O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou com jornalistas nesta sexta-feira (18), um dia após ser alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) que cumpriu mandados de busca e apreensão em sua residência e no escritório do Partido Liberal, em Brasília. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de um novo inquérito que investiga o ex-mandatário por coação, obstrução de investigação e atentado à soberania.
“Nunca pensei em sair do Brasil”, declarou Bolsonaro, ao comentar as restrições impostas pela Corte. “No momento, é um novo inquérito, e estou dentro dele. É a quarta busca e apreensão contra mim. Isso tudo é uma suprema humilhação”, completou. Ele ainda disse, quando questionado sobre a possibilidade de prisão, que “tudo pode acontecer”.
Medidas restritivas e críticas ao STF
A nova decisão do STF impõe uma série de medidas cautelares contra Bolsonaro, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e integral nos fins de semana, apreensão de seu celular, além da proibição de contato com réus, investigados, embaixadores e diplomatas.
Bolsonaro também está proibido de se comunicar com os filhos Carlos Bolsonaro (vereador no Rio de Janeiro) e Eduardo Bolsonaro (deputado federal licenciado, atualmente nos Estados Unidos). “Os advogados estão buscando acesso às peças para entender o que está acontecendo”, afirmou.
O ex-presidente voltou a negar qualquer participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. “Nada de concreto existe ali, e a própria PF não me colocou no 8 de janeiro. A PGR foi além do que viu no inquérito e me colocou. Golpe sem Forças Armadas, sem armas… Golpe de festim. Espero que o julgamento seja técnico, e não político”, disse.
Na segunda-feira (14), a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a condenação de Bolsonaro e de outros sete réus, incluindo ex-ministros e militares, por tentativa de golpe.
De acordo com o STF, a Polícia Federal apontou que Bolsonaro e seu filho Eduardo teriam atuado, ao longo dos últimos meses, junto a autoridades dos Estados Unidos para tentar impor sanções contra agentes públicos brasileiros — o que, segundo o inquérito, configura atentado à soberania nacional.
O ex-presidente também confirmou que a operação resultou na apreensão de R$ 8 mil e US$ 14 mil em espécie. “Nunca pensei em ir para uma embaixada, mas as cautelares foram em função disso. Não posso me aproximar de embaixadas. Tenho horário pra ficar na rua”, relatou.
Durante a entrevista, Bolsonaro ainda comentou a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, e criticou a resposta do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Só o Brasil não está negociando. Em 2019, Trump queria taxar aço e alumínio, resolvi e não foi tarifado. O mundo todo está com tarifas hoje”, disse.
Ele aproveitou para alfinetar Lula, afirmando que o atual presidente “fica o tempo todo ao lado de ditadores” e provoca o governo americano. “Ele quer ser tratado com cordialidade? Agora o povo todo vai sofrer.”
Trump, por sua vez, enviou uma carta a Bolsonaro na quinta-feira (17), classificando como injusto o julgamento no STF e pedindo seu encerramento imediato. O republicano também elogiou a gestão do ex-presidente brasileiro e afirmou que continuará acompanhando a situação política no país. Bolsonaro agradeceu publicamente: “Conte com minha eterna gratidão”, publicou nas redes sociais.
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