“Isso vai perdurar até que haja um equilíbrio entre a produção e o comércio”, destaca Conselho de Farmácia
O CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul) alegou que a cada dia um novo medicamento entra na lista dos que estão em falta, seja no sistema ambulatorial [farmácias e drogarias] ou no sistema hospitalar. O Conselho, no Estado, não tem o número de remédios que estão em falta, mas, segundo o presidente do órgão, Flávio Shinzato, o problema vem sendo observado desde o início da pandemia.
“Houve falta de medicamentos e outros insumos em razão da alta na demanda e na automedicação por parte da população. E mesmo após a pandemia veio outros fatores globais como a guerra, quebra de empresas que forneciam algum tipo de princípio ativo e tudo isso vem refletindo cada vez mais”, assegurou.
O vice-presidente do CRF-MS, Renato Finotti Júnior, disse ao jornal O Estado que no início da crise faltava dipirona e soro fisiológico, no entanto atualmente a lista é muito maior dos fármacos que estão faltando não só nas farmácias, mas em hospitais também.
“A gente tem problema com o cetoprofeno, diclofenaco, diazepam, alguns anestésicos. Então esse é o efeito em cadeia de vários medicamentos que afeta muito pesadamente o sistema ambulatorial e principalmente o sistema hospitalar. Estamos realmente muito preocupados com esse problema, mas infelizmente não temos uma resposta sobre a solução desse problema a curto prazo”, esclareceu.
Inclusive, o presidente do Conselho de Farmácia reiterou que esse problema da falta de medicamentos vai se estender por um bom tempo até que tenha um equilíbrio entre a produção e o comércio. “Principalmente na produção com recebimento de matérias-primas, de acordo com a demanda. Ainda não está tendo esse equilíbrio na balança, por isso há essa falta generalizada de medicamentos e insumos”, pontuou.
Para o gerente de faturamento Murillo Cardozo, 25, a situação principalmente nas farmácias das unidades de saúde de Campo Grande é sempre a mesma. Segundo ele, a falta de medicamentos não é recente e sempre que vai em busca de atendimento, vai ciente de que terá de comprar a medicação.
“Fui na semana passada em busca de omeprazol para tratar gastrite na unidade do Leblon, mas me informaram que infelizmente no SUS está em falta e o farmacêutico me falou que o único jeito seria comprando. Então tive de comprar; paguei R$ 20 na caixa com 14 comprimidos. Sei que o valor é pequeno, mas e quem não tem? Como fica?”, questionou.
Vale relembrar, como já noticiado pelo jornal O Estado, que somente neste ano, até abril, pelo menos 65 licitações da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) para compra de medicamentos e insumos deram desertas, ou seja, não tiveram interessados. O Estado também passa pela mesma situação e, segundo o secretário de Estado de Saúde, Flávio Britto, “a falta de medicamentos é umas das piores sequelas da pandemia”, declarou anteriormente.
Além disso, o vice-presidente Conselho em Mato Grosso do Sul pontuou que a situação preocupa, uma vez que apresenta a cada dia resultados piores. “Mesmo essa cadeia de distribuição não sendo uma responsabilidade do Conselho Regional e Federal de Farmácia, porque a atividade fim do Conselho é a fiscalização da profissão farmacêutica, mas a gente vem se preocupando, procurando informações sobre as resoluções desses problemas mas cada dia um novo medicamento entra na lista dos que estão em falta”, disse.
No estado vizinho, Paraná, conforme a “Folha de Londrina”, o CRF-PR (Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná) apontou para uma crise de abastecimento de 42 medicamentos no Estado. O órgão alegou ainda ao jornal local que a falta de insumos está aliada aos problemas de lockdown na China e ao direcionamento de fábricas de remédios contra doenças respiratórias durante a pandemia da COVID-19.
SISTEMA AMBULATORIAL
A equipe do jornal O Estado foi até algumas drogarias da Capital e o principal medicamento em falta é a amoxicilina com clavulanato. Na lista ainda estão os antibióticos, dipirona, desloratadina, fármacos para inalação e insumos, como soro fisiológico, também utilizado para inalação e lavagem nasal.
De acordo com uma farmacêutica que preferiu não se identificar, as receitas, principalmente as de pediatria, já estão vindo com duas opções de medicamentos. “O médico já prescreve dois antibióticos, por exemplo para ver o que o responsável vai encontrar. Isso porque a azitromicina, outro carro-chefe da pediatria, como a amoxicilina com clavulanato, está em falta em muitas farmácias e drogarias”, assegurou.
Na rede de Drogarias Freire, os medicamentos não estão em falta, no entanto a farmacêutica da unidade, Jéssica Carvalho, 30, afirmou que sabe do problema de desabastecimento dos fármacos. “Está faltando o princípio ativo da amoxicilina com clavulanato”, destacou.
Texto: Rafaela Alves – Jornal O Estado MS.
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