Preocupação é com o aumento de um crime incomum em MS que é o roubo de cargas
A Rota Bioceânica, que está prevista para ser entregue nos próximos anos, não é tratada apenas como uma rodovia que trará progresso e que ligará o país ao Chile, passando por Paraguai e Argentina – Rila (Rota da Integração Latino-Americana). Isso porque, segundo o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, toda nova rodovia traz com ela também a atuação do crime organizado.
“Na verdade toda a rota, toda nova rodovia, toda rodovia pavimentada, toda rodovia que liga uma importante região para outra, a gente tem que fazer um estudo do impacto dela para segurança pública, porque a mesma rodovia que leva o progresso também é utilizada pelo crime organizado para transportar ilícitos ou para prática de crimes”, assegurou.
Inclusive, Videira afirmou que já foi feito um planejamento pela Sejusp e que foi investido R$ 1,5 milhão [sendo R$ 1 milhão do governo e R$ 500 mil da Prefeitura de Porto Murtinho] em instalações de torres ao longo de toda a Rota Bioceânica para melhorar a comunicação feita por meio de rádios de comunicação digital. O trecho que ligará o Brasil à Rota Bioceânica, por Porto Murtinho, é a BR-267.
“Essas torres são para que a Polícia Rodoviária Federal possa instalar antenas para que tenha comunicação segura. Ali também teremos um aumento no tráfego e com isso um maior risco de acidentes. Então tem de ter um policiamento preventivo intenso, até mesmo pela distância entre as cidades. Além do mais precisa ter uma estrutura de atendimento em casos de acidentes, com isso nós já reforçamos o Corpo de Bombeiros em Porto Murtinho e Bela Vista”, garantiu o secretário
Além do transporte de ilícitos por parte dos criminosos, uma das preocupações da segurança pública estadual é também com o crescimento de um crime que até agora é incomum em Mato Grosso do Sul, que é o roubo de cargas. “Uma atenção que a gente tem de ter, até mesmo porque não é comum aqui, é o roubo de cargas, porque muitas cargas valiosas serão transportadas pela Rota Bioceânica”, disse o secretário.
Inclusive, o especialista em segurança, ex-oficial de inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Jarbas Leventi, reiterou justamente que as forças de segurança precisaram minimizar a atuação das organizações criminosas, porque é algo natural que a Rota Bioceânica seja utilizada pela criminalidade.
“O que se deve fazer para minimizar a atuação dessas organizações é dotar a referida rota com meios que possam inibir a atuação de quadrilhas, como Postos de Fiscalização, com a presença das polícias e até mesmo das Forças Armadas, por ser uma rota transnacional, instalação de barreiras permanentes ao longo do percurso, barreiras móveis, equipamentos como radares, drones, etc.”, declarou.
Jarbas, que já participou de algo semelhante na Estrada Internacional, entre Brasil e Paraguai, e na região de Cáceres-MT, na Serra do Mangaval, como especialista em segurança, destacou ainda a importância do Poder Judiciário junto às forças de segurança. “Há de se considerar a participação de órgãos jurídicos para elaboração imediata de mandados de prisão, pois com isso ganha-se tempo, necessário para os levantamentos necessários em termos de chegar aos verdadeiros chefes do crime”, concluiu.
Obras que integram o projeto
Obras de infraestrutura na região de fronteira preparam o Estado para escoar a produção pela Rota Bioceânica, que está se tornando uma realidade com a construção da ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, no Paraguai.
Além da pavimentação da MS-382, que vai facilitar o acesso entre Bonito, Guia Lopes da Laguna e Ponta Porã, a região conta com a implantação da MS-270, de Copo Sujo até a Cabeceira do Apa no distrito de Ponta Porã.
De acordo com o governo, a previsão de entrega da MS-270 é janeiro de 2023. Ao todo são 35,56 km de extensão, e estima-se um investimento de R$ 45,358 milhões.
O projeto atende uma demanda antiga de moradores da região e, além disso, se junta à Rota Bioceânica, que está se tornando realidade com a construção da ponte.
Consolidada como o portal de entrada da Rota Bioceânica e prevista para ser entregue até 2024, na ponte serão investidos R$ 466,8 milhões, com previsão de gerar 700 empregos.
Polícia Federal espera apreender um volume recorde de cocaína este ano
Antes mesmo de a nova rodovia entrar em funcionamento como mais uma rota a ser utilizada pelas organizações criminosas, a Polícia Federal já espera apreender um volume recorde de cocaína neste ano. Dados da instituição apontam que 7,4 toneladas foram apreendidas de janeiro a setembro no Estado em 2022. Nos últimos sete anos foram 2 mil toneladas de drogas apreendidas.
No Brasil, o recorde atual foi registrado em 2019, quando foram apreendidas 104 toneladas de cocaína. Em 2020 e 2021, o número girou em torno de 90 toneladas. O montante inclui todas as apreensões feitas pela PF e outras autoridades públicas – como a Receita Federal e a Polícia Rodoviária Federal –, que arrecadaram a droga e entregaram à PF.
Mato Grosso do Sul tem se tornado referência no combate ao tráfico de drogas e crime organizado, principalmente na faixa da fronteira. E esse aumento pode estar relacionado, justamente, a maior utilização das rodovias pelos criminosos desde que os radares para interceptação de aeronaves instalados no Estado entraram em funcionamento.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, apenas de janeiro a julho de 2022, foram 175,7 toneladas de drogas retiradas de circulação pelas forças estaduais.
Por Rafaela Alves – Jornal O Estado do MS.
Leia a edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.
Confira outras matérias sobre a Rota Bioceânica.