Bandeiraços em esquinas ficam para trás e disputa centraliza no meio digital

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Imagem: Reprodução/Divulgação
Militância tem dado ritmo na internet por meio de compartilhamento, comentários e ataques ao adversário

Candidatos a governo de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB) e Capitão Contar (PRTB) mobilizam militância e “guerra digital” ocorre em semana decisiva, antes do segundo turno da eleição em 30 de outubro. Faltando apenas dez dias para o pleito, os adversários apostam em várias estratégias de campanha, ao passo que “deixam de lado”, os bandeiraços tão comuns no primeiro turno das eleições, já que havia cerca de 540 candidatos aos mais diversos cargos e os espaços nas principais ruas das cidades eram disputados.

Atualmente, os candidatos devem estar nas redes sociais para sobreviver à campanha, e o uso das mídias digitais veio para ficar. E, junto dessa nova ferramenta, os cuidados e a responsabilidade com a disseminação de fake news são realidade.

A campanha de Riedel está ativa nas redes sociais, tanto que as publicações de vídeos, fotos de agendas e transmissão de releases de campanha ocorrem de forma muito rápida. Apoiador da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), Riedel também está focado em comparecer em todas as entrevistas, debates e sabatinas, nos quais confirmou sua presença. A intenção é ocupar os espaços para apresentar seu plano de governo.

O candidato Capitão Contar (PRTB), que se elegeu em 2018 usando maciçamente as redes sociais para chegar ao eleitor com discurso bolsonarista, realizou toda a campanha apostando fortemente na ferramenta. Lives, entrevistas, vídeos, podcasts e outras dezenas de formas de conteúdos são inseridos diariamente em suas mídias digitais. Para o candidato, que não usa recurso do fundo eleitoral para realizar a campanha, a rede social é um dos principais meios de chegar a sua base política.

Em nível nacional, tivemos, tanto na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto na do presidente Jair Bolsonaro (PL), a utilização contínua das redes sociais, e de espaços digitais com postagens patrocinadas e orgânicas. Na segunda-feira (17), por exemplo, a entrevista de Lula ao canal Flow, do YouTube, bateu recorde mundial de público ativo ao vivo. Foram 1,1 milhão de pessoas assistindo ao canal pelo YouTube no horário da entrevista. Antes dele, Bolsonaro também havia feito um recorde de 500 mil internautas assistindo.

Ao passo que os candidatos turbinam as redes sociais, as ruas de Mato Grosso do Sul ficaram “um tanto vazias” neste segundo turno. Não se vê mais tantos bandeiraços pelas esquinas, caminhadas ou carreatas. O fenômeno se dá entre os fatores, o de ter somente dois candidatos disputando no segundo turno. Nas campanhas de primeiro turno, eram cinco cargos eleitorais em disputa, e por consequência mais cabos eleitorais com bandeiras nas ruas. Outro fator é de fato o investimento nas mídias atreladas às campanhas de rua.

Palcos são as redes digitais

O especialista em mídias digitais, advogado Raphael Chaia, explicou ao jornal O Estado que o fenômeno do uso maciço das redes sociais não é novo e vem de 2014, ou seja, vai fazer dez anos que as novas tecnologias são usadas.

“Isso não é algo novo. Em 2014 eu já falava que as eleições seriam engajadas cada vez mais nas redes sociais. E hoje a realidade é essa. Os palcos eleitorais, de discussão e de debates hoje estão na internet. É na internet que você viraliza as informações, que promove debates, apresenta suas propostas, e pode apresentar suas falas sem as amarras que o horário eleitoral sempre teve.”

Ele explica que desde 2018, efetivamente, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) trabalha normas mais complexas para uso de internet em período eleitoral. Em 2016 começaram a ser elaboradas algumas regras que viraram resoluções de forma mais contundente com normas em 2018 e 2022.

Para o especialista, o uso das mídias digitais e ferramentas incluindo redes sociais é um fenômeno normal e a política tradicional vai ter de mudar. “Não sei até que ponto esses bandeiraços ainda surtem efeito”, diz ele.

Chaia explica que um marco nesta eleição foi o fato de os candidatos participarem fortemente de podcasts, e conversa com youtubers, sendo muito mais acompanhados pelo público, do que entrevistas tradicionais em canais de TV. “O que denota uma quebra de paradigma muito grande. Vimos novos modelos de debates serem criados, como o da Bandeirantes em que os candidatos conversam livremente entre eles, e com transmissão na internet, que é tendência nos Estados Unidos e que chegou aqui. Ou seja, a internet veio para ficar.”

“Porque exatamente desse hábito de se falar para uma bolha, que rolou na política nos últimos 10 ou 15 anos, criou-se um cenário de polarização extremado. O político deve estar presente nas redes sociais, mas também presente para ouvir não só quem o apoia como também as críticas das pessoas. Porque isso faz parte da telecidadania – que é a cidadania exercida nos meios digitais e que está no Marco Civil da Internet, em seu artigo sétimo – e é fundamental.”

Especialista alerta sobre perigo de difamar informação agressiva

Os eleitores se deparam diariamente com um bombardeio de informações como se houvesse uma “guerra digital”. A Justiça Eleitoral vem trabalhado para atender centenas de denúncias. O candidato Contar, por exemplo, diz que já moveu 75 processos denunciando notícias falsas.

Chaia reforça sobre as responsabilidades dos candidatos durante o uso das redes e cuidados para não disseminar fake news. “Com tudo isso, entra uma série de cuidados. A gente se preocupa com a disseminação de notícias falsas, manipulação e desinformação em larga escala. Problemas com relação ao uso excessivo de cortes, onde a pessoa pega um corte isolado de uma fala do candidato e usa muitas vezes para subverter a fala criando desinformação.”

Para o eleitor, a dica é ter cuidado e não transmitir cortes de vídeos e notícias sem checar fontes oficiais. E para os candidatos, existe a responsabilidade de não compartilhar também, já que não temos uma lei que trata de fake news no Brasil. “Se você recebeu um corte de vídeo, verifique e assista a toda a entrevista para saber se o conteúdo é aquele. Ainda não temos uma lei específica sobre as fake news, mas nós já temos há muitos anos, legislação que pode ser aplicada nestes casos como, por exemplo, uma notícia falsa pode apresentar uma calúnia, injúria, dano moral, apologia ao crime, etc. Existe responsabilidade e precisamos encontrar um equilíbrio saudável entre o exercício da liberdade de expressão e a responsabilidade que decorre de seu exercício.”

Tem de estar na rede!

Os candidatos que quiserem sobreviver às campanhas e chegar ao eleitor deverão estar ativos nas mídias digitais. É o que garante o advogado Raphael Chaia. Por isso, atualmente mais do que nunca, o político deve aparecer e gerar conteúdo nas redes.

“Com certeza absoluta, o candidato, seja ele quem for, precisa ter um canal eletrônico com seu eleitorado. Ele tem de estar presente nas mídias sociais. E deve estar pronto também para saber receber críticas. Ele não pode só falar com uma bolha.”

Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado do MS.

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