“É o nosso dinheiro rasgado”, diz quem amarga obras que perecem com o tempo”
Com as obras de 11 unidades de ensino da Reme (Rede Municipal de Ensino) paralisadas e sem opções de lazer, a população lamenta a perda de dinheiro público investido no começo dos empreendimentos e sonha com o cumprimento das entregas, principalmente para o desenvolvimento das crianças. Para evitar a degradação dos espaços, até grupo de segurança entre os vizinhos é criado e abaixo-assinados são inúmeros.
Para o ano de 2024, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) anunciou a entrega de duas Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil), que contemplará os moradores do bairro São Conrado e Jardim Inápolis. Eram obras que estavam paralisadas e com a pouca estrutura em pé sendo danificada.
Mesmo com essa boa notícia, outras 11 unidades de ensino, Emeis e escolas de Ensino Fundamental, seguem estacionadas. Entre elas está a do Jardim Colorado, na rua Felipe Portinho, que apareceu em Diário Oficial pela primeira vez em 2013, onde apenas os muros foram construídos e parte da fundação, se tornando ponto estratégico para uso de drogas pelos dependentes químicos da região.
“Estou aqui já vai para quase 40 anos. Primeiro iam construir uma praça, uma área de lazer, mas mudaram para Emei. Deram início, construíram os muros, rebocaram e não terminaram. Só não fica pior porque o presidente do bairro organiza a limpeza”, desabafa Sônia Maria da Silva, de 58 anos, que mora em frente aos muros do que seria a Emei.
Testemunha do surgimento do bairro, Sônia lamenta que o espaço não seja aproveitado para algo útil e seguro aos moradores. “Aqui virou um ponto de consumo de drogas. É um lugar tão bonito, poderia ser uma praça para aproveitarmos nos fins de semana, talvez um posto policial ou uma academia ao ar livre. Estamos abandonados”.
O vizinho dela, de 80 anos, Catalino Fernandes, lembra que mudou-se para lá em março de 2009 e também viu o investimento em tijolos e cimento sendo em vão. “Isso aqui foi um dinheiro perdido, jogado fora. Se não vai terminar, não deveria nem ter começado! Trouxeram material, mas de repente parou, levaram de volta e o que sobrou foi furtado”.
Algumas quadras dali está o sonho de toda vizinhança: um espaço de 7 mil metros quadrados, com pista de skate e caminhada, quadras de vôlei de areia, uma de futebol society coberta e até salas para atendimento ao público. Porém, fechado para a população e sofrendo com a ação do tempo. A Praça de Esporte e Cultura do Parque do Sol, na Rua Cenira Soares Magalhães já teve investimento de R$ 2,1 milhões e tinha previsão de entrega em 2018, mas segue fechada.
“Virou o nosso ‘fantasma azul’. Já mandamos abaixo-assinado e não se resolveu ou deram um parecer. Tinha guarda, mas já tem uns quatro dias que não vem ninguém. Que deixassem como antes, pelo menos era um campo aberto, com muita sombra para todos”, diz o comerciante Juvenal Vicente, de 63 anos, que mora em frente a praça há 31 anos.
“Virou o nosso fantasma azul. Já mandamos abaixo-assinado e não se resolveu” – Juvenal Vicente, morador do Parque do Sol
Nesse caso, o que mais revolta os moradores são as crianças não terem onde brincar com um complexo de lazer praticamente pronto e fechado. “Eu acho um absurdo porque às vezes eu tô chegando do trabalho e tem sempre umas crianças jogando bola na calçada, correm o risco da bola ir para rua, sendo que tem uma quadra desse tamanho fechada. Entra gente aí, tem vidros quebrados, o negócio está se acabando e ainda nem foi inaugurado. Lembro da placa, dizendo que seria inaugurada em 2013, já se passaram 10 anos e nada”, compartilha Natasha Garcia Coelho, 25 anos, que mora na rua lateral do espaço.
Mais próximo ao Centro, na Rua Paulo Ashiro, no bairro Parati, ferrugem e o matagal consomem as estruturas do que seria uma Escola Municipal. De acordo com a formalização da obra, publicado no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) de junho de 2013, a obra estava orçada em mais de R$ 3 milhões e entregaria uma educação mais técnica, até com planos de uma horta para os alunos.
Só não fica pior porque o presidente do bairro organiza a limpeza – Sônia Maria, moradora do Jardim Colorad
“A história que sabemos é que a construtora daquele condomínio [no fim da rua] recebeu o terreno e, em contrapartida, destinou verbas para construção da escola e beneficiar a comunidade. Os apartamentos já foram entregues, os moradores já devem estar terminando as parcelas e a escola não ficou pronta. A estrutura só não está pior porque fizemos um grupo na rua, com câmeras e tudo, que avisam os vizinhos. Quem faz nossa segurança somos nós mesmos, não era para ser assim, já deveria estar funcionando. É o nosso dinheiro rasgado”, diz o servidor público estadual Joel Soares, de 40 anos.
A escola em frente a casa do Joel é uma das 11 da lista das que não foram entregues pelas últimas gestões municipais. O jornal O Estado entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande, mas até o fechamento desta reportagem não nos deu retorno sobre as obras no Jardim Colorado, da abertura da praça do Parque do Sol ou sobre a escola no Parati.
Por Kamila Alcântara
Confira mais noticias na edição impressa do jornal O Estado de MS.
Acessa as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram