A modernização na indústria vai melhorar ainda mais os resultados nas exportações do Estado
A indústria brasileira começa o ano com grandes expectativas para o setor, após o governo federal anunciar a nova política industrial, a chamada NIB (Nova Indústria Brasil) com investimentos de R$ 300 bilhões previstos em financiamentos para a categoria até 2026. O jornal O Estado consultou o especialista e economista, Odirlei Dal Moro, para abordar sobre os efeitos da nova política na industrialização sul-mato-grossense.
Para o economista ficou bem claro que o objetivo global de todas essas medidas é estimular a indústria nacional. “No caso específico do Estado de Mato Grosso do Sul é fundamental que isso ocorra, porque se o Estado quer se desenvolver, uma das vias é por meio da industrialização. E nós temos em MS um processo de industrialização em bens primários e exportáveis”, frisou.
O economista que também é professor da UFMS, realizou uma pesquisa de mestrado onde apontou que mais da metade dos empregos industriais do Estado estão concentrados nos setores de cana, frigorífico e celulose. Ou seja, é um Estado que exporta produtos industriais básicos originados da agroindústria. E que se bem alinhado com as novas mudanças no setor, pode elevar os números em termos de exportação.
“Se o Estado quer desenvolver é fundamental, diversificar exportações, aumentar o número de destinos e aumentar o valor agregado das exportações. E isso significa a longo prazo exportar para além dos produtos agroindustriais. Então, esse processo de estímulo à indústria nacional sem dúvida nenhuma vai ter como reflexo positivo a industrialização de MS. Num primeiro momento em Programa sobre a Nova Indústria do Brasil foi lançado pelo Presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin produtos agroindustriais e, num segundo momento em produtos de maior valor agregado que deve ser o destino”, completa Dal Moro.
Governo de MS
Para o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, as ações previstas para a indústria estão alinhadas com as diretrizes já adotadas no Estado e vão melhorar ainda mais os números da exportação do Estado. Com relação ao incremento da participação da agroindústria no PIB agropecuário, Verruck lembra que Mato Grosso do Sul já trabalha nesse sentido e pode ser ainda mais beneficiado porque já tem os alicerces do programa.
“Em 2023 exportamos mais produtos agroindustriais do que produtos primários, essa é uma primeira lógica importante. Mas o plano federal traz outra questão que é a inovação, a necessidade de modernização da indústria brasileira, aumentar o conteúdo tecnológico. Para isso, nós precisamos de financiamento, precisamos de pesquisa e inovação. Isso é fundamental para dar produtividade e competitividade. Então, tudo aquilo que nós vimos aqui em MS, que discutimos nos últimos anos, fortemente, que é a agregação de valor, transformar o produto agroindustrial, ele se insere agora na política nacional como uma nova política industrial.”
A NIB promete ações previstas para até a próxima década (2033), algumas incluem a disponibilização de linhas de crédito, subsídios e investimentos públicos. Além de outros recursos, o economista avalia que as ações voltadas para a agricultura familiar são um dos pontos fortes do programa.
“É fundamental que esse novo processo de industrialização inclua a agricultura familiar, ou seja, para minimamente corrigirmos um erro histórico em que todo processo de industrialização trouxe uma concentração setorial. Entretanto, o processo é longo, mas necessário que se inicie e o Estado é FUNDAMENTAL nesse processo. Não foi com o livre mercado que o Brasil se industrializou, mas com a presença do Estado. Foi assim em outros países também”, compara Dal Moro.
Recursos e metas
A NIB pretende fazer uso de recursos públicos para atrair investimentos privados. Entre as medidas, a criação de linhas de crédito especiais; subvenções; ações regulatórias e de propriedade intelectual, bem como uma política de obras e compras públicas, com incentivos ao conteúdo local, para estimular o setor produtivo em favor do desenvolvimento do país.
“A política também lança mão de novos instrumentos de captação, como a linha de crédito de desenvolvimento (LCD), e um arcabouço de novas políticas – como o mercado regulado de carbono e a taxonomia verde – para responder ao novo cenário mundial em que a corrida pela transformação ecológica e o do mínio tecnológico se impõem”, detalhou, em nota, o Planalto. Dos R$ 300 bilhões anunciados, R$ 106 bilhões já haviam sido anunciados em julho de 2023, na 1ª reunião do CNDI. Os recursos do programa serão geridos por BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial).
O programa define seis áreas para investimentos, o governo também estabeleceu metas a serem atingidas em cada um dos segmentos até 2033. Nas cadeias agroindustriais: a proposta é mecanizar 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar – atualmente a parcela é de 18%. Além disso, 95% das máquinas devem ser produzidas pela indústria nacional. Na saúde, a previsão é de ampliar a participação da produção nacional de 42% para 70% das necessidades do país em medicamentos, vacinas e equipamentos médicos.
Para o economista Dal Moro, na pandemia ficou nítida a relevância do SUS (Sistema Único de Saúde), por esse motivo é praticamente inadmissível que todo e qualquer insumo de produção a saúde dependa das importações. É possível produzir internamente e isso é estratégico que façamos, afirma o especialista.
“É fundamental ao Brasil reverter o processo de desindustrialização o qual foi sujeito nas últimas décadas. A solução para isso se encontra no próprio mercado interno. Mecanizar a agricultura familiar, ampliar a produção interna daquilo que o SUS utiliza, a maior preocupação é com a produção sustentável, são preocupações muito importantes”, conclui Dal Moro.
Na área de bem-estar, o programa quer reduzir em 20% o tempo de deslocamento das pessoas de casa para o trabalho. Ampliar em 25 pontos percentuais a participação da produção brasileira na cadeia da indústria do transporte público sustentável. Outra prioridade é a Transformação Digital, onde estima digitalizar 90% das empresas industriais brasileiras – hoje são 23,5%. Triplicar a participação da produção nacional nos setores de novas tecnologias.
Outra prioridade da nova política industrial é a descarbonização, visando ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes – atualmente os combustíveis verdes representam 21,4% dessa matriz. E reduzir em 30% a emissão de carbono da indústria nacional. Por fim, o plano prevê alcançar autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas. Serão priorizadas ações voltadas ao desenvolvimento de energia nuclear, sistemas de comunicação, sistemas de propulsão e veículos autônomos e remotamente controlados.
Por Suzi Jarde
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