Rose define como principal desafio poder levar, à mesa de negociação, a conversa com demais agentes políticos de todos os Estados
Tomou posse, na última terça-feira (9) como superintendente da Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), a ex-deputada Rose Modesto. Atuando em Brasília (DF), Rose passará a exercer a função de ajudar os Estados com recursos e desenvolvimento de projetos que incluam empresas e municípios. “Estamos fazendo um planejamento de imediato, a médio e longo prazo. Já deu para ter uma noção, tive a oportunidade de conversar com o MIDR (Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional). Falei com os três secretários da pasta sobre as ações que vamos trabalhar, em conjunto. Então, foi uma semana de muito planejamento e de atendimento a algumas agendas, inclusive com parlamentares de Mato Grosso do Sul, de Goiás e de Mato Grosso”, informou, em visita ao jornal O Estado.
Desde sua criação, em 1967, a autarquia, atualmente vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), teve 11 superintendentes, entre eles Ramez Tebet e o último Nelson Fraga. O órgão chegou a ser comandado, provisoriamente, pela chefe de gabinete Franciane Nascimento, de janeiro deste ano até maio. Rose Modesto é a primeira mulher a ser dirigente da autarquia. A pasta tem orçamento de aproximadamente R$ 10,5 bilhões. O maior desafio será distribuir o fundo de forma justa, oferecendo a mesma oportunidade aos três Estados.
“A gente precisa trabalhar esse dinheiro dos fundos e, principalmente, lutar pela equidade, em todos os Estados. Hoje, o Mato Grosso do Sul com 23%, abaixo de Goiás e Mato Grosso. Então, eu acho que ter uma superintendente daqui nos leva para a mesa com condição de conversar com os demais agentes públicos”, espera.
Rose Modesto coleciona anos de experiência política, já que foi vereadora, vice-governadora de Mato Grosso do Sul e deputada federal. Na eleição de 2020, concorreu ao governo de MS, terminando como a quarta mais votada. Ela chega ao posto após ser avalizada pelo coordenador da bancada federal em MS, Vander Loubet (PT). Rose também teve apoio do presidente do União Brasil, Luciano Bivar, e do presidente da Câmara, Arthur Lira, o primeiro aliado eleitoral, a segunda pessoa de quem Rose se aproximou, durante seu mandato de deputada.
“Num momento como esse, independente de questões partidárias, de pensamentos, ideias, questão ideológica, é preciso entender que passou o processo da eleição, e agora é hora de nos unir, para vermos o Brasil, o Centro-Oeste e o Mato Grosso do Sul se desenvolverem. Por exemplo, o Bolsonaro não foi o meu candidato a presidente, na minha primeira eleição. Eu me elegi deputada federal sem ele ter esse papel e eu votei 90% das pautas apoiando o governo, porque eu queria ver dar certo. Agora, não é diferente”, afirma.
O Estado: O novo governo assumiu em janeiro e somente agora, em maio, saiu a nomeação para comandar a Sudeco. A senhora já tomou conta das informações sobre a superintendência?
Rose Modesto: Na verdade, eu já conhecia um pouco da estrutura da Sudeco desde quando fui vice- -governadora (de Mato Grosso do Sul). A gente teve várias ações, trabalhando com a equipe da Sudeco desde 2015 e 2016. Essa última semana foi de planejamento com as nossas equipes, com as três diretorias responsáveis por todo o trabalho que acontece, lá dentro. Já tive uma oficina com os colaboradores e uma participação com a UnB, para discutir sobre o Plano Regional de Desenvolvimento do Centro-Oeste, que é, na verdade, o nosso norte, para todas as ações que vão acontecer. Então, foi uma semana de muito trabalho, já deu para entender bem quais são as metas para o ano de 2023 e estamos planejando até para 2027.
O Estado: Nesses primeiros dias, qual tem sido a sua linha de atuação, à frente da Sudeco?
Rose Modesto: Estamos fazendo um planejamento de imediato, a médio e longo prazo. Já deu para ter uma noção. Tive a oportunidade de conversar com o MIDR (Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional). Falei com os três secretários da pasta sobre as ações que vamos trabalhar, em conjunto. Então, foi uma semana de muito planejamento e de atendimento a algumas agendas, inclusive com parlamentares de Mato Grosso do Sul, de Goiás e de Mato Grosso.
O Estado: Qual o papel real da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste?
Rose Modesto: A Sudeco é uma superintendência, uma instituição federal que trabalha focada no desenvolvimento do Centro-Oeste. Então, trabalha para Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e o Distrito Federal. Esse desenvolvimento passa pelas ações que vão chegar no setor empresarial. O foco dela é no pequeno, no médio empresário e também no empreendedorismo rural, por meio dos fundos de investimento. Por exemplo, um empresário que tem o sonho de abrir um salão de beleza, pode ter acesso a um financiamento via FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste), que é um fundo, um dinheiro público com um juro subsidiado pelo governo federal. A pessoa pode buscar esse investimento para abrir seu próprio negócio. Então, quem quer ter um negócio próprio ou ampliar o que já tem pode buscar esse recurso pela Sudeco, por meio do Banco do Brasil e de outros bancos que são parceiros também, na articulação. Dentro disso, a dona de casa e, às vezes, aquele senhor que está precisando de um emprego, é atingido positivamente, pois esse fomento para o desenvolvimento econômico gera as oportunidades. Aos municípios e aos governos que trabalham diretamente com a Sudeco, há a conquista de investimentos, a exemplo disso, tivemos, nessa semana, a visita do senador Nelsinho Trad (PSD), da bancada do Mato Grosso do Sul e que está investindo R$ 14 milhões para alguns projetos de infraestrutura, para vários municípios do Estado. Ele levou esses projetos e junto à Sudeco e garantiu parte do recurso para os projetos, que vão impactar diretamente a vida da população.
O Estado: A senhora vai trabalhar com qual estimativa de verba?
Rose Modesto: Nós temos, hoje, R$ 10,5 bilhões para o Centro- -Oeste. Para o Mato Grosso do Sul, é um montante de R$ 2,3 bilhões, que serão investidos aqui, no nosso Estado.
O Estado: Como será a aplicação desses recursos, em quais áreas e Estados?
Rose Modesto: Os recursos serão aplicados em Mato Grosso do Sul como em todos os Estados que compõem o Centro-Oeste. No agro e nas empresas, nós temos também o FCO estudantil, que envolve a educação e temos os projetos de sustentabilidade, para trabalhar especificamente nas regiões pantaneiras. Então, temos esses recursos para trabalhar, por meio dos fundos e temos também as emendas dos parlamentares, que serão trabalhadas via Sudeco. Esses valores já vão ser executados em 2023 e essa é a média do nosso orçamento. Eu tive uma agenda com o vice-presidente nacional do Banco do Brasil, na quinta-feira (11), em que discutimos a possibilidade de captar recursos de outros fundos, não só dos fundos constitucionais, mas também dos internacionais e tivemos a resposta de que o banco tem toda a disposição para aumentar esse recurso. Com isso, poderemos trabalhar ainda mais na área econômica, social, ambiental, cultural e educacional do Centro- -Oeste. O nosso pedido foi esse, já que o Banco do Brasil é a instituição que faz a gestão da maior parte do FCO da Sudeco, dispondo de quase 90%. Nós queremos que o Banco do Brasil também abra a possibilidade.
O Estado: O fato de Mato Grosso do Sul ter a superintendente da Sudeco, de alguma maneira, trará privilégio ao Estado?
Rose Modesto: Eu nem diria que a palavra é privilégio, mas diria que vamos buscar ter o mesmo recurso que está chegando em outros Estados. Precisamos trabalhar esse dinheiro dos fundos e, principalmente, lutar pela equidade em todos os Estados. Hoje, o Mato Grosso fica com 33%, Goiás com 33% e Mato Grosso do Sul com 23%, o restante 11% fica para o Distrito Federal, um índice menor por ser capital federal e já ter mais verbas. . Então, eu acho que ter uma superintendente daqui nos leva para a mesa com condição de conversar com os demais agentes públicos, visando melhorar os investimentos para o Mato Grosso do Sul.
O Estado: Com quantos colaboradores a senhora conta, na Sudeco, sob seu comando?
Rose Modesto: Estamos, até o momento, trabalhando com a equipe que já estava lá. Tem uma diretoria e algumas coordenadorias vagas, mas que ainda tem pessoas respondendo. Vão chegar novos nomes nos próximos dias, para poder contribuir com esse trabalho, da Sudeco. Hoje, temos, em média, entre servidores de carreira e terceirizados, cerca de 149 membros.
O Estado: Já começaram a surgir demandas de prefeituras, a partir de sua posse?
Rose Modesto: Sim. Temos vários prefeitos marcando reunião. Na próxima semana, vamos receber uma comitiva do prefeito de Brasilândia, também vamos receber o prefeito de Nioaque e o presidente da Assomasul,Valdir Couto Junior. Tem várias agendas de pedidos, inclusive, vou receber também o prefeito de Ivinhema, que vai estar conosco, daqui alguns dias. Eu recebi também o prefeito de Dourados, o Alan Guedes; o prefeito Gustavo, de Bandeirantes. Então, como a Sudeco tem esses convênios, que são executados diretamente com os municípios, é comum termos uma agenda bem forte com os prefeitos, com os vereadores e com toda a bancada federal. São 444 municípios para atendermos.
O Estado: A sua indicação envolveu o apoio do União Brasil e também do PT de MS, pelo deputado Vander Loubet. Isso, de alguma forma, trouxe desgaste à sua imagem política?
Rose Modesto: Não. Eu penso que quem ama o Mato Grosso do Sul e, principalmente, sabe da importância da região Centro- -Oeste para o Brasil, para a nossa economia, entende. Num momento como esse, independente de questões partidárias, de pensamentos, ideias, questões ideológicas, é preciso entender que já passou o processo de eleição, e agora é a hora de nos unir para vermos o Brasil, o Centro-Oeste e o Mato Grosso do Sul se desenvolverem. Por exemplo, o Bolsonaro não foi o meu candidato a presidente, na minha primeira eleição. Eu me elegi deputada federal sem ele ter sido meu candidato e votei em 90% das pautas apoiando o governo, porque eu queria ver dar certo. Agora, não é diferente. O União Brasil teve uma candidata a presidente e nunca fiz nada escondido de ninguém. Quando o União Brasil indica o meu nome para essa pasta e o governo federal, mesmo sabendo que, naquela eleição o meu partido não estava junto com o presidente Lula, mas recebe o meu nome, aumenta a minha responsabilidade, de dar o meu melhor para que o governo vá bem. Quando isso acontece, quem vai bem é o Brasil. É com esse sentimento que estou.
O Estado: A disputa pela Prefeitura de Campo Grande ainda é uma meta?
Rose Modesto: Eu confesso para você que meu foco hoje, e 99% do tempo, quando eu falo dessa questão de vida pública, de política está direcionado no meu trabalho na Sudeco. É uma responsabilidade muito grande que eu acabo de assumir. Agora, é natural que o processo eleitoral esteja também sempre caminhando próximo. O assunto política é muito dinâmico, porém isso está longe. Tem pouco mais de um ano para iniciar o processo eleitoral. Agora, meu foco é a Sudeco, é o trabalho que eu posso fazer pelo Mato Grosso do Sul e pelo Centro-Oeste, aqui. A eleição, na hora certa nós vamos discutir. Eu fico feliz de ver meu nome sendo lembrado em pesquisas que estão sendo realizadas. Ser candidata ou caminhar com alguém, as duas coisas são possíveis, mas eu acho que a discussão e a decisão mais madura é para o tempo certo, que vai ser o próximo ano.
O Estado: Toda confusão gerada na direção executiva estadual do União Brasil, em MS, onde até o grupo que lá está teria te processado… como a senhora analisa isso, que ocorreu?
Rose Modesto: Na verdade, eu vi alguma coisa de forma muito vaga, mas o que acontece é que, como eu nem sou parte, não entendi muito bem esse possível processo que o grupo da senadora Soraya está tentando abrir. Na verdade, apesar desse assunto na minha avaliação já ter ficado para trás, quando o grupo do União me convida e fala ‘olha, nós não podemos aceitar que a decisão de quem vai presidir o partido seja feita assim, no calar da noite’, sem chamar um processo divulgado para todo mundo, sem a composição correta, porque eles tinham destituído a executiva sem haver o processo de eleição. Você não pode tirar ninguém da executiva sem que tenha um fato relevante. E não houve isso. Foram 17 pessoas inativadas. Não foi só eu, então, naquele momento, quando o grupo me chama e fala: ‘você tem que colocar teu nome’ e a nacional valida, dizendo que precisa ter uma convenção legítima, respeitando o estatuto, [eu aceito]. Foi por isso que eu fui no dia da convenção que a nacional chamou, porque essa, ninguém derrubou. Ela se manteve no dia 29 de abril e o partido me elegeu. Agora, o restante da situação é sub judice.
O Estado: Essa confusão pode gerar desconforto, agora que a senhora está à frente da Sudeco?
Rose Modesto: O que eu defino dessa história toda é que devo deixar a Justiça decidir. Vou seguir minha vida, trabalhando pela Sudeco e pelos sul-mato-grossenses.
O Estado: No Congresso, existe um certo embate a respeito da participação efetiva do União Brasil como base do governo Lula. Isso poderá ter um episódio futuro, que possa ser desfavorável ao seu nome?
Rose Modesto: Eu acredito que não. Penso assim, você nunca agrada todo mundo. E que bom que é desse jeito, né? Porque eu acho que a divergência de pensamento é saudável, inclusive para o processo democrático. Quem me conhece sabe, a minha história fala por mim, porque falar é fácil, agora, as ações do dia a dia são outra história. Passado o processo eleitoral, o que a gente tem que olhar é quais são as lideranças que estão procurando ajudar o Brasil, quem é que está trabalhando e enxergando o Brasil e que o Estado que vive, seja aqui, em Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul ou na Bahia. A nossa nação, acima de tudo, é maior do que as discussões partidárias e ideológicas. É com esse pensamento que eu assumi a responsabilidade. Vou trabalhar muito para que o governo dê certo. Sou grata ao governo federal, que me recebe nesse momento, que soube, inclusive, que eu não estava num palanque do governo Lula, mas me dá a oportunidade de trabalhar. Quero agradecer a nossa bancada, ao deputado Vander Loubet, que é o líder da bancada e à deputada Camila Jara. Os dois são do PT e sabem que eu não estive aqui, na campanha do Lula, mas me conhecem e sabem que vou dar o meu melhor, com a equipe, para o trabalho ser muito bem avaliado, aqui no Centro-Oeste, com as ações que vamos entregar. Quando chegar o processo eleitoral, acho que o eleitor vai julgar mais pelo resultado que cada político está entregando do que pelas bandeiras políticas que cada um está levantando. Tenho esse pensamento.
Por Rayani Santa Cruz e Alberto Gonçalves – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.
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