Com o abandono, até as madeiras das estruturas da Rotunda são furtados provocando o desabamento.
O que um dia foi ponto de chegadas e partidas, hoje sofre com o saqueamento e abandono. Moradores denunciam os problemas causados pelo esquecimento do Complexo Rodoviário, localizado ao lado da Feira Central, como o novo desmoronamento do telhado de um dos barracões durante as chuvas do fim de semana. Contudo, este não é o único local que amarga as promessas de revitalização ao longo do tempo e os moradores da região do Cabreúva definem a situação como um “Triângulo do Abanono”, pois precisam lidar com o Belas Artes, a Rotunda e a Orla Ferroviária.
Suki Ozaki, que mora na Rua dos Ferroviários há 26 anos e é conselheira do Conselho da Região Urbana do Centro, diz que todos que vivem na região já estão cansados das promessas de revitalização do local. Ela lembra que em 2021 já tinham recebido a promessa de melhorias, com apoio até do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
“O Cabreúva, um dos bairros mais antigos de Campo Grande tem o combo. Ficamos no centro do triângulo do abandono: Um lado tem o Centro de Belas Artes abandonado (problema amenizado com a vinda de um posto da GCM este ano depois de muita luta da Associação), outro lado é a Orla Ferroviária, que virou uma cracolândia, desde a morada dos Baís até a Avenida Rachid Neder, praça com dependentes químicos. E por fim a Rotunda, que também serve de esconderijo de bandidos”.
Com cada nova promessa o desejo em ver o local sendo utilizado novamente pela população só aumenta. “Para nós o que nos interessa é que o local, que está abandonado, seja utilizado pela comunidade, pelas famílias, pelos moradores, que seja revitalizado e dado uma destinação correta. Já estamos cansados dos usuários de drogas que utilizam a rotunda para queimar fios furtados, usar drogas”, desabafa a conselheira.
Algumas casas dão fundo para o Complexo, já há caminhos para quem deseja chegar a outros pontos mais rápido por caminhada, mas isso só é possível de dia. A área é grande, com árvores e mato alto, sendo impossível atravessar a noite, já que o único refletor teve os fios roubados.
“Ao lado do barracão que caiu, tem uma viela que é utilizada pelos moradores para cortar caminho até 14 de Julho, pois fica próximo do ponto de ônibus do CEM (Centro de Especialidades Médicas). O refletor do poste que fica ao lado da Feira Central, furtaram os fios e ficou muito escuro, um perigo para quem entra a pé. À noite, os carros não se arriscam a passar porque é muito escuro mesmo. Na sexta-feira (5) houve 4 disparos de arma de fogo lá”, conta Suki.
Não foram só os fios furtados. O madeiramento do Complexo Rodoviário e de algumas casas históricas, que estavam fechadas, também estão sendo saqueados para revenda.
“Essa situação do abandono do complexo ferroviário da rotunda, nós moradores, associação de moradores já denunciamos inúmeras vezes. Não apenas a depredação do patrimônio público que está completamente abandonado, mas os furtos de todo o material. Os trilhos dos trens e tudo o que é de ferro já foi furtado. Quando caiu pela manhã o barracão, já tinha gente com carro furtando a madeira, peroba rosa, antiga, de demolição que custa R$ 55 reais o metro linear”, reforça.
Junto com a Rotunda, a emblemática obra do Centro de Belas Artes, iniciada há 33 anos, no Bairro Cabreúva também segue parada após a prefeitura de Campo Grande rescindir o contrato com a empresa que faz a execução das obras.
Construção que deveria ser entregue em dezembro de 2022 está paralisada. Na época que foi lançada a licitação previa recursos de R$ 5.178.240,38 para concluir o Centro de Belas Artes, no bairro Cabreúva. Contudo, a obra cujo projeto original era instalação da rodoviária da cidade, mas que teve a finalidade modificada posteriormente.
Outro patrimônio histórico que também deve passar por revitalização em breve é o Complexo Ferroviário, cujo projeto prevê melhoriar no parque total e a requalificação urbanística, na Plataforma Cultural, no Armazém Cultural, na antiga estação, na antiga casa do engenheiro chefe, na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, e em todo o conjunto da rotunda o pacote de obras foi anunciado em março pelo Governador do Estado Eduardo Riedel.
O pacote de obras fazem parte do programa Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).O complexo ferroviário, da antiga NOB (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), teve os primeiros contornos em 1914 com a inauguração da primeira estação de passageiros, ainda de madeira. A infraestrutura atual de alvenaria foi construída na década de 1930 .
próximos passos
Questionada, a Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) esclarece que, recentemente, uma proposta foi aprovada pelo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal, para a elaboração de um projeto arquitetônico para a reforma de todo o complexo da Esplanada Ferroviária, incluindo a Rotunda Ferroviária de Campo Grande. O projeto está em andamento, sendo discutido com representantes da Sectur e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Por Kamila Alcântara e Thays Scheneider
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