O aumento de preços nos combustíveis anunciado pela Petrobras na quinta-feira (10) rendeu as primeiras mobilizações de caminhoneiros pelo país durante o fim de semana. Movimentos sindicais e entidades de classe da categoria estão tentando negociar o repasse do reajuste para o valor dos fretes como maneira de remediar os prejuízos, mas uma greve geral não foi descartada.
Os movimentos mais significativos foram vistos na Bahia. Na sexta-feira (11), quando inúmeros postos já tinham aumentado o preço da gasolina e do diesel nas bombas, um grupo de caminhoneiros fechou a Avenida Transnordestina próximo à cidade de Feira de Santana. No dia seguinte, foi feito um bloqueio com pneus queimados na BR-116, no sudoeste do estado, que gerou um congestionamento de aproximadamente 15 km.
Assim como os governadores do estados – que afirmam que o ICMS não é o responsável pela escalada de preços – , as entidades de classe consideram que a política de preços adotada pela Petrobras, que estipula o valor dos combustíveis conforme o preço do barril de petróleo no mercado internacional, precisa ser revista.
A Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores) se manifestou sobre o assunto por meio de nota, dizendo que os caminhoneiros são “reféns do mercado financeiro com a variação do dólar somado ao preço do barril de petróleo e, como consequência, esfolaremos os brasileiros que não irão mais conseguir comprar nem gás de cozinha, nem abastecer o carro, ou caminhão, para trabalhar”.
A fala ressalta um problema que está por vir caso o repasse no valor dos fretes seja efetivado, que é a consequente transferência desse custo das empresas para o preço agregado dos produtos. Como o Brasil transporta seus produtos majoritariamente por via rodoviária, isso implicaria em mais gastos para o consumidor em praticamente todos os setores, desde alimentos até bens de consumo.
Temendo um problema mais sério, que seria uma crise de abastecimento, o presidente Jair Bolsonaro pediu no sábado (12) a “compreensão dos caminhoneiros”. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, ele disse: “Alguns falam em greve. Sei disso. Lamento. Espero que não haja”.
O pedido veio após o vazamento de um áudio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para o caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedeco, um dos líderes da greve de 2018, em que parece concordar com uma possível paralisação da classe.
“Estou vendo caminhoneiros parando de carregar para forçar seus embarcadores e transportadores a repassar para os fretes o custo do aumento de diesel. Acho isso muito correto. No fim do ano passado, no MT, um grupo fez isso e deixou de carregar para as tradings. Conseguiram melhores fretes”, afirma Tarcísio no áudio do WhatsApp. Em nota, o ministério posteriormente negou que o titular da pasta tenha apoiado a greve.
Outra medida do governo para tentar controlar a situação foi pedir ajuda ao congresso, que aprovou rapidamente projetos que alteram a incidência do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis. As propostas foram prontamente sancionadas por Bolsonaro e já estão em vigor, o que gerou revolta nos chefes dos Executivo estaduais, que vinham operando com taxas congeladas do imposto há quase um ano.