Mais um trágico caso de feminicídio abalou a cidade de Campo Grande. Brenda Possidonio de Oliveira, de apenas 25 anos, teve sua vida ceifada na noite de ontem, as 23h (29/06) pelo seu namorado convivente, Lyennan Camargo de Mattos Oliveira. A investigação do caso ainda está em andamento.
A delegada Elaine Cristina Benicase trouxe alguns detalhes chocantes sobre o ocorrido, informando que foi criado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) um setor de investigação específico para casos de feminicídio, sob o comando da doutora e delegadaAnalu Lacerda Ferraz.
O autor do crime encontra-se hospitalizado devido a uma tentativa de suicídio, o que torna a obtenção de informações mais complexa. No entanto, a doutora Analu, com base em informações preliminares, revelou como o crime ocorreu.
Segundo ela, uma vizinha de Brenda ouviu gritos de uma criança pedindo socorro. Ao sair, encontrou Brenda ensanguentada na calçada. A vizinha prestou os primeiros socorros, acolheu a criança em sua casa, mas o autor do crime já havia invadido o local. Lyennan, ao tentar se suicidar, ingeriu uma grande quantidade de clonazepam, um medicamento para distúrbios mentais, e também tentou se enforcar. Felizmente, sua família conseguiu resgatá-lo a tempo. Sua irmã, que é enfermeira, prestou os primeiros socorros, e ele foi encaminhado em estado instável para a Santa Casa. A gravidade de seu estado de saúde ainda não foi divulgada.
Lyennan chegou a enviar mensagens para a mãe da vítima, dizendo que amava muito Brenda, mas que eles haviam discutido por ciúmes e, por causa disso, ele havia cometido esse ato. Em uma das mensagens, ele alegou que Brenda teria tentado matá-lo com uma faca, mas a delegada Analu afirmou que Brenda estava com uma faca pequena de serra, enquanto Lyennan portava uma faca desproporcionalmente maior, além de possuir uma força física superior. A delegada acrescentou que ele desferiu uma facada no pescoço dela.
Por enquanto, as investigações não confirmam a alegação de legítima defesa efetuada pelo autor. No local do crime, foram encontrados vestígios de luta, cabelos de Brenda pelo ambiente, cabelos dela nas mãos dele e murros nas paredes. Agora, aguarda-se o depoimento da criança para obter mais informações.
Brenda não tinha histórico de boletins de ocorrência contra seu ex-companheiro. Segundo a vizinha do casal, nunca presenciou discussões entre eles antes do fatídico acontecimento. Brenda havia mudado de residência há cerca de quatro meses. A vizinha ocasionalmente via o casal junto, mas não acompanhava de perto, pois era natural do estado de São Paulo.
Lyennan possui um histórico criminal que inclui furtos, roubos e um boletim de ocorrência por violência doméstica contra a mãe de seu filho, registrado em 2017. A delegada está conduzindo a investigação com sua equipe, ouvindo os vizinhos de Brenda, familiares do autor do crime e a criança, que será encaminhada à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) para prestar um depoimento especial, pois foi testemunha ocular do ocorrido.
A vizinha de Brenda, em seu depoimento, relatou que a criança foi levada para dentro de sua casa para não presenciar o crime, mas perguntava constantemente se havia conseguido salvar a mãe. A criança não possui pai, pois este faleceu devido à COVID-19, e, infelizmente, por um ato abrupto, agora também perdeu a mãe.
A criança saiu gritando pelo bairro, batendo em portões e pedindo socorro para salvar sua mãe. Atualmente, ela está sob os cuidados da avó e ficou com a vizinha até a chegada dos familiares, a qual ficava o tempo todo perguntando para os vizinhos “Eu consegui salvar a minha mãe?”, “quando eu gritei, eu consegui salvar minha mãe?”. O filho de Brenda possui 7 anos de idade e testemunhou todo o crime ocorrido.
A delegada Elaine afirma que este é o quarto caso de feminicídio registrado em Campo Grande neste ano. Embora tenha havido uma queda em relação ao ano anterior, o número de boletins de ocorrência tem aumentado, o que é um aspecto positivo, pois indica que mais mulheres estão dispostas a denunciar. No entanto, ela ressalta a importância de registrar ocorrências e buscar medidas protetivas. Elaine conclama as mulheres a não hesitarem em denunciar qualquer tipo de violência, destacando que as políticas públicas estão sendo desenvolvidas para atender às demandas e garantir a efetividade da Lei Maria da Penha. Infelizmente, no caso de Brenda, assim como em quase 100% dos casos de feminicídio, não havia registro de ocorrência prévio. A delegada enfatiza que é vital identificar sinais de relacionamentos abusivos e buscar ajuda por meio dos órgãos competentes.
É sempre importante buscar auxílio em situações de violência doméstica. Em caso de emergência, ligue para o número de emergência local ou procure a Delegacia de Atendimento à Mulher mais próxima.
Com informações do repórter João Gabriel Vilalba
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