Baixo consumo de carne força JBS a suspender atividades em duas plantas frigoríficas de MS

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Imagem: Reprodução/Valentin Manieri
Depois de Ponta Porã, unidade de Nova Andradina se prepara para entrar em férias coletivas por 20 dias

Por Izabela Cavalcanti e Marina Romualdo – Jornal O Estado MS

O baixo consumo de carne e a pouca oferta de gado fizeram com que a JBS – uma das maiores indústrias de proteína animal do mundo – suspendesse as atividades em duas plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul.

Conforme apurado pela equipe de reportagem do jornal O Estado, após a unidade de Ponta Porã fechar em abril de 2022, a de Nova Andradina já se programa para enfrentar férias coletivas por 20 dias. Questionada sobre o assunto, a JBS não se posicionou até o fechamento desta edição.

Na época, os trabalhadores da unidade da cidade fronteiriça tiveram a possibilidade de transferência para as unidades de Anastácio, Naviraí e Nova Andradina, sendo oferecida uma ajuda de custo para a mudança.

Outros cinco abatedouros espalhados pelo Brasil também serão atingidos: Pontes e Lacerda (MT), Colíder (MT), Alta Floresta (MT), Redenção (PA) e Tucumã (PA). Essas regiões, incluindo MS, não têm grande oferta de gado.

O presidente do Sindifrigo-MT (Sindicato das Indústrias de Frigorífico de Mato Grosso) e diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), Paulo Bellincanta, se pronunciou sobre o assunto. “Para cada unidade frigorífica existem milhões investidos, altos valores em fluxo de caixa, seres humanos envolvidos e uma responsabilidade social e econômica daqueles que dirigem esta indústria. Fechar uma indústria lucrativa seria insano. Manter uma planta aberta por muitos meses com prejuízo seria irresponsabilidade.”

O presidente do Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul), Regis Luís Comarella, reconhece a dificuldade que o setor está enfrentando.

“O consumo está muito ruim, hoje a demanda da população, a demanda de carne caiu muito. O consumo reduziu drasticamente, a população eu acho que está sem poder aquisitivo. O mercado interno está desaquecido, não tem consumo e aí, consequentemente, as indústrias fecham no prejuízo todas as vezes”, comenta.

Ainda de acordo com Comarella, além do baixo consumo, o aumento de matéria-prima também é uma preocupação. “A JBS tem condições de dar férias, mas muitos frigoríficos, não só em Mato Grosso do Sul, mas no Brasil, estão passando por dificuldade por falta de consumo, matéria-prima cara, o aumento que teve no diesel afetou muito, na margem dos frigoríficos. A princípio, no mercado não vai faltar carne, porque está tendo muita carne sobrando”, completa.

A cena se repete

Esta não é a primeira vez da paralisação em Mato Grosso do Sul. Em 2016, cerca de 500 funcionários do frigorífico JBS de Nova Andradina também tiveram férias coletivas. Na época, foram 20 dias da suspensão da atividade em função da falta de bois para o abate, que ficou pior após a dificuldade de acesso às fazendas pelas estradas que ficaram prejudicadas com as chuvas intensas

Arroba do boi

O pouco consumo de carne também tem levado à queda da arroba do boi. Conforme a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária Mato Grosso do Sul), na primeira quinzena de julho o valor médio da arroba do boi foi cotado a R$ 289,58, apresentando desvalorização de 1,56% em relação ao dia 1° do mesmo mês.

“O viés de baixa é resultado do menor interesse da indústria que está com escalas de abate confortáveis e arrefecimento da demanda no mercado interno”, explica o boletim de pecuária.

Em relação ao comparativo anual, o preço da arroba do boi está 5,88% menor que igual período de 2021. Segundo Comarella, a retração na arroba afeta diretamente o pecuarista. “A queda da arroba do boi já era esperada, porque o comércio travou, não tem venda. É uma pena, porque o pecuarista também tem seu custo, tudo isso impacta na produção.

O preço da arroba caindo, o pecuarista não vai colocar boi para confinar. Isso lá na frente vai ter consequências maiores, pode até ter alta de preços”, conclui.

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