Clima eleitoral aquece Câmara com bombardeio contra a prefeita

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Líder não acredita em investigação e defende oposição consciente 

O clima eleitoral já toma conta das sessões da Câmara e o principal alvo, nas últimas sessões, tem sido a prefeita, Adriane Lopes, que após a filiação ao PP praticamente confirmou que tem projeto de concorrer à reeleição. Ao responder às críticas dos vereadores, a prefeita faz o que, no jargão da política, se chama de “passar recibo” e estabelece um bate-boca com vereadores, num momento em que há uma forte mobilização de troca de partidos na Câmara, que ao final pode reduzir a forte base de sustentação da prefeita que, por enquanto, impede que no Legislativo essas acusações venham a ganhar proporções de uma Comissão Processante.

“Neste momento, o que está acontecendo é unicamente reflexo da má administração da prefeita e ainda não tem a ver com o clima eleitoral.” Esta foi a vereadora Luiza Ribeiro (PT) que, em parceria com o vereador André Luís (Rede), recorreu ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul, pedindo a instauração imediata de um inquérito civil público, com o objetivo de apurar a conduta de improbidade administrativa da prefeita Adriane Lopes e do ex-prefeito Marcos Trad, em relação a reiterados atos ilegais que têm sido denominados “folha secreta”.

“Entregamos o relatório com todas as informações que foram solicitadas. Os vereadores também precisam receber, pois são fiscalizadores do Poder Executivo. Não são informações secretas e sim públicas. Algumas coisas, o Tribunal cobrou que a gente executasse agora e outras ele recomendou. Respondemos a todos os questionamentos e vamos avançar com ações pontuais, diminuindo despesa de custeio com folha. Queriam avaliar se existe folha secreta, não existe isso. Existem benefícios a servidores, assim como acontece em todos os órgãos”, explicou a prefeita.

Troca de partidos 

Já com foco na disputa eleitoral de 2024, alguns vereadores estão mudando de partido e, em alguns casos, recebem convite de pré-candidatos a prefeito, como é o caso do deputado federal Beto Pereira, que teria acertado a filiação de, pelo menos, seis vereadores, o que tornaria a bancada do PSDB, na Câmara, a maior do Legislativo municipal. Dos atuais três integrantes passaria para nove parlamentares. Com esse contingente de vereadores, somados a vereadores de outros partidos que também têm candidatos a prefeito, formariam um contingente capaz de, no mínimo, viabilizar a aprovação de um requerimento para a instalação de uma Comissão Processante que, em ano eleitoral, pode ter um poder explosivo incalculável.

A própria vereadora Luiza Ribeiro acredita que, pelo menos, até o mês de abril venha a ser difícil conseguir abalar a base de sustentação da prefeita, mas a medida em que se configurar um novo quadro de bancadas talvez mude a realidade do Legislativo. Por enquanto, os vereadores devem continuar no ataque e se a prefeita continuar respondendo, por meio da assessoria, o barulho pode ser grande, mas com pouco efeito prático, a menos que o MPE (Ministério Público do Estado) ou o TCE (Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul) tomem alguma posição em relação ao que já existe em termos de investigação ou atenda ao requerimento apresentado pelos vereadores.

Enfraquecimento político

O vereador André Luís (Rede) avalia que a prefeita vem se enfraquecendo politicamente. “Ela está vivendo um momento de enfraquecimento político, na minha avaliação. Boa parte do pessoal que é base dela está migrando para o PSDB. Deve ir muita gente pra lá. Acho que ela está ficando isolada, não está conseguindo articular com a Câmara de Vereadores, está perdendo apoio. Além disso, o mandato dela não está dando o resultado esperado e, na minha opinião, o pessoal vai abandonar o barco. Acho que ele nem sai para reeleição, não vai ter força política. Ela fez aliança com a Tereza Cristina (PP), indiretamente tentando o apoio do Bolsonaro. Bolsonaro não vai com ela, muito provavelmente vai com o Pollon (PL) e acho que ela vai se perder no caminho. O partido dela é um partido fraco, não tem força política, ela não tem apoio na Casa, nem externo. Por enquanto, ela tem o apoio da Tereza Cristina (PP). Mas, acho que quando Bolsonaro conversar com a Tereza Cristina, ela vai abandoná-la. Isso na minha avaliação técnica.”

Sobre as representações apresentadas no MPE, o vereador disse: “Temos um material técnico, que é o parecer do TCE (Tribunal de Contas Estadual). Não estamos aqui fazendo ilações, acusações levianas. Então, realmente, é algo sério. Agora, estamos discutindo a questão com a Receita Federal, isso da folha secreta, que pode, indiretamente, ser considerado um crime fiscal. Temos que investigar, estamos abrindo todas as portas para saber a profundidade do problema”, pontuou.

Líder da prefeita, Beto Avelar descarta clima eleitoral 

Para o líder da prefeita na Câmara, vereador Beto Avelar (PSD), é muito cedo para discutir as eleições de 2024. Avelar diz que é normal ter oposição com fundamentos e que não vê oposição por oposição. Nesse sentido, ele acredita que o bate- -boca entre a prefeita e vereadores não abalará a sua base na Câmara, nem refletirá em ações da Câmara contra a administração municipal.

“O que eu vejo na Câmara, na condição de líder da prefeita, é que não tem uma oposição por oposição. Tem as bancadas, que têm, é claro, os interesses comuns, mas nós temos que considerar que a eleição é no ano que vem. Não fomos eleitos por três anos. Fomos eleitos para cumprir o mandato. Eu vejo uma oposição saudável. Muitas vezes, ela não estará no projeto político da prefeita, mas tenho certeza que, se for um projeto bom para Campo Grande, os vereadores vão aprovar.” Citando como exemplo o projeto do Refis, que foi aprovado por unanimidade. O vereador não acredita que as trocas de cadeiras na Câmara possam fortalecer um pedido de abertura de investigação sobre atos administrativos da prefeitura, como, por exemplo, investigação sobre a folha sanão podemos ultrapassar o trâmite legal, simplesmente por uma questão eleitoreira. Então, acho que isso não vai acontecer. Tenho pela convicção de que não atuarão dessa forma. A principal função dos vereadores, que é fiscalizar o erário, o executivo, as obras, e isso a Câmara vem fazendo bem feito. Tudo isso comandado pelo nosso presidente, o Carlão. Estou bem tranquilo com relação a isso.”

Avelar destacou ainda que a prefeita Adriane Lopes (PP) não está se colocando de forma eleitoreira, muito menos escondeos problemas existentes. “A prefeita não vem fazendo uma questão eleitoreira. Está caminhando, buscando apresentar as soluções. Sempre falando que Campo Grande tem problemas, mas nós temos que ver os problemas e buscar soluções, é esse o caminho.

E finaliza, avaliando ser improvável que os vereadores se aproveitem de sua função para outros fins, que não o de fiscalizar as ações municipais. “O que eu conheço dos vereadores, que a gente conversa no dia a dia, o que a gente vem debatendo. Oposição por oposição não vai ter”, citando, como exemplo, o vereador André Luís (Rede), que deve ser pré-candidato no ano que vem. “O Professor André, por exemplo, faz uma oposição, não dever ser candidato a vereador no ano que vem, está se mobilizando para uma candidatura para a Prefeitura de Campo Grande, mas é muito consciente. É uma oposição que vem construindo e contribuindo para a Capital”, finalizou.

 

Por –Laureano Secundo e Daniela Lacerda , Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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