e cumpriu um belo papel, na ocasião.

Por Bruno Arce – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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