Para população o valor é considerado irrisório e insuficiente se avaliada a inflação nos itens de alimentação
Foi aprovado a partir do PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias), o reajuste do salário mínimo para 2025. O valor do montante até o momento é cotado em R$ 1.502, ou seja, R$ 90 a mais que o valor de 2024, que está em R$ 1412. O aumento será de 6,37% em relação ao piso atual e deve impactar as contas públicas em R$ 35,3 bilhões. Com isso, avalia-se também de que forma a adição impactará nas finanças da população sul-mato-grossense, inclusive
Em levantamento feito pelo jornal O Estado a partir de seis estabelecimentos comerciais localizados na Capital, com o valor de R$ 90 seria possível comprar pelo menos 10 itens da cesta básica, sendo eles o arroz de 5 kg, comercializado ao preço médio de R$ 25,23, o feijão, vendido a R$ 6,65 preço médio, o óleo a R$ 5,11, o açúcar a R$ 6,07, o café a R$ 16,54, o sal a R$ 8,84, o macarrão a R$ 4,27, o extrato de tomate a R$ 6,17, uma cartela com 12 ovos a R$ 9,66 e o quilo da batata, comercializado a R$ 6,70, que totalizaram R$ 90,24.
O segurança, Jeferson Lopes Romero, 33, argumentou que o valor não vai alterar significativamente suas finanças. Para alguma parcela da população, em sua opinião, talvez impacte, mas para ele, que hoje tem gastos acima de R$ 2 mil para manter somente a filha, não vai impactar.
“Para mim não vai alterar em nada, não seria algo que mudaria alguma coisa para mim, na minha vida de pai. Com R$ 90 você praticamente não faz nada, vai no mercado, compra alguma coisa e qualquer compra básica sai mais de R$ 90. Então, para mim, esse aumento não significa nada. O que você faz com R$ 90 hoje? Um gás não custa R$ 90, é bem mais de 90 reais. Hoje eu gasto R$ 1000 de mercado, fora compra e remédio para minha filha. Eu tenho uma filha e todos os gastos com ela são só de compra, escola e remédio vai uns R$ 2 mil por mês”.
A psicóloga, Isabele Bayoni, 31, possui uma opinião contrária a partir do reajuste. Afinal, ela acredita no projeto de governo atual e na melhoria da inflação para os próximos anos. Para ela, se o salário mínimo aumenta, os produtos se tornam mais acessíveis ao público em geral. “Eu acho que o hortifruti de R$ 90 dura o mês todo, pensando que isso é o que nos nutre. O consumo de carne, por exemplo, varia muito de como se consome, quantas pessoas esses R$ 90 precisam sustentar. Então, tudo isso é muito relativo, para dizer o que se faz com 90 reais. É um valor que não dá para se ver somente pelo número, é preciso ver o contexto social”, argumentou a psicóloga.
Conforme argumenta, embora o aumento não seja o ideal, há planos para que a diferença social diminua. Em sua opinião, o valor, sem dúvida, não salvará o mundo ou o Brasil, contudo, é necessário seguir pressionando o governo para que haja melhorias para o trabalhador e não somente para os empresários. “Que ele volte a nos amparar e não somente as grandes empresas. Hoje a esquerda do Brasil é bem caricata, porque não é uma esquerda de verdade, é um centro-esquerda e o Lula sempre fará acordos. A nossa prefeita nem se fala, as coisas que ela tem feito são muito mais pró-empresas e agronegócio. Falar de R$ 90 é muito pequeno perto do que a gente pode falar”, pontuou.
O empreendedor, Dulio Costa Júnior, 77, também argumenta que os R$ 90 “não dá para nada”. Hoje ele reside somente com a esposa e, conforme pontua, não somente a alimentação, mas a água e a luz se mostram extremamente inflacionadas. “Você vai lá, compra um pacote de arroz, um de açúcar, um de feijão, um café e foi quase tudo já. Sinceramente o aumento comparado ao salário mínimo é pouco. Você vai no mercado, o alho subiu, de R$ 24 está R$ 30, você vai comprar uma cenoura e está R$ 8 ou R$ 9, tudo caro. Fazem quinta verde, só enganação, não tem nada de preço baixo, porque eles só abaixam o preço quando está vencendo o produto, está para vencer e dois dias eles abaixam e só assim que abaixa. Esses R$ 90 não ajudam nada, nada, a luz subiu assustadoramente, a água. Lá em casa é só eu e minha senhora e não tenho ar-condicionado, só ventilador e geladeira, ferro de passar não usa e a minha luz vem R$ 400 e poucos reais. É muito pouco, para nós brasileiros e o que estamos passando no mínimo tinha que subir uns R$ 200 e poucos reais, para dar uma ajudada mais ou menos.
Visão de especialista
O economista, Eugênio Pavão, argumenta que esses são os valores percentuais de reajustes do salário mínimo, desconsiderando a inflação, ou seja, valores nominais. Valor previsto na Constituição Federal de 88, explica o economista, deveria suprir os gastos com todas as pessoas do trabalhador e sua família, com uma previsão para sustentar quatro pessoas, ou seja, pai, mãe e dois filhos. No entanto, na realidade, o valor não supre as necessidades mínimas, principalmente para famílias maiores e em áreas metropolitanas.
“Qualquer aumento real é bom, pois permite que os consumidores comprem mais e melhores produtos, a exemplo, a substituição de mercadorias básicas por outras mais elaboradas, como do arroz típico C para o arroz tipo A”, argumentou.
De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o valor ideal em 2024 para suprir as necessidades de uma família, a considerar o contexto seria de R$ 6.996,36. Entretanto, o salário mínimo não atinge esse valor em virtude da incapacidade dos municípios de pagar esse valor. Dos 5572 municípios, menos de 80% conseguiram despender esse valor, daí a diferença entre o previsto em lei e a realidade brasileira.
“Com certeza, a realidade do trabalhador é muito difícil e o salário mínimo não atinge o que está previsto na CF/88. Por isso os arranjos sociais levam as famílias mais pobres a viverem em condições precárias, com grupos grande de pessoas por unidade residencial”.
Diretrizes gerais sobre o salário
O valor do salário mínimo segue a fórmula de correção da política de valorização, que inclui reajuste pela inflação de 12 meses até novembro do ano anterior mais a variação do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. De acordo com o PLDO, a cada R$ 1 adicional no salário mínimo, o impacto é de R$ 391,8 milhões.
A previsão para 2025 ainda pode mudar ao longo do ano, conforme variações na estimativa para a inflação e eventuais revisões do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no desempenho do PIB de 2023. Uma nova estimativa será encaminhada com a proposta orçamentária, em 31 de agosto. Em relação aos anos seguintes, o governo prevê um piso de R$ 1.582 em 2026, de R$ 1.676 em 2027 e de R$ 1.772 em 2028.
Inicialmente, a pasta indicou um valor de R$ 1.722 para 2028, mas o número foi corrigido. No PLDO de 2025, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também propôs uma revisão na trajetória das contas públicas que, na prática, adia o ajuste fiscal para o próximo presidente.
A meta fiscal será zero para 2025, igual a este ano, com uma alta gradual até chegar a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028. Os números sinalizam uma flexibilização em relação à promessa feita no ano passado, na apresentação do novo arcabouço fiscal, de entregar um superávit de 0,5% do PIB no ano que vem e alcançar um resultado positivo de 1% do PIB já em 2026, último ano de mandato de Lula.
Por Julisandy Ferreira
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