Contas da prefeitura da Capital deixadas por Marquinhos viram polêmica entre vereadores

Câmara
Foto: Izaias Medeiros/CMCG
Por Andrea Cruz e Beatriz Feldens

Alguns parlamentares querem verificação e situação diz que está tudo positivo

Desde o início do segundo mandato do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD), atual pré-candidato ao governo do Estado, a oposição da Câmara de Campo Grande, protagonizada pelo vereador Marcos Tabosa, (PDT) batia muito na questão de que os “cofres públicos estariam falidos”, e “números das prestações de contas maquiados”. Nesta semana, o assunto foi novamente levantado, e além de Tabosa, o vereador Papy (SD) concordou que, na hipótese de as finanças estarem comprometidas por conta da antiga administração, os vereadores terão de auditar e confrontar. 

“Agora, nos resta a tarefa de confrontar essa realidade da nova prefeita [Adriane Lopes], e sobre o que ela está vendo lá [na Secretaria de Finanças]. E se esses números [que a] da oposição da Câmara [diz] realmente estão inflados”, disse Papy durante entrevista à Rádio Hora ontem (25). 

O ex-prefeito Marquinhos Trad indicou, ao deixar a gestão em 1º de abril, que havia deixado R$ 1,5 bilhão nos cofres para a prefeita Adriane Lopes tocar investimentos na cidade. Porém, na terça-feira (24), a prefeita Adriane Lopes (Patriota) foi recebida pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) na Governadoria para pedir ajuda em contrapartidas financeiras para terminar obras deixadas por Marquinhos. A busca de recursos foi discutida a portas fechadas e ao fim eles anunciaram a parceria estimada em mais de R$ 80 milhões em obras de melhorias na mobilidade urbana e no turismo campo-grandense. 

Após isso, e mesmo sem documentos comprovando as acusações, o vereador Marcos Tabosa repetiu em alto coro ao jornal O Estado que os cofres estão em desequilíbrio.

“O problema é que o ex-prefeito Marcos Trad deixou uma prefeitura falida. O ex-secretário de Finanças Pedro Pedrossian Neto veio prestar contas no último quadrimestre de 2021, e disse que os cofres possuíam mais de R$ 300 milhões. O ex- -prefeito fica falando no interior que deixou R$ 1,5 bilhão aqui em Campo Grande. E onde está esse dinheiro? Eu não sei se esse dinheiro foi empenhado. Sei que as unidades de saúde estão destruídas. Não tem remédio, não tem médico, não tem insumos; as escolas estão abandonadas, a periferia está abandonada, e não tem sequer cascalhamento.” 

Perguntado sobre se existe uma denúncia específica e como os vereadores podem trabalhar sobre o tema, Tabosa afirmou que os parlamentares podem formar uma frente de discussão para futuras investigações, mas não há queixa formal. Ele diz que não entrou com denúncia ao Ministério Público. 

“Acredito numa construção dos vereadores que já não aguentam mais. Mesmo sendo da base, os próprios vereadores já estão observando. Acho que tinha de ter uma CPI das contas públicas, e verificar quanto arrecadou, quem são os contratados, quais empresas, quem passou em processos seletivos. Por mim já começava investigar na semana que vem, mas eu sou uma voz que clama no deserto.” 

Papy 

O vereador Papy, que apoia o pré-candidato a governo do Estado André Puccinelli (MDB), não quis tomar partido de ninguém e muito menos fazer acusações. Ele disse durante entrevista à Rádio Hora que o Poder Executivo prestou contas na Casa de Leis por meio dos secretários. E que observou nesse tempo a oposição dizendo que as finanças da prefeitura não estavam muito bem.

“Deixar claro que daqui a alguns meses, as pessoas vão estar diante das urnas e que um dos pré-candidatos é o ex-prefeito [Marquinhos Trad], e que o papel aceita qualquer coisa. Os números às vezes aceitam qualquer coisa e ficam maquiados, e a oposição da Câmara às vezes têm marcado essa suspeita em alguns números e dito que estariam inflados positivamente e que a realidade seria diferente.” 

O parlamentar citou que na última participação do ex-secretário de Finanças Pedro Pedrossian Neto, na Câmara [afastado do cargo para disputar eleição de deputado estadual], houve prestação de contas, e afirmativas de que “estava tudo certo com números maravilhosos, que havia dinheiro em caixa e ainda dava para fazer investimentos.” 

“Quem administra os cofres públicos, paga as contas da prefeitura é o prefeito, e a Câmara olha esses dados após eles terem sido feitos e após terem sido apresentados. Essa execução é feita pelo prefeito e cabe a ele saber se fez certo ou se fez errado”, explicou Papy, que reforçou a importância de os vereadores tomarem pé de como estão os cofres: “A gente tem de conferir isso porque a folha tem os salários, décimo terceiro, várias obras em andamento e precisamos saber como ficará a quitação de tudo isso”, disse Papy. 

Houve prestação de contas 

O vereador Professor Juari, do PSDB, afirma que antes, na prestação de contas de Marquinhos Trad, havia um saldo positivo de mais de R$ 250 milhões nos cofres. O tucano acredita que esteja tudo em dia.

“Eu acredito que esteja tudo conforme a prestação de contas. Nos apresentaram um saldo positivo. Não posso fazer essas afirmações que outros vereadores fizeram. Já ouvi esse tipo de conversa, mas particularmente não recebi nada oficial e que pudesse colocar o estado financeiro de Campo Grande de forma alarmante. E se Câmara entender, que precisamos de nova audiência com a nova secretária de Finanças para que ela possa apresentar os números de hoje eu assino. Se houver essa necessidade, dela ir até a Casa e mostrar o mapa financeiro irei concordar.” Juari afirma que o período de pré-campanha pode contribuir para insinuações desse tipo. “Eu sou Riedel, tem outros que são Marquinhos, outro é Rose e outro é Puccineli. Neste período pode surgir essas falácias. É um tipo de política que eu não faço. Agora, se o gestor público deve, a Câmara tem de tomar um posicionamento.”

Cofres equilibrados

O vereador da base e líder do PSD, Otávio Trad, foi questionado via assessoria, e respondeu via nota oficial. Conforme o parlamentar o décimo terceiro dos servidores já está provisionado. “Reitero que, com as informações da Sefin (Secretaria Municipal de Finanças e Planejamento), a Prefeitura de Campo Grande está com as finanças equilibradas, com dinheiro em caixa e, inclusive, com o décimo terceiro salário dos servidores municipais já provisionado.”

Segundo Trad, a prefeita pegou o município em situação equilibrada e conseguirá cumprir com as obrigações como o pagamento do Reviva. “As contas que estão chegando e, que obviamente chegarão, principalmente como o pagamento do Reviva, já foram inseridas no orçamento municipal por meio da LOA (Lei Orçamentária Anual) e do PPA (Plano Plurianual), e todas com ciência dos vereadores. Não há nenhuma surpresa quanto ao pagamento dessas parcelas.”

O vereador afirma que denúncias vazias não terão voz em seu mandato. “Ocorre que as referidas colocações vindas de oposição, por ora, são meramente políticas. Não vejo embasamento para números contraditórios. Quanto ao trabalho da Câmara Municipal, os 29 vereadores têm autonomia e poder de fiscalizar o Executivo, e o presidente da Casa de Leis, vereador Carlão, nos dá toda condição para isso. Mas em caso de denúncias vazias, pessoais ou politiqueiras, claro, que não terá com a anuência do PSD, afinal temos convicção da responsabilidade fiscal e econômica do ex-prefeito Marquinhos Trad, da prefeita Adriane Lopes e de todos os secretários.”

Secretária garante viabilização de recursos deixados para investimentos

A subsecretária de Gestão e Projetos Estratégicos, da Secretaria de Governo e Relações Institucionais, Catiana Sabadin, afirmou ao jornal O Estado que o recurso de R$ 1,5 bilhão deixado pelo ex-prefeito Marquinhos Trad está no Plano Municipal de Gestão Estratégica com garantia de serem aplicados na cidade até 2024. Segundo ela, o montante está todo viabilizado. 

“Essas ações que estão no plano estão todas viabilizadas, via emendas, via financiamentos ou recurso próprio. Temos esse dinheiro em caixa com o objetivo principal de investimentos”, esclareceu a subsecretária. Ela ponderou também, que quando a prefeitura vai atrás de recursos do Governo do Estado, essas contrapartidas ajudam para que o chamado “Fonte 01”, que é o nome dado aos recursos próprios, seja remanejado para outros investimentos. “Muitas vezes o gestor vai em busca de outros entes para realizar novos projetos ou para projetos que precisam de contrapartidas. Quando o governo entra com contrapartida, a gente diminui a ‘Fonte 01’ para um determinado projeto e aplica em novos investimentos.” 

A subsecretária também é a coordenadora de programas de investimentos de Campo Grande e afirma que o recurso de R$ 1,5 bi será para finalizar projetos como a revitalização do prédio da antiga rodoviária, que já teve edital de licitação publicado e prevê R$ 19 milhões em investimentos, investimento tecnológico e de inovação na Esplanada Ferroviária, reformas de unidades de saúde, reformas de escola municipal de educação infantil, reformas de Centro de Referência de Assistência Social, um novo espaço para atender população de rua, hospital das Moreninhas, reforma do Centro de Especialidades Médicas, revitalização da Avenida Bom Pastor, finalização do Centro de Belas-Artes e construção da Vila do Idoso.

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