Manifestantes querem presença de políticos nos atos em frente do CMO

Manifestação
Foto: Valentin Manieri

Historiador relembra outras importantes manifestações registradas entre 1992 e 2013

Manifestantes começaram a demonstrar insatisfação pelo desprezo da classe política sul- -mato-grossense com público que está exatos, 25 dias, acampados e em vigília em frente ao CMO (Comando Militar do Oeste), em Campo Grande.

A decisão do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Alexandre de Moraes, em negar o pedido de anular votos do 2° turno aumentou a revolta com o poder judiciário, que em menos de 24 horas, negou a denúncia do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. A ideia do grupo de manifestantes é começar a cobrar mais de perto os políticos e pedir posicionamento sobre novas eleições.

Um dos manifestantes, ouvido por O Estado, diz que boa parte dos políticos resolveu se esconder com medo ou são contra ao movimento de rua.

“Estamos cobrando um posicionamento dos parlamentares porque eles são funcionários do povo. O poder emana do povo, dos cidadãos de bem, honestos que pagam seus impostos. É uma luta do bem contra um ladrão, de um corrupto”, esbraveja.

Os manifestantes destacam que a população tem o poder de decidir o futuro do país. Um exemplo citado foi o manifesto feito em Goiás em que produtores invadiram a sessão da Assembleia Legislativa que votava a favor de uma taxa ao agronegócio.

O projeto do governo estadual é criar o Fundo Estadual de Infraestrutura, nos mesmos modos do Fundersul. Segundo os manifestantes é preciso desmistificar a ideia sobre ser apoiadores de Bolsonaro, mas sim do bem contra o mal.

“Essa é a maior manifestação legítima do povo na história deste país. Nós temos uma oportunidade única de limpar tudo, tirar esses frutos podres. Precisamos que os políticos se posicionem, independente se vão ou não perder o mandato”, cobra, e o que está em jogo não é a carreira política, mas sim o futuro do país.

Ao longo da história do país ocorreram duas manifestações semelhantes, como em 1992, conhecido por Movimento Caras Limpas, e 2013, o Movimento Passe Livre, que culminaram no impeachment de Fernando Collor e de Dilma Rousseff. Dona Maria Oliveira, 87, relembra como foram marcantes. Para ela, o Brasil “só é ouvido quando vai às ruas lutar”.

“Me lembro muito bem dos intensos protestos de 92. Na época do Collor as notícias que saíram sobre o governo dele, deixou os brasileiros revoltados e com vontade de vingança. Ir para as ruas foi uma solução que encontraram para serem ouvidos. Já em 2013 a corrupção também se instalou no Brasil e, novamente, nos vimos na mesma posição. Esses atos são a forma mais expressiva que os brasileiros encontraram para dizer que não aceita o que a política deseja impor para a sociedade”, relatou à reportagem.

Ainda segundo a aposentada, os protestos do passado refletem na decisão de uma nova manifestação este ano.

“Agora em 2022, muita coisa mudou, a geração passou, mas o desejo é o mesmo. Os brasileiros querem ser ouvidos, e por isso estão nas ruas há quase 30 dias. A eleição atual ainda repercute, e com minhas experiências, acredito que tem muito para acontecer. Já vivemos isso antes”, finalizou.

Movimentos de rua no país

O professor e mestre em História e Estudos Socioeconômicos da UCDB, Roberto Figueiredo, observou que nesses últimos anos ocorreram quatro grandes movimentos no Brasil. “Primeiro o movimento que se pedia o fim de um regime militar, que teve uma grande maioria da população, contra a censura, independentemente de serem estudantes ou artistas. E esse é um movimento que pra mim talvez tenha sido com maior adesão no sentido da diversificação de pessoas”, pontuou.

O segundo teria sido dos “Caras-Pintadas” no governo do Collor. “Era um movimento para tirar uma pessoa. O movimento de hoje é o contrário, é para ficar uma pessoa”, ponderou. Já sobre o movimento de 2013 reforça que foi “um movimento com uma visão muito ampla, da juventude, mas muito mais agressivo, com uma pauta muito grande que não ficou só no valor do preço do ônibus, mas outras reivindicações”, apontou.

Sobre a atual manifestação, Beto Figueiredo não considera que seja um movimento de cunho social. “Agora, quando analisamos os dias de hoje, vemos um movimento para ficar uma pessoa ou que aconteça. Ou seja, não é social”, analisou.

Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito democraticamente após os 29 anos de ditadura militar no Brasil. Contudo, seu governo conturbado provocou uma das mais importantes manifestações da história do país. Após o Brasil entrar em crise econômica e política e a revelação do esquema, o Governo Collor se tornou insustentável. Diversos protestos contrários tiveram seu ápice em agosto e setembro de 1992.

Nelas, os milhares que protestaram saíram às ruas com os rostos pintados de preto, verde e amarelo e deram a simbologia e o nome “Movimento Caras-Pintadas”.

Essas manifestações duraram meses, até que Collor foi colocado diante de um processo de impeachment no Senado. Itamar Franco, seu vice, foi quem assumiu até 1995. Desde 2007, Fernando Collor exerce o cargo de senador, em Alagoas.

Como presidente da República estava Dilma Rousseff (PT), sofreu impeachment em agosto de 2016, dois anos antes do fim de seu mandato. Os brasileiros criaram o “Movimento Passe Livre”, o qual convocava atos contra o aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus, metrô e trens em São Paulo. Episódios de violência policial contra manifestantes causavam revolta, o que provocou novos protestos.

O marco inicial das megamanifestações no país foi o dia do pontapé inicial do torneio internacional de futebol Copa das Confederações, no dia 15 de junho – uma espécie de aquecimento para a Copa do Mundo, que ocorreria no ano posterior e já enfrentava grande oposição.

Dois dias depois, manifestantes subiram no telhado do Congresso Nacional, em Brasília, no que se transformaria em um dos momentos mais icônicos da década. Um ano depois, os mesmos setores não aceitaram o resultado das eleições de 2014, que elegeu novamente Rousseff.

Por Brenda Leitte – Jornal O Estado de MS.

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado de MS.

Acesse as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *