Presidente do TRE-MS pede mais cuidado às empresas de sondagens
Os erros em percentuais e diferenças abissais entre os resultados do primeiro turno da eleição deste ano e os projetados pelos institutos de pesquisa eleitoral, que divulgaram os dados em Mato Grosso do Sul, se tornaram um dos assuntos mais discutidos nas últimas 24h. Isso porque, à medida que a apuração das urnas eleitorais era totalizada, os resultados divulgados até o último sábado (1º) desapareciam cada vez mais.
Outrora fora do ranking entre os três primeiros colocados, o candidato Capitão Contar (PRTB) virou totalmente o jogo e ficou em primeiro colocado com 384.275 votos, com percentual de 26,71%, ao passo que Eduardo Riedel (PSDB) teve 361.981 votos, com percentual de 25,16%.
Um resultado equivocado e contrário à Pesquisa Ipec, divulgada pela TV Morena/ Ipec, um dia antes da eleição. Nela os dados mostravam o ex-governador André Puccinelli (MDB) à frente, com 31% dos votos válidos. Depois aparecia Eduardo Riedel (PSDB), com 18%; Marquinhos Trad (PSD), com 17%; Capitão Contar (PRTB), com 17%; e Rose Modesto (União Brasil), com 13%. O Ipec citava que os quatro estavam tecnicamente empatados com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos (Registro BR-07024/2022).
Nesse caso, a empresa errou em quase 10 pontos em relação a Contar, e isso o levou, junto com políticos e militantes do campo conservador, a questionar as metodologias usadas.
Ao saber dos resultados Contar disse ao jornal O Estado que não acreditava em pesquisas. “O resultado de hoje mostra que não se deve acreditar em pesquisas e que o resultado final vem do povo e vem das urnas.” A distorção da última pesquisa também errou feio em relação ao candidato derrotado André Puccineli, pois nela os dados davam garantia de que ele estaria em segundo turno, e a pontuação de 31% dos votos válidos, e na apuração, o emedebista ficou em terceiro com 17,18% em percentual, somando 247.093 votos.
Isso equivale a um erro de quase 14 pontos percentuais. No caso de Rose Modesto (União) o tombo foi menor, já que ela pontuou 12,42%, com 178.599 votos e a pesquisa a indicava com 13%.
Outro candidato que teve um resultado totalmente diferente do divulgado foi Marquinhos Trad (PSD), que derreteu complemente durante a campanha e finalizou com 8,68% dos percentuais com 124.795 votos. Uma diferença de praticamente nove pontos. Giselle Marques (PT), que tinha somente 3% de intenções de voto, segundo a Ipec, terminou surpreendendo com 9,42% e um total de 135.556 votos.
Outras pesquisas
Em 27 de setembro a Real Big Data/TV Record publicou os seguintes dados: André Puccinelli (MDB) – 22%; Marquinhos Trad (PSD) – 19%; Eduardo Riedel (PSDB) – 17%; Rose Modesto (União Brasil) – 16%; Capitão Contar (PRTB) – 12%.
Em 29 de setembro a Paraná Pesquisas indicou André Puccinelli (MDB) – 21,3%; Eduardo Riedel (PSDB) – 18,5%; Marquinhos Trad (PSD) – 16,2%; Rose Modesto (União Brasil) – 13,6%; Capitão Contar (PRTB) – 13,1%; Giselle Marques (PT) – 2,9%; Em 30 de setembro, a RealTime Big Data em MS/TV Record indicou Puccinelli – 22%; Eduardo Riedel – 22%; Rose Modesto – 17%; Capitão Contar – 17%; Marquinhos Trad – 16%; pesquisa registrada sob o número MS02982/2022.
Em 1º de outubro também foi divulgada pesquisa do Instituto Ranking com André Puccinelli – 21,40%; Eduardo Riedel – 19,30%; Marquinhos Trad – 15,20%; Capitão Contar – 14,00%. Registro MS-07224/2022.
TRE-MS
O presidente do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral), desembargador Paschoal Carmello Leandro, foi questionado pelo programa “Rádio Cidadania em Ação”, da Eduactiva FM 104, sobre essa falha gigantesca das pesquisas regionais. Em resposta, ele disse que o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) só registra as pesquisas, sem nenhum envolvimento. Questionado sobre se é possível denunciar pesquisas eleitorais, ele deu sinal positivo.
“É possível denunciar que houve ação tendenciosa da empresa. Na verdade, as pesquisas podem sofrer alteração e nem sempre representam a verdade. Hoje, a pesquisa é com um grupo de pessoas e amanhã com outro grupo. Então, muitas vezes não há um equilíbrio entre elas, e tem de mostrar se a empresa cometeu erros, falhas ou tentou prejudicar algum candidato.”
O presidente diz que é uma situação bastante delicada, e que não pode se acusar nenhuma das empresas neste sentido.
“É importante que as empresas tomem mais cuidado, tenham mais responsabilidade no levantamento, porque a pesquisa muitas vezes servem como uma influência aos eleitores. Então, essa mudança repentina. Está certo que tivemos fatos que provocaram essa alteração. Mas, de qualquer forma as empresas precisam ter responsabilidade ao fazer essas pesquisas”, disse o presidente Paschoal Carmello Leandro.
Se houve discrepância entre as pesquisas e os resultados, são dos institutos de pesquisa, não do TSE. Com relação às investigações, o Ministério Público Eleitoral vai apurar o que for questionado, disse Moraes, quando indagado sobre as discrepâncias nos levantamentos.
O que dizem os especialistas?
O doutor em ciência política pela UEMS (Universidade Estadual de MS) Ailton de Souza enfatiza que, apesar da surpresa no primeiro turno da eleição, as pesquisas refletem o momento e não necessariamente a realidade. Ele destaca que, no caso de MS, o apelo de Bolsonaro aos votos em Contar foi o que determinou a mudança tão brusca no quadro.
“Na ciência política a gente sempre repete: embora as pesquisas apontem uma tendência, esses prognósticos não podem ser tomados como dados oficiais. É importante frisar que o Capitão Contar, que não aparecia entre os primeiros, desponta no primeiro turno como surpresa, e o André em terceiro colocado.”
Para o sociólogo e historiador Paulo Cabral, o candidato Capitão Contar não pode afirmar que as pesquisas erraram, pois quase não tinha expressão antes do posicionamento de Bolsonaro. Ele destaca que os dados apresentam reflexos do momento e não cravam resultados.
“Ele não pode afirmar que as pesquisas erraram porque ele não existia quase e estava com 10%, antes da quinta-feira, quando Bolsonaro fez a declaração. Ele tinha um capital político mínimo até essa data. Ele cresce justamente quando Bolsonaro declara apoio a ele ruindo com uma aliança que tinha feito com o PP, PL e PSDB. E, nesses dois dias, houve essa mudança. MS é um Estado bolsonarista, e o que o presidente fala tem muito peso.”
Cabral finaliza dizendo que, de fato, é surpreendente. “No caso, surgiu esse problema contra as pesquisas por esse fato, mas elas não estão absolutamente erradas. O problema das pesquisas é a construção da amostra. Isso é decisivo, e no caso, o último Censo foi em 2010. Temos 12 anos de defasagem e ainda que você use estimativa que te aproxime, talvez não chegue próximo à realidade.”
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado do MS.
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