A Justiça de Mato Grosso do Sul concedeu prisão domiciliar ao ex-deputado estadual Roberto Razuk, de 84 anos, um dia após sua detenção na quarta fase da Operação Successione. A decisão, assinada pela juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, levou em consideração o estado de saúde “extremamente debilitado” do investigado. O Ministério Público deu parecer favorável ao pedido.
Razuk havia sido preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na manhã de terça-feira (25), em Dourados, a 251 quilômetros de Campo Grande. A operação apura a atuação de uma organização criminosa ligada à exploração de jogos ilegais, corrupção, violação de sigilo profissional e outros crimes, que segundo o MP disputava espaço no controle da jogatina no Estado.
De acordo com a defesa, o ex-deputado passou recentemente por uma cirurgia para retirada de um tumor e enfrenta comorbidades graves, além de depender de oxigênio, quadro que o colocaria em risco iminente de morte caso continuasse em ambiente prisional. Diante das circunstâncias, a juíza autorizou a prisão domiciliar com uso obrigatório de tornozeleira eletrônica e cumprimento de medidas cautelares, entre elas a proibição de contato com outros investigados.
Os advogados João Arnar e Leonardo Ribeiro afirmaram que ainda não tiveram acesso integral aos autos do processo, que tramita em segredo de Justiça. Segundo eles, só será possível avaliar plenamente as acusações quando o conteúdo for disponibilizado às partes. “Assim que houver ciência integral dos autos, a defesa emitirá manifestação formal”, informaram em nota divulgada na quarta-feira.
Operação Successione
A quarta fase da operação deflagrada pelo Gaeco cumpriu 20 mandados de prisão preventiva e 27 ordens de busca e apreensão em Mato Grosso do Sul e outros três estados. Além da casa de Razuk, foram alvo endereços em Campo Grande, Dourados, Corumbá, Maracaju e Ponta Porã, além de cidades do Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
A investigação mira uma organização criminosa que, segundo o Ministério Público, atuava com violência e buscava ocupar o espaço deixado após a Operação Omertà, que desarticulou o esquema liderado pela família Name, tradicional no comando do jogo do bicho em Campo Grande. Fases anteriores da Successione apontavam envolvimento em corrupção, roubos com arma de fogo e uso de força armada para controlar a exploração clandestina.
Entre os alvos da operação de terça-feira estão os filhos de Razuk, Jorge e Rafael, além do advogado Rhiad Abdulahad. Equipes também cumpriram mandado na sede da Criativa Technology Ltda., em Dourados. Outro nome citado é o de Marco Aurélio Horta, chefe de gabinete do deputado estadual Neno Razuk (PL) e funcionário antigo da família, que foi conduzido à Cepol, em Campo Grande. O parlamentar não é alvo nesta fase da investigação.
Histórico de prisões
Preso pela terceira vez na carreira, Roberto Razuk é um dos personagens mais emblemáticos da história da jogatina em Mato Grosso do Sul. Ex-deputado estadual por dois mandatos, teve forte influência nos anos de expansão do jogo do bicho em Dourados e na região de fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, onde chegou a ser sócio de um cassino no lado paraguaio. Sua família é considerada uma das mais tradicionais da política no sul do Estado.
Nos anos 1990, Razuk protagonizou um dos casos de maior repercussão no Estado ao ser acusado de usar documentos falsos para obter um empréstimo de R$ 3,5 milhões no Banco do Brasil. A fazenda oferecida como garantia, chamada Nabileque, seria inexistente — episódio que originou a expressão irônica de que a propriedade ficava “no segundo andar”. Ele foi condenado em 2003 pela Justiça Federal e cumpriu pena no regime semiaberto.
Em 2007, voltou a ser preso durante a Operação Xeque-Mate, que investigou a exploração de caça-níquel e jogos ilegais em Mato Grosso do Sul. As provas dessa operação foram anuladas pelo Tribunal de Justiça em 2014.
Agora, aos 84 anos e em condição de saúde frágil, Razuk volta ao centro de uma grande investigação que reacende a disputa histórica pelo controle da jogatina no Estado.
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