Em audiência pública na Câmara Municipal, autoridades retomaram a discussão sobre criação de centro pediátrico
Autoridades em saúde pública retomaram ontem (5), as discussões sobre o cenário epidemiológico vivenciado nas unidades de atendimento de Campo Grande. Além disso, a criação de um hospital pediátrico para atender crianças de diversas regiões, em um único local, voltou a ser pauta, na audiência pública realizada na Câmara Municipal. Fato que chamou atenção foi a confirmação de que a Capital já está vivendo uma tripla epidemia, com as arboviroses, (dengue e chikungunya) e as doenças respiratórias.
Questionado, o médico infectologista da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Julio Croda, confirmou que o alto número de casos deste epidemia se deu pela sazonalidade das arboviroses.
“Já estamos vivendo este momento, principalmente com a população pediátrica. O nosso pico de arboviroses, dengue e chikungunya geralmente acontece agora, no final de abril e estamos vivendo o início do período sazonal dos vírus respiratórios, influenza e covid.
O vírus sincicial respiratóro é mais prevalente nas crianças menores de dois anos. Então, a gente está vivendo o que chamamos de sindemia, que é quando ocorrem duas ou mais epidemias ao mesmo tempo, fazendo com que haja uma sobrecarga neste momento, principalmente nos leitos destinados a crianças, a população pediátrica. As emergências, as enfermarias e os leitos de terapia intensiva também estão lotados”, destacou.
Mesmo assim, o infectologista destacou que um dos motivos que mais contribuíram para este aumento de casos de sintomas respiratórios, principalmente levando em conta que está sendo mais observado em crianças e idosos, está relacionado à baixa adesão às campanhas de vacinação.
“Podemos citar as baixas coberturas vacinais como uma das causas. A gente tem vacina para covid e influenza, ambas tiveram uma cobertura muito baixa. De alguma forma, isso impacta diretamente na superlotação das emergências e das enfermarias dos hospitais”, pontuou o infectologista Julio Croda.
Com a falta de leitos por uma tripla epidemia de dengue e chikungunya, e pelo vírus sincicial respiratório, a secretária-adjunta Rosana Leite afirmou que o melhor caminho a ser adotado agora é a prevenção, tanto das arboviroses, que é o combate ao mosquito da dengue, quanto a prevenção e cuidados básicos para evitar a proliferação do vírus.
“Nós temos, hoje, algumas medidas que estão sendo tomadas em relação ao cenário em que estamos, da alta demanda infantil nas UPAs. Teremos a contratualização dos leitos em hospitais particulares e também o remanejamento de equipes para atender a pediatria das unidades básicas. Mas a questão que dever ser falada é que não podemos pensar em mais leitos, mais médicos, sendo que o melhor caminho é a prevenção, é disso que a população precisa ser conscientizada”, disse Rosana.
O encontro foi proposto para apontar os principais problemas de saúde pública do município e encontrar soluções. Com isso, diversas autoridades municipais de saúde expuseram suas considerações a respeito dessas situações, que englobam desde problemas estruturais até a falta de equipes e principalmente a falta de medicamentos nas unidades de saúde. Entre os assuntos citados, o hospital pediátrico, para a maioria dos presentes, não pareceu ser uma prioridade de urgência para a saúde de Campo Grande.
Inviável financeiramente
O vereador e presidente da Comissão de Saúde, Dr. Vitor Rocha, afirmou, ao jornal O Estado, que a criação de um local como esse, hoje, além de ser inviável financeiramente, acaba tirando o foco de outros problemas que precisam ser sanados com emergência, como a compra de medicamentos, por exemplo.
“Criar um hospital que atenda prioritariamente crianças não é uma solução a ser tomada agora, isso porque não adianta gastar um valor alto, para manter um local, quadro de funcionários e desassistir as outras unidades, ou até mesmo não conseguir manter. Eu imagino que o pensamento deveria ser a criação de um hospital municipal que englobe todas as especialidades, não somente a infantil”.
De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora Vilalba, o projeto de criação de um hospital municipal, bem como a reativação do hospital da Mulher, nas Moreninhas, é um assunto que será discutido com o Estado, no mês de maio.
“Nós estamos pensando em uma alternativa que atenda a todos, a questão do hospital infantil, em uma determinada localidade, desassistirá os outros bairros, a mãe ou pai teria que se deslocar para um lugar distante, para conseguir o atendimento dos filhos, então, eu acho que é muito mais importante equipar os locais que já têm nos bairros, como as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), que atendem à população dos bairros da região, do que criar um local distante e causar uma dificuldade ainda maior de deslocamento”, afirmou.
Já o secretário municipal de Saúde, Sandro Benites, destacou novamente que, mesmo com a saúde enfrentando alguns desafios, a importância de um local exclusivo para o atendimento para as crianças não deixa de ser prioridade.
“Estamos com grandes problemas como estrutura física das unidades, falta de medicamento, mas estamos solucionando um problema por vez. Fizemos o chamamento de uma equipe técnica de mais de 200 profissionais da saúde.
Não consigo entender alguém falar que não precisamos de um hospital, sendo que, na pandemia, o que salvou foram os hospitais. Temos outros problemas, sim, mas uma coisa não exclui a outra”, disse.
Outro ponto observado foi a necessidade de centralizar o atendimento para as crianças. “É desumano, uma pessoa sair de casa às 7h, precisar rodar a cidade inteira e só conseguir atendimento no último posto, às 22h. Nesse centro médico, o atendimento é uma certeza, é um lugar que a mãe chega com a criança e consegue consulta. Vou continuar batalhando para que isso se torne realidade”, destacou Benites.
Por Camila Farias – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul
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