Os resultados da volta do Brasil para o Mapa da Fome das Nações Unidas já estão sendo sentidas em Mato Grosso do Sul. O Estado ficou em primeiro lugar, dentro do Centro-Oeste, com domicílios que enfrentam algum grau de insegurança alimentar, com 65%, seguido pelo Mato Grosso, com 63,2%, Distrito Federal com 61,5% e Goiás com 54,8%.
Os dados foram divulgados no “Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, pesquisa realizada pela Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). A coleta foi feita entre novembro de 2021 e abril de 2022. Em MS, 450 lares foram pesquisados; os níveis de segurança alimentar foram divididos em três:
Segurança alimentar: a família/domicílio, tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais;
Insegurança Alimentar Leve: Preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos no futuro; qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos;
Insegurança Alimentar Moderada: Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos;
Insegurança Alimentar Grave: Fome (sentir fome e não comer por falta de dinheiro para comprar alimentos; fazer apenas uma refeição ao dia, ou ficar o dia inteiro sem comer).
Dos 450 lares pesquisados em MS, 61,8% são chefiados ou de responsabilidade de pessoas do sexo feminino e 38,2% são de responsabilidade dos homens. Outro dado é que, dentro os domicílios com renda per capita igual ou inferior a um salário mínimo, 67,8% são compostas por pessoas da cor parda e/ou preta.
Ainda de acordo com o levantamento, menos da metade da população (35%) estão em situação de Segurança Alimentar, enquanto 20,5% estão em Insegurança Alimentar Moderada e 9,4% configura situação de Insegurança Alimentar Grave. Esses dados, se colocados por mil habitantes, representam que 267 famílias de Mato Grosso do Sul passam fome.
Renda Familiar
A pesquisa mostra que a desigualdade de renda é o que mais pode explicar as diferenças entre Segurança e Insegurança Alimentar nos lares brasileiros. A análise demonstra que em qualquer estado do país em que as famílias têm renda inferior a meio salário mínimo, são mais propensas ao acesso inadequado aos alimentos.
Em Mato Grosso do Sul, 47,4% dos que recebem até meio salário mínimo, estão em condições de insegurança alimentar moderada e grave, ou seja, com possibilidade de passar fome. Apenas 20,3% das famílias têm acesso pleno à alimentação no Estado.
Nível Nacional
No Brasil no ano de 2022, quatro em cada dez domicílios conseguem manter um bom acesso à alimentação. Os outros seis lares ficam divididos entre os que estão preocupados com a possibilidade de não ter alimentos no futuro até os que já passam fome.
São 125,2 milhões de brasileiros que passaram por algum grau de insegurança alimentar, um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018.
A insegurança atinge os lares do Brasil de forma desigual. No Norte e no Nordeste os números ficam 71,6% e 68% respectivamente, índices maiores que a média nacional de 58,7%. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média nacional é de aproximadamente 15%, e, do Sul, de 10%.
A situação no campo também é alarmante: mais de 60% dos domicílios nas áreas rurais passam por algum grau de insegurança alimentar. A fome também atingiu 21,8% dos lares de quem produz o alimento.
Falta comida e água
A falta de acesso à água, conhecido como insegurança hídrica, faz parte da realidade de 12% da população geral do país. Dos brasileiros que convivem com a insegurança hídrica, 42% também estavam em situação de insegurança alimentar grave, o que mostra que quem tem fome também tem sede. No Centro Oeste, 41,8% das pessoas que estão em insegurança hídrica também estão com insegurança alimentar grave.
Além da fome, a tristeza
A insegurança alimentar moderada e grave está presente em 49,1% das casas endividadas. Em 48,7% relataram que tiveram que vender bens ou equipamentos de trabalho, em 55,2% algum morador parou de estudar para contribuir com a renda da família.
Além disso, 8,2% das famílias relataram vergonha, tristeza ou constrangimento para garantir comida na mesa. Dessas, 24,3% convivem com as manifestações mais severas de insegurança alimentar.
Em 28,3% pelo menos uma pessoa não consumiu as três refeições, como café da manhã, almoço e jantar. Metade das famílias reduziram a quantidade de comida comprada de arroz, feijão, vegetais e frutas. Nas famílias que deixaram de comprar carnes no período de três meses anteriores à pesquisa, em 70,4% há fome.