Gêmeos Neif Damião e Wellington Cosme têm os nomes em homenagem aos santos
Hoje é celebrado por católicos, adeptos de religiões brasileiras e de matriz afro-brasileira, como a umbanda e o candomblé, em comemorações que distribuem doces a crianças: o dia de São Cosme e São Damião, os santos gêmeos médicos.
Curiosamente, Campo Grande tem uma dupla de padres, irmãos e gêmeos, chamados Neif Damião e Wellington Cosme. “Somos irmãos nascidos aqui em Campo Grande, na região do bairro Silvia Regina, onde crescemos e conhecemos a fé católica”, conta padre Neif Damião, que conversou com a reportagem do jornal O Estado.
Os nomes, em homenagem aos santos, vieram quando a mãe pediu a ajuda deles pela saúde de um dos filhos. “Meu irmão e eu nascemos prematuros e vivíamos no hospital por diversas complicações e, em um momento desses, meu irmão Wellington teve um problema em um dos braços e o médico chegou a falar em amputar. Minha mãe não aceitou e já havia ouvido falar dos santos Cosme e Damião, médicos e mártires, e pediu a intercessão deles! Graças a Deus, pelo intermédio dos santos não foi preciso fazer a amputação”, relembra o sacerdote.
Sacerdócio
Com o passar dos anos, os meninos cresceram e, na juventude, sentiram que a vocação para a vida religiosa os chamava. “Tínhamos o costume de frequentar o oratório dos padres salesianos e sentíamos muito desejo no coração de seguir [o sacerdócio], porém por muitos motivos deixamos para trás o desejo e nos aprofundamos nos estudos e trabalhos. Mas, como na vida de muitos, chegou um momento em que sentíamos falta de algo ou de alguém, e esse alguém era Cristo, foi quando retornamos à comunidade e demos continuidade à caminhada”, relata.
São Cosme e São Damião são inspirações para os padres, na medida em que tiveram uma vida dedicada à caridade. “Eles são considerados mártires por volta dos anos 260, eram dois médicos gêmeos, que exerciam a profissão na caridade, sem nenhuma remuneração. Conheceram o cristianismo e se apaixonaram por Jesus e sua missão”, conta Damião, referindo-se ao fato de os santos, à sua época, prestarem atendimentos a crianças.
De acordo com o que conta a tradição católica, Cosme e Damião teriam sido perseguidos pelo imperador Diocleciano. “Derramaram seu sangue como Cristo para não negar a fé! São importantes para a igreja porque pelo sangue derramado, irrigaram a terra onde há mais de 2 mil anos vêm sendo testemunho para muitos e muitos irmãos”, explica o sacerdote.
Presos a mando de Diocleciano sob a acusação de feitiçaria e de espalharem uma seita proibida pelo imperador, os gêmeos foram inicialmente condenados à morte por apedrejamento e flechadas, mas não morreram. Após isso, o magistrado ordenou que fossem queimados em praça pública, mas o fogo não os atingiu. Em sequência, a ordem foi de afogá-los, mas teriam sido salvos por anjos. Por fim, a ordem foi de execução por decapitação.
Religiões afro-brasileiras
De acordo com o dirigente da Tefima (Tenda Espiritualista Filhos de Maria), Xisto de Queiroz Jr., “os santos gêmeos que tanto bem fizeram quando encarnados, exercendo sua profissão em prol dos mais necessitados, tinham como nomes verdadeiros Acta e Passio, e foram mortos pelo imperador Diocleciano, em 27 de setembro de 287 d.C. Segundo a tradição católica os gêmeos ao praticarem seus atendimentos, distribuíam guloseimas às crianças, enfermas ou não”.
Ele explica que, apesar de esses espíritos serem frequentemente relacionados a crianças, por causa de sua roupagem fluídica, têm grande entendimento. “Praticam curas inexplicáveis, principalmente em crianças. Ao fazer um pedido a esta falange trabalhadora na umbanda, o faça com o coração de uma criança, ou seja, sem mágoas e rancores, peça aquilo que precisa, e não aquilo que quer e tenho certeza de que, se for de seu merecimento, esses anjinhos irão te ajudar.”
O presidente da Federação das Religiões dos Povos de Terreiro MS – Ajô Nilê, Deamir Ribeiro, também conhecido como Bàbá Deá Odé, explica que essa é uma data importante para as religiões. “Assim começa umas das maiores festas do sincretismo religioso no Brasil, e que é fortemente comemorada pelos povos de matrizes africanas de MS. O terreiro é enfeitado como para uma festa de aniversário de criança, e começam os cânticos de louvor a São Cosme e São Damião.” “Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso, aqui no Brasil os povos de matrizes africanas os associaram a Ibéjì/Erê que são divindades/orixás gêmeos protetores das crianças do panteão religioso africano com história semelhantes aos santos gêmeos do catolicismo”, relata Deá Odé.
Deamir comenta que crianças e adultos fazem filas para receber os docinhos de Cosme e Damião, “recheados com muitos doces, gratidão por uma bênção alcançada e alegria, e ao som dos atabaques alegres cantigas de roda infantil são entoadas, adultos e crianças comemoram o dia mais feliz que para o povo de axé; é o dia das crianças e de seus protetores”.
Para a jornalista Geane Fernandes, entusiasta das comemorações, a data a faz voltar no tempo. “Esta é uma data que me remete à inocência e felicidade infantil, porque associo ela à minha infância, a coisa de ganhar os docinhos, ir às festas com outras crianças. Sempre foi muito gostoso pra mim”, comenta.
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado
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