Presidente da Casa de Leis diz que UPAs viraram mini-hospitais e déficit de vagas chega a 1 mil
A superlotação das unidades de saúde de Campo Grande evidenciou mais uma vez o déficit crítico de leitos hospitalares na Capital. Com uma média de 3.500 a 5.000 atendimentos diários nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), a situação chegou ao limite nas últimas semanas, levando a Secretaria Municipal de Saúde a ativar o nível 1 do Centro de Operações de Emergência.
“A verdade é que as UPAs viraram mini-hospitais”, lamentou o presidente da Câmara Municipal, vereador Papy. “Elas deveriam ser unidades de passagem, mas estão mantendo pacientes graves por até uma semana por falta de vaga hospitalar.”
Atualmente, o déficit de leitos na cidade pode chegar a mil unidades, conforme estimativas da própria Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). A situação é agravada pelo aumento de casos de doenças respiratórias e crônicas típicas do outono, além da alta demanda de pacientes vindos de outros 34 municípios da macrorregião. Por isso, a secretaria de saúde trabalha na abertura de 40 leitos no Hospital do Pênfigo e 20 no Hospital do Câncer para diminuir a fila de pacientes que aguardam por internação.
“Hoje a gente vê a Santa Casa superlotada, o Hospital Regional superlotado, o Hospital Universitário também com sua capacidade máxima. Os hospitais estão sobrecarregados”, afirmou o vereador Dr. Victor Rocha. “E o que temos são medidas paliativas.”

Foto: Roberta Martins
Repasses emergenciais
Diante do colapso iminente, uma força-tarefa envolvendo os três entes federativos viabilizou aportes emergenciais. O município aumentou em 20% o repasse mensal para a Santa Casa, passando de R$ 5 milhões para R$ 6 milhões. Já o Governo do Estado anunciou um novo repasse de R$ 25 milhões, viabilizado com apoio da bancada federal, dividido em três parcelas.
“O valor é importante, mas é paliativo. O déficit da Santa Casa, por exemplo, é de R$ 114 milhões. O governador usou a expressão ‘um pingo de azeite numa chapa quente’”, explicou o presidente Papy.
A secretária municipal de saúde, Rosana Leite, também reconheceu a gravidade da situação. “Registramos mais de 100 mil atendimentos nas UPAs em pouco mais de uma semana. Precisamos de flexibilidade para manter pacientes internados enquanto tentamos conter a situação”, afirmou.
Ela também comentou sobre falhas de comunicação interna, que impactaram pagamentos a médicos de regiões de difícil acesso. O repasse dos valores será realizado por folha complementar, com efeitos retroativos a 7 de março. “Essas regiões continuarão recebendo os pagamentos. Houve um atraso, mas será feito de forma retroativa”, garantiu.
Hospital municipal: solução a longo prazo
Entre as medidas estruturais em andamento, está a futura construção do Hospital Municipal de Campo Grande, com previsão de 250 novos leitos.
“O hospital municipal foi assunto. A secretária trouxe que estão na fase de conclusão documental. A empresa responsável enviará o projeto executivo para análise e aprovação”, disse Papy.
A expectativa é que, após o início das obras, o hospital seja entregue em até dois anos. A unidade deve atuar como mecanismo de regulação direta das UPAs e atender prioritariamente moradores da Capital, aliviando a demanda sobre hospitais filantrópicos.
“A Câmara acompanha esse processo de perto. Se houver necessidade de remanejamento de recursos ou suplementação orçamentária, a Casa está pronta para apoiar”, afirmou o vereador Dr. Victor Rocha.
No entanto, como destacou Papy, a criação do hospital depende diretamente da arrecadação municipal. “Esse aumento de repasse já é um exercício financeiro difícil. Não existe saúde pública eficiente sem uma arrecadação robusta.”
Transparência e gestão
A reunião entre os vereadores e a secretária Rosana Leite, realizada ontem (4), embora fechada, foi seguida por declarações à imprensa. Os parlamentares reforçaram que a crise não será superada apenas com aportes financeiros, mas com mudanças na gestão dos recursos e estrutura do sistema.
“A Santa Casa precisa melhorar sua governança. Por mais dinheiro que se injete, parece que nunca é suficiente”, disse Papy. Segundo ele, cerca de R$ 80 milhões são pagos anualmente apenas em juros de dívidas herdadas de gestões anteriores da instituição.
Enquanto o hospital municipal não sai do papel, a cidade segue adotando ações emergenciais: convocação de mais profissionais, uso de medicamentos de uso hospitalar nas UPAs, reabastecimento de insumos e negociação de novos leitos com hospitais filantrópicos como o do Câncer Alfredo Abrão e o Hospital Adventista do Pênfigo.
Por Suelen Morales
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram
Leia mais
Casos de dengue aumentam mais de 16% em Mato Grosso do Sul, que já registra 7 mortes em 2025