Com seca e greening, crise no setor de laranja aumenta custos e muda preferências de consumo na Capital

Consumidor escolhendo laranja e suco da fruta expostos para venda - Foto: Nilson Figueiredo
Consumidor escolhendo laranja e suco da fruta expostos para venda - Foto: Nilson Figueiredo

Mercados de Campo Grande enfrentam alta de até 25% no preço do suco de laranja, enquanto consumidores migram para opções mais baratas

 

A combinação da pior seca em 50 anos e da propagação da doença greening cítrico tem afetado severamente a produção de laranja no Brasil, o maior exportador do mundo, elevando os preços do suco a níveis recordes. Em Campo Grande, as prateleiras dos mercados já sentem o impacto, com os consumidores mudando os hábitos de compra, levando a uma maior procura por alternativas mais baratas, como sucos de outras frutas e refrigerantes.

“Estamos vendo uma migração para sucos de soja, acerola, uva e maçã”
Douglas Aparecido, gerente – Foto: Nilson Figueiredo

O preço do suco de laranja registrou um aumento expressivo nos últimos meses. Segundo Douglas Aparecido, gerente do Mercado Duarte, a alta chegou a 25% dependendo da marca, uma variação que ele descreve como “fora da curva”. O aumento dos custos tem feito com que os consumidores busquem alternativas mais baratas. “Estamos vendo uma migração para sucos de soja e outras bebidas mais acessíveis, como os sucos de acerola, uva e maçã, que agora têm mais procura nas prateleiras”, relata.

O impacto da crise no setor de laranja não se limita apenas ao aumento de preços. Emerson Rodrigues, gerente do Mercado Pires, também aponta uma mudança clara no comportamento dos clientes. “Com o calor, as vendas de sucos continuam boas, mas temos notado uma maior saída de sabores alternativos, como goiaba e limão, que são mais baratos que o suco de laranja”, observa. Rodrigues destaca ainda que o consumo de refrigerantes também aumentou, especialmente entre os clientes que buscam substituições rápidas e baratas.

Além disso, o gerente menciona que, para manter a competitividade, o mercado tem diversificado as marcas de sucos oferecidas, apostando em opções com preços mais baixos. “Estamos trazendo marcas mais acessíveis, como o Viva Feliz, para que os consumidores possam continuar comprando sucos, mesmo com a alta do suco de laranja”, explica.

Causas da crise

A seca no cinturão citrícola brasileiro, principalmente em São Paulo, maior estado produtor de laranjas do país, é considerada a pior em 50 anos. Além disso, a propagação do greening cítrico, doença que reduz a produtividade das árvores e afeta a qualidade das frutas, tem devastado pomares. Em 2023, cerca de 38% das árvores de laranja do Brasil apresentaram sintomas da doença, o que contribuiu para a menor safra em 35 anos.

Essa queda na produção resultou em uma escassez no mercado global de suco de laranja, com os contratos futuros negociados na bolsa Intercontinental Exchange atingindo níveis recordes. A oferta reduzida e a alta demanda global pressionaram os preços, que triplicaram em relação aos últimos dois anos, afetando diretamente o bolso dos consumidores brasileiros e as prateleiras.

Foto: Nilson Figueiredo

A reação dos mercados locais tem sido, em grande parte, adaptação. Reduzir a oferta de suco de laranja em favor de outras frutas e sucos é uma estratégia observada nos estabelecimentos. “Estamos diminuindo o espaço dedicado ao suco de laranja e aumentando a oferta de sucos de outras frutas, como maçã e uva. A indústria já está se movendo para suprir essa demanda”, explica o gerente do Mercado Duarte.

Apesar das medidas adotadas, as perspectivas de melhora no curto prazo são incertas. Karla Nadai, gestora de Citricultura da SEMADEC (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), destaca que o estado enfrenta desafios distintos. Segundo ela, “a laranja está apenas começando a se desenvolver em Mato Grosso do Sul, e ainda não há iniciativas locais de pesquisa e desenvolvimento específico para o combate ao greening. No entanto, bilhões de dólares já foram investidos globalmente na busca pela cura.”

 

Por Djeneffer Cordoba

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