HOMOFOBIA: Série conta histórias de quem sofre preconceito pelo tom de voz 

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Estreou às 18h, a série “Vozes”, na data estratégica do Dia Internacional contra a Homofobia, 17 de maio. O projeto é do jornalista Elverson Cardozo, editor do Dois Iguais, mídia autoral, alternativa, independente e focada na comunicação para o público LGBTQIA+. São dez pessoas que compartilham as dores de sofrer preconceito pela forma como se expressam, isto é, pelo simples tom de voz. O primeiro episódio está disponível no instagram do projeto, e  aqui.

Se você pensa que isso não é um problema ou conhece essa realidade, mas No perfil do Insta, há testemunhos fortes, pesados e necessários, que trazem luz ao assunto. A ideia de criar uma série em áudio, explica o jornalista, partiu da própria experiência como um homem gay, que sempre enfrenta preconceito por conta da voz.

“Trabalhar com a dor que eu mesmo conheço me faz elaborar e encarar situações traumáticas de outro jeito, sem estender o sofrimento de forma autodestrutiva, por isso as pautas LGBTs causam tanto apreço. A partir deste ponto de vista, são terapêuticas, porque, ao mesmo tempo que me dedico a elas, eu me curo durante o estudo, pesquisa e na identificação com outras pessoas. Além disso, diante de uma situação flagrante de homofobia, o jornalismo que eu acredito (aquele que combate o preconceito de qualquer natureza, inclusive o de orientação sexual, como preconiza nosso Código de Ética Profissional) convoca o repórter adormecido, sempre presente, a agir, então eu aceito o chamado”, explica.

personagens

Os personagens que integram a série “Vozes”, a maioria homens gays, surgiram de forma espontânea, a partir de uma pergunta simples no stories do Dois Iguais: “Você já foi vítima de preconceito por conta da sua voz”? A partir daí, os relatos apareceram de diversos cantos do país. “Como o perfil tem alcance nacional, recebi mensagens de seguidores que moram em outros Estados. Fiz uma triagem, solicitei depoimentos em áudio e depois editei. Foi surpreendente, relata.

Para Elverson Cardozo, a série “Vozes” debate a temática ao mesmo tempo em que faz um alerta para o problema, afinal de contas muita gente sofre calado, tem medo de enfrentar e chega a desenvolver pensamentos suicidas. Inclusive, há participantes que pediram anonimato por medo de represálias e outros que não vão ouvir o próprio relato, porque o tom de voz gera sofrimento, tamanho preconceito enfrentado e, hoje, internalizado.  Neste caso, vale lembrar que homofobia é crime e há canais e profissionais especializados neste tipo de denúncia. 

A iniciativa, segundo o editor do Dois Iguais, tem o objetivo de colocar em pauta um assunto importante, pouco falado, neste dia em que, nas redes sociais, o que não falta são frases de efeito contra a homofobia e empresas declarando apoio à causa, mas sem envolvimento real.

poder de compra

“A gente sabe que o Pink Money gera um apelo comercial grande, afinal de contas o público LGBTQIA+ também consome e, aliás, segundo pesquisas, tem alto poder de compra, dependendo da classe social. É natural, infelizmente, que por estratégia de marketing ou posicionamento de marca, muitas companhias e seus gestores sinalizem um apoio, quando, na realidade, não mudam a própria cabeça atrasada e preconceituosa, tampouco a cultura da empresa no que diz respeito ao acolhimento real de pessoas que são vítimas de violência, física ou psicológica e, por isso, morrem todos os dias”, afirma.

Uma morte a cada 36 horas – Morrer todos os dias não é, exatamente, força de expressão. Segundo GGB (Grupo Gay da Bahia), a mais antiga organização em defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil, a cada 36 horas um LGBT brasileiro é vítima de homicídio ou suicídio, o que confirma o país como campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais. São lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexos e demais variações biológicas de sexo, identidades de gênero e orientações sexuais que, segundo os pesquisadores, “sofrem cotidianamente por fugirem de um padrão socialmente imposto e referenciado a partir da heteronormatividade, binariedade e cisnormatividade”. 

No ano passado, 237 mortes violentas foram documentadas pelo GGB por meio do “Observatório de Mortes Violentas da LGBTI+ no Brasil, relatório divulgado anualmente. Na lista de crimes bárbaros cometidos em 2020, predominaram os homicídios (90,71%), suicídio (5,48%) e latrocínio (3,79%). As causas das mortes são variadas: descarga elétrica, tortura, esquartejamento, pauladas, tiros, esfaqueamento, etc. As tipificações mais registradas foram: arma de fogo (42,30%), esfaqueamento (23,07%), espancamento (9,13%), entre outras.

Brasil mata mais

Em um cenário como esse, que inclusive coloca o Brasil como o país que mais mata homossexuais e transsexuais no mundo, falar sobre LGBTfobia e dar voz a quem sofre preconceito diariamente é mais do que necessário. Pode salvar vidas.

“O mundo continua cruel e perigoso com quem não segue um padrão tido como normal, mas não dá para abaixar a cabeça quando nossa presença é apenas tolerada e não respeitada. A má notícia, para os homofóbicos, é que estamos mais cientes de nossos direitos e a resistência se impõe como uma necessidade legítima mesmo. Neste sentido, a série “Vozes” é um grito pela liberdade de ser quem somos. Um grito coletivo, em uníssono, por isso está no plural, mas também um grito meu, sozinho, mesmo que para os ouvidos da hipocrisia a minha voz destoe daqueles que sequer tem a coragem de defender a própria honra”, argumenta o jornalista.

Como denunciar ? – Em Mato Grosso do Sul, a Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT realiza os encaminhamentos necessários para atendimento especializado de vítimas de LGTBfobia de forma a responsabilizar os agressores. O contato pode ser feito pelo telefone (67) 3316-9191 ou no e-mail [email protected]

Você também pode ligar para a Ouvidora Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100 – serviço do governo federal, que funciona 24 horas, todos os dias, para prestar informações, orientações e receber denúncias (anônimas ou não).

Pelo site da Polícia Civil de MS também é possível fazer denúncia, acessando a Delegacia Virtual ou no Aplicativo MS Digital, no ícone Segurança. Agora, em situações de urgência e emergência, quando uma agressão estiver acontecendo, a orientação é chamar a polícia pelo 190. 

A Defensoria Pública de MS, por meio do NUDEDH (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos) também pode atender vítimas de LGBTfobia. Por conta da pandemia, os atendimentos estão sendo realizados de forma online pelo site. Se preferir ligar, o telefone é o (67) 3313-4791 ou o Disque Defensoria 129, de abrangência estadual.  Outra opção é a Ouvidoria do Ministério Público de MS, que pode ser acionada pelos telefones 127 e 0800-647-1127, além do site.

Dia Internacional contra a Homofobia – Há 31 anos, em 17 de maio de 1990, a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirava a homossexualidade da lista internacional de doenças. Momento histórico para o movimento que hoje conhecemos pela sigla LGBTQIA+. A partir dessa data, a homossexualidade perdeu o antigo sufixo “ismo” – que classificava essa orientação sexual como doença – e, mundialmente, deixou de ser considerada uma patologia.

Até então, vários países ainda tratavam homossexuais como pessoas portadoras de “desvio patológicos mentais”, permitindo a violações da dignidade da pessoa humana, preconceitos e terapias de reversão, como a “cura gay”. É verdade que, ainda hoje, há os que ainda comungam desse pensamento, por isso a luta continua e a data de hoje ficou declarada, na história, como o Dia Internacional de Combate à Homofobia. 

Sobre o Dois Iguais – Mídia independente e autoral, presente no Instagram, o Dois Iguais é um projeto de comunicação para o público LGBTQIA+, com foco nas histórias de amor e casamentos homoafetivos. Lançado em 2015, o perfil é um espaço de representatividade e acolhimento aos casais e famílias que integram o movimento. O perfil é editado pelo jornalista, mestre em comunicação, Elverson Cardozo, mais conhecido como Elvis, sul-mato-grossense de 32 anos, natural de Campo Grande

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